Revelado no Pontal de Baía Formosa, Italo Ferreira é uma das grandes sensações do surfe mundial na atualidade. Aos 22 anos, o atleta disputa o Oi Rio Pro como terceiro colocado no ranking do Tour, atrás apenas de Matt Wilkinson e Sebastian Zietz.
Italo chegou à elite mundial sob a desconfiança de muitos. Porém, quem acompanha o atleta desde as categorias de base do surfe brasileiro sabia que ele não estaria ali para brincar.
Em 2015, a fera potiguar deu um show em sua estreia no Tour e finalizou a temporada como sétimo colocado, levando o prêmio de estreante do ano da World Surf League (WSL).
No Rio de Janeiro, Italo estreou com uma brilhante atuação, arrancando notas 9.00 e 7.50.
Na terceira fase, o potiguar vai enfrentar o baiano Marco Fernandez, vencedor da triagem e adversário de Italo desde as categorias de base.
Em entrevista exclusiva nesta terça-feira, o número 3 do Tour falou sobre o grande momento na carreira.
Você está com uma postura diferente este ano, ainda mais focado. O que mudou em seu trabalho?
Tenho me dedicado mais ao circuito, pois tenho meus objetivos e no ano passado eu tive êxito. Tenho conquistado todas as metas que coloquei em mente e isso me motivou ainda mais para correr atrás do meu maior sonho. Porém, ainda é muito cedo para falar. As coisas começaram bem este ano. Não mudei muita coisa nos meus treinos e continuo me dedicando muito à parte física. Também sempre estou em contato com o meu shaper, testando as pranchas e tentando melhorar cada vez mais. Isso faz a diferença e me deixa mais tranquilo nas competições.
Você já pensava em título mundial ou começou a sentir que dava para ir mais longe quando entrou no Tour e fez estrago?
Eu só precisava de uma oportunidade. Tudo começou no QS em Los Cabos (México), quando conquistei um bom resultado (terceiro lugar em 2014). Ali eu vi que era possível chegar lá e conquistar o meu maior sonho, então continuei trabalhando bastante e me dedicando ao máximo. No ano passado eu consegui terminar entre os 10 e agora estou tentando melhorar a minha posição e chegar o mais perto possível, quem sabe brigar pelo título no fim do ano.
Certa vez, pouco antes de garantir a classificação ao Tour, você comentou que queria muito enfrentar os melhores do ranking. Você costuma crescer de produção nos principais duelos. Sente algo especial?
Sinto muita vontade de vencer quando estou competindo contra os caras com mais nome. Isso me deixa muito mais motivado a vencer. Eu gosto de competir, gosto de desafios, então competir com esses caras é sempre muito bom.
Você sofreu muitas críticas devido à dificuldade com a língua inglesa. Está trabalhando para melhorar isso?
Até hoje ainda sofro um pouco, é bem difícil para mim. Tento aprender mais assistindo a filmes, ouvindo músicas, conversando com as pessoas que trabalham nos eventos e com os atletas. Tive uma oportunidade muito boa agora de viajar para Bali com toda a equipe da Billabong e isso foi bem legal, pois eu não falava português e ficava só tentando falar em inglês. Isso me ajuda a melhorar nessa parte, mas ainda sinto medo de falar e tenho um pouco de dificuldade com algumas palavras. No decorrer do tempo, com um pouco mais de dedicação, espero conseguir falar essa língua com mais facilidade.
Em Snapper Rocks, você foi eliminado numa bateria muito acirrada e saiu cedo da prova. Ficou decepcionado com aquela derrota?
Eu tinha uma expectativa muito grande em Snapper, até porque me preparei bastante para essa etapa. Antes de viajar para a Austrália eu fiquei uns 15 dias em São Paulo treinando fisicamente. Estava fissurado, com muita força de vontade, então esperava um grande resultado lá, mas numa bateria muito disputada com Conner Coffin ele acabou me vencendo na última onda. Foi um pouco difícil e várias coisas mudaram na minha cabeça, mas tentei manter a postura, a cabeça no lugar, e continuar confiante para melhorar. Foi o que aconteceu em Bells.
Você vinha surfando muito bem em Bells, mas teve uma atuação irreconhecível na semifinal, contra Matt Wilkinson. Acha que cometeu algum erro ali?
Sim. Cometi vários erros – prioridade, posicionamento, na execução das manobras… Isso acabou me custando caro. Poderia ter feito a final e até vencer o evento, pois a minha prancha estava muito boa, eu estava encaixando naquele mar e gosto de surfar de backside. Estava tudo dando certo, mas os erros que cometi na bateria estragaram tudo. Na primeira onda eu estava no pico, acabei deixando Matt Wilkinson ir e ele começou muito bem. Preciso melhorar nesses detalhes e também acredito que não era o momento, tem muita coisa para acontecer. Não coloco a carroça na frente dos bois e vou tentar crescer no decorrer do ano.
O que faltou para ir mais longe em Margaret?
Margaret foi um dos lugares em que mais surfei na Austrália, até porque a onda era muito difícil. Acordava muito cedo todos os dias, treinava antes dos eventos e estava com uma prancha muito boa. Sempre que estou com um bom equipamento, isso me passa uma confiança muito boa. Na semifinal, contra o Sebastian (Zietz), o mar havia diminuído e o vento estava muito forte nesse dia, então sentia que estava com um pouco de dificuldade para surfar. Em todos os dias em que surfei de manhã e o vento estava muito forte, eu não conseguia encaixar a prancha no lugar certo, não conseguia acertar as manobras que eu queria e tinha isso na minha cabeça, até porque nas outras baterias em que passei, o vento não estava tão forte, não era aquele terralzão que costuma bater em Margaret pela manhã. Nas manobras que tentei na semifinal, quando era na parte mais crítica da onda, acabava caindo. Tive chances de virar a bateria, mas no meio de conexão de uma manobra para outra eu errava. Para quem estava frontside ficava mais fácil e Sebastian percebeu isso no meio da bateria e conseguiu notas altas só com rasgadas. Foi difícil para mim, pois sabia que teria dificuldade se o vento estivesse forte e acabei caindo nas ondas que peguei. Sebastian mereceu passar porque estava surfando muito e acabou vencendo o evento. Assim como em Bells, perdi para um cara que acabou vencendo a etapa. Como falei, preciso melhorar em alguns aspectos, mas percebo que evoluí bastante em comparação ao ano passado.
Fale um pouco do teu trabalho com o empresário Luiz Henrique Campos, o “Pinga”.
Trabalho com Luiz há muito tempo, acho que há uns 9 ou 10 anos. A gente vem construindo uma carreira com bons resultados e objetivos alcançados. Ele sempre foi fundamental, até porque me ajuda muito, tenta me colocar na linha e fazer as coisas corretas, pois, para ser bem sucedido, você precisa fazer as coisas certas. Ele faz muita diferença e corre atrás de várias coisas para mim, como patrocínios e viagens. É um cara incrível e respeito muito o seu trabalho, até porque colocou vários atletas no Tour em pouco tempo, o que mostra que tem um grande conhecimento na área.
Seu próximo desafio no Rio será contra Marco Fernandez, vencedor da triagem. Vocês já se enfrentaram muitas vezes. O que espera desse confronto?
Marquinho é um adversário muito duro e sabe competir muito bem. Já competimos várias vezes no QS, no Brasileiro Amador, Pro Junior e em outros eventos. Vai ser uma bateria bem disputada e difícil de vencer, pois vi uns treinos dele e está bem encaixado, mas também estou e sinto muita confiança para fazer um bom trabalho na água. Independentemente de quem seja, tenho que entrar na água com a mesma postura que venho tendo em todos os eventos, sempre respeitando o adversário e procurando fazer o meu melhor.