Estava de férias no último mês de dezembro e me acomodei na praia de Maresias, litoral norte paulista. Entre um surf e outro fui almoçar em um shopping de Boiçucanga, praia que fica ao lado do pico.
Minha esposa pretendia comprar um vestido e fomos até uma das surf shops locais. A mulher que a recebeu parecia conhecida. Sentado em frente a loja com meu filho, percebi que a placa do estabelecimento dizia: Tinga Shop.
Foi quando caiu a ficha. Notei que a loja era do nosso querido legend Tinguinha Lima. Ele estava no local e iniciamos uma agradável conversa.
Falamos sobre seus dois títulos brasileiros (1990 / 1993) e sobre sua passagem no WCT em 1994. Tinguinha confidenciou que problemas com patrocínio e no seu casamento atrapalharam bastante e foi complicado manter o foco no circuito.
Sempre demonstrando simplicidade, falou da passagem por Portugal onde deu aulas de surf, sobre o surf de maneira geral e sobre família. Eu estava com meu filho de apenas cinco meses no carrinho.
Nascido em 1964 e prestes à completar 50 anos, o surfista demonstra estar em forma e não restou-me outra coisa a não ser incentivá-lo a participar do Mundial Master da ASP, previsto para acontecer em julho deste ano em Maresias.
Acompanho a carreira do velho Tinga desde o meio da década de 80, quando comecei a surfar. Era difícil não admirar seu surf rápido e repleto de manobras modernas.
Quem se lembra do Hang Loose de 86? Tinga foi um dos destaques e chamou a atenção de todos os gringos em uma época em que brasileiros não tinham muito acesso ao circuito mundial.
Lembro-me também da final do Hang Loose de 1993 na praia de Pitangueiras, Guarujá (SP), onde ficou na terceira colocação e pude vê-lo destroçando as ondas de um metro. Fiquei totalmente abismado com tanta velocidade.
Acho de grande importância admirar e respeitar os ídolos do nosso esporte e não deixar se apagar tudo que fizeram em tempos de condições difíceis para o surf.
Enfim, Tinguinha vive hoje uma verdadeira vida de caiçara: mora no sertão da praia de Camburi, litoral Norte paulista, pega suas ondas e trabalha em sua loja de surf na praia de Boiçucanga. Vida longa ao “velho Tinga”!