Uma temporada seguida de outra temporada que teve influência do fenômeno El Niño sempre irá receber comparações que, em sua maioria, acabarão sendo sempre inferiores. Ou pelo menos este tem sido o falatório das últimas que assim se sucederam e desta atual.
Estive nas ilhas em janeiro e fevereiro de 2016, e nos 28 dias em que passei no North Shore peguei cinco swells de grandes proporções. Incrível, as pranchas mais usadas foram acima de 7 pés, mas, em muitas vezes, a minha 9’6”.
Sempre com a expectativa grande, havia desembarcado para esta temporada no dia 22 de novembro passado. Para a minha infelicidade, acabei perdendo aquele swell que bombou durante o QS de Haleiwa. Mas às vezes, chegar com mar pequeno é bom pra descansar da viagem e ir aprimorando o equipamento. Foi isso que fiz, mas o meu intuito também foi de estar ali para acompanhar o meu filho Ian e sua possível classificação para o CT de 2017.
Haleiwa já havia sido um grande evento, onde brilhou a estrela do mais novo campeão mundial, o havaiano Jonh Jonh Florence. O galeguinho estava “on fire”, quebrou! E quem não se garantiu ali, sobrou em adrenalina para Sunset Beach. Ian, Bino, Jessé, Tomas e Deivid Silva eram os mais prováveis para o ingresso.
Por gostar de Sunset Point e de estar hospedado logo ali, estava sempre acompanhando os treinos da galera. Via Jessé, Bino e Jadson quebrando sempre a vala. Alguns dias de espera por condições favoráveis só aumentava a expectativa de todos. Infelizmente para Tomas, uma contusão acabou o atrapalhando. Já para os demais, a loucura foi por parte dos adversários que estavam atrás no ranking, pois todos “desimbestaram” na corrida final avançando as fases.
No fim, Ian foi o único da lista dos não CT’s que se garantiram na elite em Sunset, e o atleta da elite, o raçudo Jadson, manteve-se no tour por ali. Que adrenalina! Adrenalina essa que foi bastante comemorada pelos que conseguiram seus objetivos.
Durante as finais em Sunset, rolou um Pipe legal. Alguns tops já ali treinando forte. Em duas horas consegui pegar três ondas mais no rabo. Uma boa, uma razoável e uma “retoside saideira”. Bom, tava na minha média. Mas o bom mesmo foi surfar Sunset com uma 8’8” ao fim daquela tarde, na companhia de Ricardo Bocão, Rico de Souza e seu filho mais novo Patrik. O tom escuro das nuvens chuvosas deu lugar a uma luz rosa-alaranjada como nunca vimos igual. Era um terral clean, azeite, com o mais puro espetáculo da mãe natureza. Agradecemos ao criador do universo!
Victor Bernardo mandou muito bem na triagem do Pipe Pro e quase se classifica pro evento principal. Está em um ótimo caminho. Seguidos dias ruins fizeram o evento ficar parado. Aéreos de Medina e de Italo era o que víamos em fotos e videos desses dias menores. Com o título já decidido, a briga era pela Triple Crown e pra se segurar no ranking. Michel Bourez surfou forte, como de costume. Destaque para Kanoa Igarashi. Esse foi seu ano. De quebra, Ezekiel Lau conseguiu sua classificação. Imagino sua angústia por mais alguns pares de dias depois do evento de Sunset. Ficamos na torcida agora pra que Bino Lopes consiga entrar em todas, mas no mínimo deverá correr algumas provas do CT nesta próxima temporada.
Alguns bons dias em Backdoor, OTW e Rocky Point, onde, em um destes dias, até Kelly Slater apareceu por lá entubando profundo. Alguns dias surfados ali também na companhia de Junior Faria, que, estava quebrando de biquilha, assim como Marcelo Trekinho, que depois das sessions arrebentava nos vídeos do Instagram. Empolgação máxima, comédia pura!
Tive a impressão que este ano estava um pouco menos crowdeado. Claro, em Pipe e Backdoor era sempre aquela disputa, mas, no geral, estava mais tranquilo. Laniakea, Jockos, Haleiwa e Sunset bombaram também. Uma molecada nova fazia parte desta temporada. Ricardinho e Filipe Toledo desovaram dois destes na casa em que eu estava hospedado – Matheus Lima e Diego Aguiar. Dois moleques legais e com surfe no pé. Uma maravilha estarem ali com pouca idade. Uriel Posaro, Wallace Vasco, Lucas Vicente, Vitor Ferreira e mais alguns perambulavam entre os picos e ciclovia do North Shore. Aliás, nunca pedalei tanto por ali. Com duas bikes compradas na black friday por apenas 58 dólares, eu e minha esposa ficávamos em um vai e vem danado. Ficar hospedado ali tem suas vantagens. Já sabia disso, mas só vim concretizar depois de “véio”. E digo mais: como surfei Sunset! Pequeno ou grande, era uma alegria só. E de barco, melhor ainda.
Pipe quebrou forte no dia de Natal. Santa Claus foi generoso! Olhando bastante, preferi cair em Waimea pela manhã, já que a promessa era de que o mar iria subir mais. Entrei no meio da manhã, quando a galera que madrugou saia pela falta de séries constantes. Mas uma boa espumada que deu, me fez cair junto com Pedro “Águia” Muller, que, depois dos comentários na webcast da Triple Crown, estava de férias com a família. As séries realmente estavam demoradas, mas aos poucos iam melhorando. Quem teve paciência curtiu e pegou boas. As condições ali não atingiram o patamar esperado. Mas séries de 10 a 12 pés apareceram no fim da manhã com uma ou outra maior. Acabou que quem estava ali se deu bem, pois quem chegava na beira achava que estava devagar, e assim acabava não entrando.
À tarde, olhei mais uma vez Pipe. Com um mar um pouco menor e uma cabeçada esplêndida, o visual era bonito com o back light. Alguns dos amigos que encontrei relataram a dificuldade de se pegar onda, pois não estava tão simples. Uns boiaram até 4 horas sem pegar nada. Bom, sendo assim, fui me divertir em Pinbals, a seção logo abaixo de Waimea, cujo drop rápido gera uma adrenalina diferente da The Bay propriamente dita. Devido ao trânsito gerado na Kamehameha Highway, já cheguei no pico com pouca luz e quase ninguém na água. Desfrutamos de um pôr do sol épico. Eu, Raquel Heckert e mais um gringo passávamos pela lente de um fotógrafo que tentava capturar cenas de um ângulo inusitado. O cara ficava embaixo do pico pra pegar a onda por trás. Admirei sua técnica e seu fôlego, no entanto, acabei não o encontrando no estacionamento pra saber das possíveis imagens capturadas.
Os dois dias seguintes em Sunset foram maravilhosos e surfei na companhia de Adriano de Souza em um desses dias. Eu com a minha gun 9’6 no outside e ele com sua prancha pequena (não devia ser mais que 6’6”), mais pra baixo e pra dentro do pico. Imagino que deva ter pego boas, pois a onda estava conectando bem com o inside, que, aliás, em muitas ocasiões é mais difícil que o outside. Apesar de condições bem inferiores que a temporada passada, Hawaii é Hawaii e sempre acaba sendo bom. Foi muito prazeroso rachar casa com minha esposa, meu filho Ian, sua esposa Mayara e minha neta Malia.
As risadas foram muitas com Diego Silva, André “Deitão” e o fotógrafo Marcio Canavarro (ô mizéra!), além de muitos papos sobre o big surf com Silvia Nabuco. Os reforços de poucos dias dos “groms” já citados e do fotógrafo Rafael Moura e Pamela completaram a lista dos roomates, além do gringo Shane, um professor de música totalmente soul. Agradecimentos a tia Kim e tio Danny, como também sua filha Pume, que nos acolhem com ótima hospitalidade em sua casa. Aloha & Mahalo.