Toni vira com muito estilo em Ekas Bay. Foto: Darcy. |
Antonio tinha o semblante e atitude tão raros hoje em dia, dos verdadeiros surfistas de alma pura, atitude limpa. “E aí Tenucci, meu querido?!”. Era assim, de braços abertos que me recebia sempre, seja nos anos 70 quando surfamos com o Perdigão e o Arnaldo um Imbituba clássico, seja nas últimas vezes que o vi recentemente.
“Fala, Toninho!”. É isso aí, meu amigo, escolher e vagar por esferas mais altas talvez tenha sido a sua ambição inconsciente, com certeza uma escolha radical, contrastando com o seu espírito ( aparentemente ) mais ameno.
Obrigado por me receber no castelo em Lauro Muller, onde rimos muito naquela barca em 78, depois de, mais uma vez, surfar um Imbituba com só alguns amigos dentro d’água. Obrigado pela acolhida em 2000 no Beco, quando serviu aquele rango para nós na sua casa, com a sua família.
O carinho do seu sorriso e do seu abraço me faziam sempre me sentir muito bem recebido, e ainda não foi desta vez que eu vou conseguir retribuir ( apesar dos inúmeros convites ) te recebendo lá em casa. Mas com certeza vamos estar no line-up de inúmeros mares, conversando sobre a vida e o mundo enquando esperamos a série do dia. Você pegou a série da vida.
Ninguém pode imaginar a imensidão desta luta solitária. Percebi o seu nível de consciência quando falamos ao telefone as duas últimas vezes. Você compreendeu profundamente que somos única e inteiramente responsáveis por todas as nossas escolhas, por tudo que nos acontece na nossa vida. Você sacou que por mais que nos amem, nunca ninguém vai ser capaz de compatilhar a nossa dor. O sofrimento é incompartilhável, mas o amor não.
O amor nós podemos, e isso você conseguiu, meu querido amigo, muito antes da doença te alcançar e você lutar com os demônios internos a procura da luz. Esta LUZ está aí agora, à sua frente, te envolvendo, numa viagem sem fim. Você causou uma impressão profunda por aqui, meu chapa. E não é sómente isso que a gente leva, as relações?
Quando o Perdigão me ligou ontem dizendo que você estava quase indo, no hospital no Rio, comecei instintivamente a escrever estas linhas, depois fechei os olhos e te vi.
Estranhamente você estava sorrindo, feliz, envolto numa aura brilhante de luz branca, como quem parte para casa, ou para uma surf trip maravilhosa que nunca mais irá acabar. Obrigado por ter existido entre nós. E por continuar existindo. Do amigo, para sempre, Sidão Tenucci”.
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