Esses dias peguei umas ondas com Alexandre Wolthers, aqui no Guarujá. Fazia mais de uma semana que a esquina do Bostrô não parava de envergar esquerdas de 2 a 4 pés perfeitos para andar de log. O bandido desenrola fácil o footwork, para gringo nenhum botar defeito. Enquanto eu voltava para o pico depois de uma engasgada a caminho do noseriding, ele vinha numa boa na onda de trás. Reparei nas canelas dele quando passou perto. Lembro de ter pensado que ele era um ótimo exemplo para a teoria da canela seca.
Sempre invejei quem tem as pernas finas. Ajuda muito para um jogo de pés eficiente, ainda mais com os logs, que são maiores e exigem uma movimentação intensa. O surfe é mais técnico, visualmente mais leve. Isso porque a pisada suave não causa oscilações na prancha, mantendo o equilíbrio, a fluidez dos movimentos e a inércia da prancha. Alexandre, onda após onda, vinha com a postura equilibrada, os braços relaxados, o sobrepasso sincronizado e funcional para ganhar e diminuir velocidade, fazer curvas e o noseriding. A prancha sempre muito estável.
Alguns nomes que dão embasamento a essa teoria. Das antigas, David Nuuhiwa e, apesar do pé grande, Nat Young. Daí vem Stuart Entwistle, Joel Tudor, Kevin Connelly, Alex Knost, Josh Constable. Daqui, Mudinho, Neco Carbone, Cisco, Fernando Moniz – Marreco, Carlos Barsotti – Pretinho, o próprio Xande, Roger Barros, Augusto Olinto, Wagner Mingotti, Thiago Mariano. E também Fuad Mansur, que sempre brinca dizendo que ama suas finas canelas. Não dá para negar que é um time considerável.
Quando Fuad disparou a teoria da prancha leve = surfe pesado x prancha pesada = surfe leve, ele tinha razão. Talvez a teoria da canela seca também tenha fundamento e complemente essa ideia. Talvez não. O CJ Nelson seria um cara para arruinar toda essa tese de que as canelas finas são privilegiadas para o surfe clássico, porque ele é parrudo. Perna grossa só me ajuda na hora de colocar força, borda na água e pressão nas pancadas, coisas que ele sabe aproveitar como poucos com pranchas progressivas. Mas, mesmo com pernas grossas, ele também levita no footwork. Tento defender a teoria atribuindo isso ao fato do CJ ser um fora de série, ou seja, uma exceção.
Claro que a teoria da canela seca não é uma verdade absoluta. Conheço outros de pata grossa que dão conta de um footwork apurado, apesar de poucos. Brinco com isso porque sei o quanto minhas pernas pesam e se enroscam durante o footwork. Então, ainda que corra o risco de me iludir, prefiro colocar a culpa só nas minhas panturrilhas, evitando assumir que o problema passe a ser o conjunto todo da peça que fica em cima da prancha.