Espêice Fia

Tempero em dia

0

 

Jantar de confraternização na Ilha do Guaiamum, Recife (PE). Foto: Arquivo pessoal Fábio Gouveia.

Luel Felipe ataca as ondas do Borete (PE). Foto: Arquivo pessoal Fábio Gouveia.

Fia, Fernando Bronzeado e Otávio Lima em João Pessoa (PB). Foto: Arquivo pessoal Fábio Gouveia.

Todo nordestino que se preze, retirante como for, precisa sempre recuperar seus temperos, ou seja, passar pelos picos de origem de vez em quando. Com uma saudade da bexiga de tudo e de todos, na semana passada dei um rasante “a jatis” com a “radio patroa” na Mangue Town e em Johnny People City – Recife e João Pessoa, respectivamente.

 

Clique aqui para ver as fotos

 

Na real, meu projeto de vida era sempre passear pelo Nordeste quando o frio apertasse aqui no sul. Como ainda não tinha ido nesta temporada, aproveitei uma oportunidade de reencontro de uma turma boa que recentemente esteve em uma boat trip nas ilhas Mentawai. A barca foi  no começo de outubro, a bordo do Star Koat, operado pela Mentawai Surf Charters. E o encontro já estava marcado.

A princípio era um churrasco na casa de um dos caras da turma, mas acabamos no restaurante Ilha do Guaiamum, na praia de Boa Viagem. Rato Fernandes, Paulo Smurf, Leo Maranhão, Alan Gueiros, Bruno Pig e Roberto Lisboa foram os componentes da barca. No jantar, faltaram Gabriel Farias e Samuel Igo, que havia vencido o prêmio Greenish com o melhor aéreo e ganhado a viagem “grátis”. Gabriel, no Hawaii, e Samuca, no Recreio dos Bandeirantes, foram substituídos no jantar por dois caras que queriam ter ido na barca: Luizito de Almeida e Nino Boy, dois fissurados surfistas, tais como todos os outros citados.

Fazia tempo que não comia um guaiamum. Eu me deliciei, mas confesso que fiquei ainda com água na boca, pois a unidade custava R$ 18. “Êita “bichin” caro da bexiga!”, pensei quando estava escolhendo no aquário seco. E não eram nem dos grandes! No geral, a confraternização foi massa, pena que o capitão do Star Koat, Kadu Maia, não estava conosco.

 

De qualquer forma, o cara já está é de férias no Marrocos, já que a temporada da maioria das boat trips está se encerrando. No Recife, apesar de existir algumas boas bancadas, não é possível surfar na cidade, já que existem os perigos eminentes de ataques de tubarão, então, como sempre, me piquei pro litoral sul, afim de dar o banho e reencontrar os amigos em Maracaípe.

Em “Maraca”, as ondas não estavam tão boas. Como mudou aquela praia. O fundo mudou, parece que tá raso no fundo e fundo antes da beira. A onda vem emparedando, sem quebrar direito, e estoura sem muita formação quando encontra o banco raso, depois de passar pela parte mais funda. Antigamente, qualquer swellzinho vinha com ondas muito divertidas, abrindo bastante. Acho que os quebra-mares nas praias mais ao sul comeram um pouco do Pontal de Maracaípe, logo penso que mudou realmente o fundo.

Bom, também não estou mais lá pra presenciar todos os dias, aliás ainda rolam uns bons, mas certamente sem a constância alinhada do passado. Tudo ali mudou, muitas construções, hotéis, pousadas, etc. O caminho até lá também: porto gigante, refinaria e trânsito demasiado.

Em Maracaípe, encontrei parte do quinteto fantástico. Bruno Rodrigues e Luel Felipe, que, aliás, foi surfar comigo na praia do Borete, vizinha ao Cupe. Por ali, também Atamai, irmão do Halley Batista, que estava no sul atrás dos eventos, pois está na corrida pelo título brasileiro. Arruma prancha pra cá, outras coisas acolá e Atamai não pode surfar, pois tomava conta da escola de surf e locação de pranchas que os irmãos têm, juntamente com a irmã Atalanta Batista, fera no longboard.

Já no Borete, a condição estava razoável. O vento lateral não atrapalhava muito. As ondas estavam com meio metro, mas com força. Luel fez a mala, mandando vários aéreos e rasgadas fortes, peculiar no seu surf. Tô ficando “véio” mesmo, pois fui surfar nesta barca com o sobrinho Henrique Roichman, filho do cunhado Alexandre “Bode” Roichman.

Bode é ex-surfista profissional e também surfou muito de bodyboard no passado. Ganhou eventos e bateu grandes nomes de ambas modalidades, acho que incluindo aí os legends  Xandinho (bodyboarder já falecido) e Picuruta Salazar, em evento brasileiro e em um evento do Circuito Paulista da época, em meados dos anos 80, respectivamente.

A família Roichman está gerando mais praticantes no surf. Além de Alexandre e da minha esposa Elka, a tia deles, Sônia Roichman, foi uma das primeiras surfistas do Nordeste e do Brasil. O cunhado, que no passado tinha fábrica de pranchas, reabriu suas duas marcas, a Fúria e a SeaDreams, que na época – final dos 80 – tinha parceria com Ricardo Marroquim. A fábrica fica em Barra de Jangada, próxima à nova ponte do Paiva, que dá passagem para as ondas do Nordestão, Itapuama, Laje, Pedra Preta, Gaibu, etc.

Do lado da Fúria fica a Custom, de Rogério e Romulo Bastos. Uma visita por lá e troca de informações também foram inevitáveis. Além de me patrocinar por muito tempo com a marca, Rogério foi minha inspiração para virar shaper. Involuntariamente, tive muitas aulas quando ele confeccionava minhas pranchas no passado.

Do Recife, casa da sogra, pista pra casa de “painho e mainha”! Pit stop na casa de Otávio Lima! Companhia de Fernando Bronzeado, surfista e ex-fotógrafo de surf, agora fotografando o mundo da moda, casamentos e os cambaus (outro dia o cabra estava fazendo book lá na Capadócia! Vish, que chique!).

Comi ali uma caranguejada de primeira! Lambi os beiços e, o melhor, longe dos R$ 18 do guaiamum! (risos). O tempo passou rápido, mas ainda deu pra surfar em praia Bela só com a esposa. Estava maral – normal, já não é mais inverno, quando os terrais predominam nas manhãs -, mas a onda estava forte o suficiente para que nos divertíssemos nos 70 minutos da caída. O visual ali é incrível e matei a saudade também dos familiares, em almoços e jantares.

Vish, eu que já tô “rolicinho”, ganhei mais uns dois quilos. O pôr-do-sol do Jacaré, em Cabedelo, continua incrível, igual ao passado, quando perambulávamos por aquelas bandas em brincadeiras de crianças. O tempo passa. A vida segue. Próxima parada, Hawaii!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.