Taiu e Fábio Gouveia, ícone do esporte no Brasil e até no mundo. Foto: Arquivo pessoal Taiu. |
Talvez o fato esteja relacionado à mídia moderna, agressiva e alucinante que as marcas produziram e como trabalharam as imagens dos atletas e das marcas, tornando o surf um sonho de consumo.
Somando tudo isso a evolução das performances dos próprios surfistas, que hoje incluem no repertório os aéreos e suas variantes, com 360, superman e ‘yuscaráio’, o surf atingiu um alto nível técnico e um grande número de adeptos de todas as idades.
O público presente na etapa do Brasil Tour na praia do Tombo impressionou a todos. Foto: Ricardo Macario. |
Nos tempos dourados, mais precisamente no início dos anos 80, o surf era mais light, o crowd na água era menor, mas os campeonatos de surf eram verdadeiros espetáculos, com multidões acompanhando campeonatos como o OP Pro de 85, o Hang Loose de 86 e o Sundek de 88.
O critério de julgamento da época segurou bem a evolução do esporte, pois valorizava a quantidade de manobras executadas (inclusive “alisadinhas”) e a distância funcional percorrida.
Em algumas épocas somava-se quatro ondas em 20 minutos, e o normal eram três, o que já era uma tarefa bem difícil. Hoje, somando somente duas, fica bem mais fácil escolher a onda e a tática certas.
O talento de Adriano Mineirinho está mexendo com os fãs do esporte. Foto: Ivan Storti/FMA Notícias. |
Na etapa do Brasil Tour realizada recentemente na praia do Tombo, com swell e junto a um feriadão prolongado no Guarujá, o público presente chamou atenção.
Eu só me lembro de um crowd desses por aqui nos eventos da Hang Loose que aconteceram no final dos anos 80 e início dos 90, quando o público lotava a praia e o mirante do Maluf.
Desconfio que agora estão sendo colhidos os frutos do trabalho, nos últimos 20 anos, de formação de ídolos, aliado ao talento e a evolução dos atletas, das marcas e da mídia.
Caras como Adriano de Sousa, jovem, talentoso, inovador e dono do título mundial Pro Jr, ou Fábio Gouveia, ídolo consagrado do Brasil e do mundo, protagonista de uma história que virou filme de cinema – Fabio Fabuloso (estréia marcada para o próximo dia 5 de novembro), junto de outras tantas personalidades do surf brasileiro, estão mexendo com os fãs do esporte.
Nunca vi tanta gente presente na praia e assistindo a uma competição. Nos tempos dourados do surf as manobras como aéreos eram executadas apenas por caras como Martin Potter ou o jovem Matt Archibold. O surf evoluiu, mas a qualidade de vida está pior.
A grande diferença daquela época para hoje é que ainda não estávamos num planeta e numa praia “overcrowded”. Em Maresias, o estacionamento era na cara do gol, no Rio de Janeiro os traficantes mais perigosos de hoje ainda eram bebês ou crianças. No sul, o point da Silveira era quase secreto (Morongo era ídolo) e morar na praia da Guarda era coisa pra “bicho grilo”, de tão tranqüilo e sossegado que era o pico.
O Hawaii ainda era cenário de um crowd no limite. Bali e Uluwatu ainda eram para poucos. Java e G-land só para Gerry Lopez, Mentawaii era desconhecida, Lagundri, em Nias, era muito vazio e remoto. Aqui em Noronha só a turma do Felipe Dantas e alguns já tinham surfado.
A evolução aconteceu, sem dúvida, e também trouxe coisas boas como o nível das manobras, as previsões pela internet, o jeito que os tubos são surfados e o tamanho das ondas que a galera dropa em Jaws.
O problema está na hora de surfar ou viver em paz, porque esse crowd que aumenta a cada dia, tá brabo!!!