É meus caros, mais um ano se passou no circuito mundial e não temos muito o que comemorar. Nada de novo ou extraordinário aconteceu. Mais uma vez foi aquele sufoco para uns garantirem as vagas nas últimas colocações de qualificação pelo circuito principal, e um ou outro nome novo pela divisão de acesso.
No primeiro artigo bombástico escrito no ano, depois do campeonato da Gold Coast, o Torcedor Fanático recebeu promessas de garra, luta, que os resultados mostrariam que fulano ou beltrano lutariam de igual para igual com os medalhões e tudo mais.
Dentre algumas ameaças à minha integridade física, muita choradeira, manifestações de que estive na tentativa de arruinar sólidas carreiras, e que subestimei o nível de surf dos nossos atletas e tudo mais.
A resposta está aí. Mais um ano e a conclusão óbvia de que quem correu o circuito passado não teve nível de surf para lutar pelas primeiras posições do ranking da primeira divisão.
Os motivos continuam os mesmos: em ondas tubulares acima dos 6 pés não temos estilo nem atitude para ficar tão fundo quanto os caras. Não que não entubamos, não que não manobramos, não é isso, mas não temos a mágica, não temos o ?balé? dos verdadeiros tops.
A famosa matada de barata, estilo punk de coturno no show para conectar algumas sessões é de lascar!
Okay, não vou deixar de fora o fato de que os juízes prejudicaram alguns resultados, digamos, mais apertados. Mas, vitórias esmagadoras e incontestáveis nem os juízes conseguem facilitar e isso foram raras, me desculpem.
Em 2006 recebi a promessa do Simon de que Heitor Alves estaria no WCT em 2008 e missão cumprida. Agora recebo a promessa de que ele vai incomodar muito mais do que os atuais canarinhos do circuito. Será?
O Jihad é um guerreiro. Digamos um Peterson Rosa mais moderno. Nos mares que ?gostamos? de competir, ele deverá dar algum trabalho. Se Mr. Peterson se manteve durante tanto tempo na elite com aquele estilão de base bem aberta, não duvido que Jihad, se estiver bem focado nesse objetivo, não possa fazer o mesmo.
Rodrigo Dornelles, quem diria, 33 anos, prestes a fazer 34, foi para as cabeças do WQS na reta final do circuito e ultrapassou os outros brasileiros no WCT. Isso é reflexo de maturidade. O deslumbre de correr o circuito já passou e agora mostra que segue os passos de Fabinho, Teco, Vitinho, Renan e Peterson como mais um grande coadjuvante brasileiro com regularidade no WCT.
A diferença é que os antigos foram os desbravadores, causaram o frenesi da imprensa mundial, idolatrados pela torcida, mas agora é diferente. Ser veterano com louvor nessa posição no ranking, só vale mesmo para quem realmente abalou estruturas.
Este ano, dois deles penduraram os ?leashes?: Mark Occhilupo (ícone do surf mundial e campeão do circuito em 1999) e o nosso Vitor Ribas – melhor brasileiro colocado até hoje no circuito do WCT, terceiro colocado também em 1999.
Neco Padaratz, que carreira conturbada! A instabilidade emocional, o trauma vivido no Tahiti, o afastamento por dopping e agora esse incidente com o babaca do Sunny Garcia…
Tentei trocar uma idéia com ele aqui na Australia depois do WQS de Newcastle, mas infelizmente, na balada algumas pessoas ficam incomunicáveis. Tem experiência de sobra no circuito para complicar a vida dos melhores do mundo, só precisa mesmo querer. No final desse ano ele quis e conseguiu fugir do ?rebaixamento?. Prova de que a superação existe. Precisa trocar um pouco a balada por foco no surf se quiser alguma coisa em 2008.
Leo Neves fez bonito! Estreou no tour e foi o recordista de resultados duvidosos nas notas dos juízes. Aos poucos seu surf vai lapidar-se juntamente com as notas e em 2008 deve subir algumas posições se continuar nessa pegada. A atitude que teve em Sunset em todas as baterias no O?Neill World Cup é exatamente o que se espera de um atleta de elite com sangue brasileiro de guerreiro correndo pelas veias. Mas vale registrar: mesmo se o havaiano vacasse de cara naquela ultima onda, ele teria tirado os 9 pontos que precisava.
Pronto Mineirinho, a hora é agora. Já passou a adrenalina inicial, já fez trips para vários lugares de ondas perfeitas, entubou de óculos, de mp3, já aprimorou o inglês, testou bastante os equipamentos, viajou com a namorada e conhece bem os adversários. A carreira de Pro / Júnior e valeiro do WQS é coisa do passado. Bem-vindo ao show dos melhores surfistas do planeta e mostre tudo o que você sabe. E por favor, ganhe do Jordy Smith!
Confesso que achei que Raoni não cairia fora do circuito. Bati um papo com ele dentro da água num free surf em Bells Beach na época do campeonato e ele me pareceu muito tranquilo, sereno e esclarecido. Quase escrevi uma entrevista sobre aquela session, faltaram apenas as fotos. O surf dele também estava redondinho e muito power. Os irmãos Hobgood estavam na água e Raoni mandava melhor que os caras. Mas agora, ao final do circuito percebo que ele estava era tranquilo demais, ao ponto de perder a vaga para ele mesmo, pois surf ele tinha de sobra.
Bernardo Miranda, é um caso interessante. O cara tem um surf excelente em todas as condições, tanto na buraqueira de Pipeline ou na marola do Francês. Tanto é que suas performances nos tubos de Pipe e de Teahupoo sempre renderam ?bons? resultados. A inconstância e um grau a menos de power nas manobras ficam evidentes nas disputas com os ?cabeças? do ranking. Se disputar o WQS com empenho pode voltar à elite em 2009.
A torcida não acaba nunca, mas as alfinetadas existem justamente para que ninguém se acomode e ache que está livre das críticas construtivas. Em 2008 o Torcedor Fanático mais uma vez vai incendiar os debates e contestar as performances. Portanto rapaziada, tratem de fazer o que vocês sabem melhor: surfar como gente grande!