No dia 27 de janeiro de 2017, Leandro “Raí” Fraga deu início a sua circunavegação da Laguna dos Patos remando de stand up paddle. Após 20 dias de remada ele completou 50 % de sua travessia chegando a Rio Grande, onde irá descansar por alguns dias e retomar o caminho de volta até Porto Alegre. Confira abaixo o relato detalhado do remador sobre sua expedição:
“Foi um verdadeira aventura, imprevistos a todo instante, respeito a todo momento, temporais a qualquer hora, ondas e bancos de areias e baixios diariamente. Em alguns momentos, como nas falésias em frente a Ilha da Barba Negra, as ondas chegaram a 1.5 metros nos baixios. A prancha tombou e acabei perdendo equipamentos e tomando alguns sustos, mas isso faz parte de quem se aventura pela maior Laguna do Planeta.
Busquei abrigo em enseadas e córregos para me proteger de temporais que se formavam do nada, onde qualquer embarcação serve como refúgio. Ao sair de Tapes contornando o pontal da Dona Helena, um lugar lindo no meio do nada, miro um belo acampamento rumo a Arambaré, onde fiquei por alguns minutos parado repondo as energias.
Logo no final da tarde vieram as tempestades que me fizeram ficar apreensivo e preocupado até chegar em Arambaré, pois tive que entrar num arroio e me esconder dentro de uma embarcação de pescador devido ao temporal que vinha em minha direção com ventos e muitos raios. Após uns 40 minutos de muita tensão, saio rumo a Arambaré, onde fui muito bem recebido.
Conheci muitas pessoas simples que vivem em lugares isolados no meio do nada na lagoa, alguns não tem nem luz própria, vivem de lampião e recebem os aventureiros de braços abertos. A família Curto me fez parar para tirar fotos e fizeram um convite para um bom churrasco na beira da laguna onde fiquei parado por 4 horas curtindo o som de uma viola.
Deram a dica para ficar na mansão e que seria muito bem recebido. Chegando lá fui recebido pelo caseiro (Alemão). Entre bons papos, Alemão comentou que um senhor de caiaque tinha passado dias antes que eu, e que o mesmo não lembrava o nome. Quando dei as características do mesmo descobrimos: era o Sr. Hiram, um aventureiro nato das selvas tinha ficado hospedado por lá. Alemão preparou um carreteiro de charque e comentou um pouco sobre a região na qual ele mora e que cuida de uma mansão na beira da Laguna dos Patos com um trapiche imenso e lindo.
Em seguida parti em direção ao Pontal da Feitoria onde as ondas estavam fortes. Foi quase impossível de seguir a viagem. Após algumas horas de tentativa, consegui contornar o pontal e segui até chegar a uma fazenda de granja de arroz, onde fui recebido pelos proprietários e convidado para ficar em sua sede. Como o vento sul predominava forte, fiquei parado por 3 dias até acalmar para tão logo seguir para São Lourenço do Sul.
O previsto era dois dias para chegar, mas as condições estavam a favor e consegui chegar em 1 dia, onde remei cerca de 25 km. Fui recebido pelo Sr. Raul, comodoro do clube tapense e o Sr.
Brechinha, que deram total assistência para ficar no clube onde tive que ficar por 3 noites até a chegada do suporte dá Travessia. Com a chegada do Newton Barreto, dá Náutica Barreto de Itapuã, veio também um cinegrafista para gravarmos algumas entrevistas.
Após esta parada, rumei em direção ao Pontal da Feitoria, onde encontrei um grupo de pescadores (Família Fetter). Parei para perguntar um pouco sobre a região e acabei não conseguindo seguir viagem diante de diversos convites para ficar, almoçar e comer um bom churrasco a noite, já que o tempo não estava tão confiante, pois havia várias nuvens carregadas e o risco de temporal a todo instante era grande.
Neste local a luz é apenas a de um lampião, e o Sr. Cabana ficou intrigado como eu poderia ter chegado em uma prancha até lá, me alertando sobre diversos riscos e imprevistos que a lagoa apresenta, sendo que eu já havia enfrentado dois deles ao longo da expedição:
– Ataque de marimbondos: foram alguns minutos tensos em que avistei diversos marimbondos vindo em minha direção. Pensei que eram cigarras, mas ao perceber que eram marimbondos tive que remar forte contra o vento e em seguida, após minutos remando, pular na água e ficar submerso até que eles fossem embora!
– Jacarés: ao amanhecer, segui viagem pelo arroio pequeno, que era para ser um caminho curto e tranquilo, só que não! Os água pés estavam fechando dois pontos que impossibilitavam chegar até a outra ponta do arroio sem precisar contornar o pontal da feitoria, fui alertado sobre a presença de jacarés, mas não pensei que teria que entrar na água para empurrar o SUP por dentro da água para o outro lado, já que as quilhas trancavam no água pés e não permitiam minhas remadas. Após algumas horas de tentativas e extremamente cansado, consegui cruzar o arroio onde encontrei o irmão do Sr: Cabana que me alertou sobre os jacarés que viviam no arroio, então percebi que tinha passado por uma situação de grande risco, mas que tinha ficado para trás.
Realmente vivi momentos tensos na Lagoa Pequena, mas que no final deu tudo certo graças a Deus. Seguindo para a praia do Laranjal, em Pelotas, com vento de popa, fui em direção à Pro Wind (guarderia local) onde também fui muito bem recebido e regado a churrasco por todos.
Foram dois dias de “churras” e descanso onde agradeço muito aos anfitriões Leo e Larri, que me ajudaram a lançar a prancha na água após 3 dias.
Rumo a Rio Grande, teria mais 35 km para chegar a 50% da travessia, o que já seria uma grande vitória. Segui o dia remando rumo a Wind Place (guarderia), onde também fui muito bem recebido pelo Sr. Darci e João, que me disponibilizaram um espaço ótimo para montar a barraca, mas surgiu um imprevisto que não estava nos planos, tinha esquecido das varetas de montagem da Barraca na Pro Wind.
Foi muito bom para renovar as energias, conhecer diversas pessoas da região e dar um rolê nos molhes de Rio Grande, onde fomos embarcados em um bote de um grande amigo mais conhecido por “Apito”, que logo em seguida me convidou para apreciar uma tainha assada junto com sua família.
Foram diversos passeios de bote pela região, molhes, ilha dos marinheiros e um encontro muito legal com os Guerreiros do Remo de Rio Grande, turma gente finíssima. Foram horas de conversas e risadas.
No outro dia ainda ajudei na segurança da Travessia de Natação de São José do Norte para Rio Grande, uma média de 4 km de percurso onde os nadadores seguiram forte em suas braçadas até o ponto final em Rio Grande.
Obrigado a todos pelos votos de bravura, persistência, boas conversas e vem muito mais pela frente. A lagoa não permite erros. O objetivo final é retornar para casa pela outra margem com o dever comprido, remando em uma das regiões mais inóspitas e perigosas do mundo.
Confesso que estou com algumas lesões, será bem difícil mesmo tendo sempre treinado com sacos e sacos de areia sobre a prancha para simular o peso dos equipamentos, mas que certamente não será impossível.
Um forte abraço e até Porto Alegre lá pelo dia 15 de março!”
Leandro Raí
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