Phil Rajzman, que já havia sido campeão mundial em 2007, veio desenvolvendo um trabalho com Claudio Pastor de 2008 até 2011. Depois de um hiato, em 2013, vendo que as pranchas daquela época da parceria com Pastor ainda estavam funcionando, mesmo depois de bem usadas, recomeçou a trabalhar com o shaper carioca e foi vice campeão mundial novamente.
Na verdade, Phil também usa pranchas com patrocínio da Hobbie. Durante esse período ele foi bicampeão mundial, na China. O resultado técnico visto nas pranchas desenvolvidas é bem interessante. “O Phill só usa pranchas Epoxi. Esses modelos com as faixas de carbono tem um resultado expressivo”, explica Pastor.
Já Caio Vaz, antes de ser bicampeão mundial de SUP, já havia sido três vezes vice. “Ele é prata da casa. Temos um longo histórico, desde o zero, mesmo com ele tendo uma parceria também com a S.I.C. (marca de raceboards de Maui)”, diz Pastor, que complementa:
“O Caio foi campeão em 2015 e 2016. De uma hora para outra virei tricampeão mundial, atingimos nossas metas. Foi difícil e fico muito honrado com tudo isso. Mas não estou parado em cima desses títulos. Estou empolgado e vejo que o Caio pode conseguir outros títulos, assim como a Atalanta Batista, tetracampeã no longboard, em que já foi da nossa equipe. Ela saiu da equipe, mas voltou agora e vejo que ela tem potencial para um título mundial. Esse desafio, de usar a tecnologia, ajuda esses atletas a evoluir”.
Qual o conceito de desenvolvimento do seu trabalho?
Sempre trabalhei com atletas de ponta. Eles são pessoas mais sensíveis no retorno do design dentro da água. Fazemos uma peça que sai da teoria quando entra no mar. A sensibilidade desses caras especiais dão um retorno apurado sobre o que deve ser modificado fora do mar para ter melhor resultado dentro da água. Até surfo, mas não tenho o talento desses caras. É como um dos meus grandes mestres Dick Brewer. Ele não dropa Jaws ou Waimea hoje. Quem faz isso é o Laird Hamilton. Ele sempre focou em pessoas que lhe trouxessem respostas. Sempre achei isso muito interessante, ter informações do meu trabalho de design e shape trazidas por esses atletas de ponta. Assim posso oferecer aos consumidores informações que foram testadas. Como na F1, onde novas tecnologias e ideias são testadas e, depois, uma senhora de 70 anos, vai se beneficiar pelo freio ABS que foi desenvolvido com a ajuda de grandes pilotos, ou dos sensores que ajudam a estacionar. Isso é honesto para o mercado. Por isso sempre tive equipes grandes, com grandes resultados, desde os anos 80, nas pranchinhas.
Como isso acontece no dia a dia?
Foco na meta. Isso traça a linha a ser seguida. Onde queremos chegar? Com Caio Vaz, por exemplo, queríamos chegar ao título mundial. Essa era a meta. É o foco. é o treino, equipamento. Estamos sempre trabalhando, mesmo fora dos campeonatos. Com o Phil foi a mesma coisa, mas ele é um atleta diferenciado, que vai para a praia com cinco jogos de quilhas, faz testes com todas as combinação possíveis, anota tudo o que dá certo com aquele modelo de prancha, daí ele me diz o que funciona melhor. Isso é natural nele. O Caio já é mais intuição. No que ele sente que vai dar certo. Quando ele voltou de Mavericks para o North Shore, no começo do ano, ele estava usando a quilha central de uma maneira que eu não achava o certo. Mas ele estava achando bom. Mas lembro de uma época em que ele só queria pranchas feitas à mão. Numa correria de viagem fiz quatro pranchas na máquina e não falei nada. Ele surfou e não gostou, mas, às vésperas de uma competição, pedi que ele colocasse a quilha onde eu havia pedido. Foi campeão mundial, adorando a prancha. Depois contei como haviam sido feitas.
Qual o principal diferencial das pranchas do Caio?
É a adaptação ao peso dele. É difícil fazer um produto super enxuto, mas que ele consiga remar de pé. Ele tem que remar como manda a regra. No desenvolvimento, temos que ir do oito ao oitenta. Fizemos uma 6’8″ bem estreita e fina, e vimos que ele não conseguia remar direito e que ficava com câimbras. Fomos aumentando até chegar no ponto certo. Só podemos definir o volume bom para alguém depois de testarmos algo com essa pessoa e termos um parâmetro. Com o passar do tempo fomos definindo o fundo e curvas que favorecessem as manobras, como se fosse numa pranchinha. Fomos definindo o shape para remar e manobrar bem. Não baixamos dos 7′. Não importa o que os outros usam. É algo consciente. A briga agora é na largura, entre 24″ e 25″. Mais fina, ele sente muitas câimbras, mais larga, não anda tão bem. Muitos atletas sofrem pelo fato de serem patrocinados por marcas de pranchas que trabalham com forma. Isso limita.
Sei que tem gente que tenta copiar suas pranchas e de outros…
Acho que você tem que desenvolver suas próprias linhas. A garotada tende a acreditar que a prancha, na tela do computador, está pronta. Não é assim. Creio que seja muito importante a troca de guarda. Os grandes mestres do pranchão, na Califa, estão partindo. Takayama, Hobie e outros que estão ficando cansados. Há todo um trabalho que não pode ser jogado fora. Há que se manter esse legado, para que se desenvolvam mais coisas a partir disso. A molecada acha que esses “coroas”, que não usavam 3D, não entendem nada. Por isso, estou sempre disposto a conversar com quem queira entender meus conceitos. Mas copiar não tem nada a ver. Só agora estão começando a replicar com mais exatidão as pranchas do Takayama. O Neco Carbone, um cara que respeito, amigo meu, está passando seu legado para o Marcelo, filho dele. Tenho arquivos do Neco aqui comigo, ele tem arquivos meus. Você acha que usamos um o arquivo do outro? Não. Usamos esses arquivos para debater, comparar, trocar informações. Aliás, a The Board Trader Show foi muito legal para isso.