Na manhã do último domingo (18/9), foi realizada na Praia da Guarita, em Torres (RS), a terceira edição do Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, uma iniciativa internacional realizada simultaneamente em mais de 100 países.
O evento na praia gaúcha foi organizado em conjunto pelo Projeto Praia Limpa Torres, Associação dos Surfistas de Torres e Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (GEMARS), em parceria com a Prefeitura de Torres, e contou com a participação de mais de 300 pessoas.
No trecho de 200 metros da Praia da Guarita, os voluntários recolheram e classificaram 3.917 itens, totalizando 45,2 kg de lixo. Os cinco itens mais encontrados foram pontas de cigarro (933); pedaços de plástico (834); embalagens de alimento (694); pedaços de vidro (293); e canudinhos de refrigerante (198). Os dados coletados na costa gaúcha foram contabilizados por uma equipe de professores e alunos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e serão incorporados às estatísticas da ONG americana Ocean Conservancy que visam retratar a poluição dos oceanos em todas as regiões do mundo.
Conforme destacado pelo Prof. Paulo Ott, da Uergs e pesquisador do GEMARS, “o evento pretende demonstrar a gravidade do problema da poluição dos oceanos e a necessidade imediata de encontrarmos alternativas para reverter o quadro existente”. De acordo com estudos recentes, estima-se que se nada for feito, em 2050, a quantidade de plásticos no mar irá ultrapassar a de peixes existentes.
A ação na Praia da Guarita contou ainda com um ciclo de palestras, oficina de desenho de paisagem com o artista Jorge Herrmann, II mostra artística com a exposição com temática sobre “reciclagem marítima”, com a artista Flávia Chaves, e com a realização da II mostra de projetos ambientais, com a participação de diversas instituições, como a Universidade de Caxias do Sul (UCS), a Uergs, o Parque Estadual de Itapeva, o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Torres), Rede de Educação do Litoral Norte (Osório), Espaço Mar (Torres) e as ONGs Onda Verde, Defender, Greenpeace (Grupo de Voluntários de Porto Alegre, Imbé e Florianópolis), Projeto Onda Limpa (Passo de Torres/SC) e GEMARS, dentre outros.
Segundo o palestrante Salvatore Siciliano, da Fundação Oswaldo Cruz e coordenador nacional do evento entre 1995 e 2003, a ação realizada no litoral do Rio Grande do Sul destacou-se pelo entusiasmo de todos os voluntários, que transformaram a dramática questão do lixo nas praias em uma ação positiva por um ambiente mais saudável. A participação do ambientalista Paulo “Preserve Torres” França, com suas belíssimas obras de arte na areia e suas poesias, enriqueceu ainda mais o evento. Paulo França realiza trabalhos de preservação ambiental nas praias da cidade de Torres há mais de 20 anos, destacando-se pelas belas imagens e mensagens ambientais, sempre chamando atenção às mazelas do impacto humano no ambiente natural.
O coração de todos participantes pulsou mais forte sob as areias da Praia da Guarita, e novamente a imagem símbolo do evento, idealizada pelo ambientalista Paulo França, um coração gigante com a imagem de um par de mãos segurando carinhosamente o mapa global com a inscrição “save the planet”, foi abraçado por mais de 300 voluntários que em uma só voz gritaram: “Preserve Torres!!!”.
O ciclo de palestras contou ainda com a participação de Kauê Pelegrini, da UCS, e Lara Lutzenberger, da Fundação Gaia. Kauê chamou a atenção para as múltiplas origens do lixo encontrado nas praias e a responsabilidade de todos, mesmo moradores de cidades distantes do litoral. Relatou ainda a participação em um projeto pioneiro de coleta do lixo em alto-mar e o potencial de reciclagem desse material.
Lara fez um resgate histórico do projeto de criação do Parque da Guarita, idealizado pelo seu pai, o ambientalista José Lutzenberger, no início da década de 1970. Destacou que um dos princípios norteadores do projeto era respeitar e destacar as singularidades da paisagem local, o que seu pai chamava de “diálogo com a natureza”. Lara chamou a atenção ainda para a triste transformação ocorrida na paisagem da região. As belíssimas torres naturais e o próprio farol, símbolos do município, hoje estão praticamente desaparecidos em meio às inúmeras e gigantescas “torres de concreto”.
De acordo com Alexis Sanson, coordenador do Projeto Praia Limpa Torres, as atividades do “Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias”, em Torres, têm procurado despertar a reflexão das pessoas, de uma forma mais ampla, sobre os caminhos que estamos trilhando. A participação crescente de voluntários a cada ano é também uma marca bastante positiva. “Sem dúvida, o evento realizado na Praia da Guarita representa hoje uma das ações voluntárias de maior impacto e sensibilização, com referência à necessidade de preservarmos nossas praias e oceanos, da costa brasileira”, completa Sanson.