Um público jamais visto lota a praia da Silveira durante WCT 2003. Foto: Ricardo Macario. |
Assim, está bem mais fácil acompanhar a jornada do surf canarinho.
Nossos surfistas estão quebrando cada vez mais, tanto merrecas quanto ondas cascudas. As performances de Paulo Moura em Teahupoo, por exemplo, são iradas.
A linha de nossos surfistas antigamente era muito mais ‘quebrada’ em ondas grandes.
Hoje em dia é uma linha cada vez mais polida e estamos chegando onde sempre faltou um algo mais para roubar a cena no WCT em ondas 90% tubulares e grandes, onde essa linha de curvas mais redondas e bom posicionamento são uma exigência.
Ao mesmo tempo, essa evolução é somada à coragem e à vontade de vencer comum aos nossos atletas e à nossa torcida.
Tenho certeza de que o amante do surf acompanha o esporte e anda torcendo no mesmo naipe para o Mineirinho como para o Robinho, continua torcendo para o Fabinho tanto quanto para o Romário, continua querendo saber o que o Teco anda aprontando, tanto quanto quer saber por onde anda o Rivaldo, e torce para o Neco recuperar-se do trauma no Tahiti e também está torcendo para ele voltar com tudo depois do caso de dopping, e assim vai.
É bom que os atletas de ponta, competidores ou não, tenham dimensão disso, que são admirados, que torcemos por eles e que, de uma certa forma, cobramos!
Temos o melhor futebol do mundo, maior paixão nacional. Assim, é natural desejar ter os melhores surfistas do mundo, não só na divisão de acesso, mas principalmente no WCT.
É demais assistir as baterias ao vivo pela TV ou pela Internet. Quem viu o 10 do Pedra, quem viu as pancadas do Moura e do Odirlei de backside, ou a variação de manobras do Mineirinho em Hossegor, sabe do que estou falando.
Quem assiste no TV Waves os moleques Charlie Brown e Camarão, logo na primeira queda, botando pra dentro com muito estilo em Puerto, também percebe que está cada vez mais fácil acompanhar o que fazem e para onde vão nossos competidores.
Quer dizer, a mídia está facilitando o acompanhamento de nossos surfistas, mas também tem que agilizar nossas cobranças e expectativas em relação a eles.
Quem lê ou faz os comentários nas matérias dos sites, envia cartas pras revistas etc, tenta fazer isso a todo o custo e tem um espaço muito pequeno.
No futebol, basta ligar a televisão para escutar a torcida gritando. Na TV é normal haver matérias com os torcedores na rua.
Já no surf, não dá para a gente ir a todas as etapas gritar com os caras, nem pra reclamar nem aplaudir.
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Nem sempre é possível acompanhar o WCT em Fiji, mas sempre tem um torcedor fanático para vibrar com os brazucas. Foto: ASP World Tour / Tostee. |
Muitos campeonatos têm aquele esquema de enviar uma mensagem ao locutor.
Cara, eu me canso de mandar mensagem para os brasileiros na água (em inglês) e é engraçado, porque o cara fala – a maioria dos locutores fala sim!
Não sei se os atletas escutam na água, ou se prestam atenção, mas vira e mexe tomam bronca ou recebem elogios direto do Brasil nas águas de qualquer canto do mundo. E não é só eu quem faz isso.
Além disso, relatos jornalísticos normalmente têm sido meio imparciais.
Dificilmente escrevem sobre determinado campeonato para fazer algum tipo de cobrança ou comentário mais rígido sobre a performance de atleta – que tenha dado mole, faltado à bateria porque foi à balada um dia antes e tal.
Ninguém aqui está querendo que os jornalistas de surf se tornem jornalistas ao estilo ‘Contigo’.
Mas tem muito neguinho dando mole e podemos ajudar com alguns puxões de orelha mais críticos.
O surfista profissional não é só máquina de dar batida e aéreo. Ele é um ícone do esporte e tem que ser exemplo para os admiradores.
Há muitos moleques seguindo os passos e os exemplos.
Portanto, precisa haver um canal de interação e cobrança mais real, em que os surfistas saibam que tudo que eles fazem, na água ou fora, reflete no comportamento e no coração de muita gente, torcedor ou não.
Alexandre de Toledo Piza é free surfer paulista, vive na Austrália e é torcedor fanático!