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Tubo: O túnel do tempo

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Mesmo com toda a evolução do surf nos últimos anos, uma manobra continua sendo o principal objeto de desejo para a maioria dos surfistas: o tubo!

Em pleno 2015, onde os aéreos, antes inimagináveis, dominaram o cenário do surf, o tubo continua trazendo respeito e fazendo a fama do surfista, em qualquer pico do mundo, seja ele amador ou profissional. 

Desde as primeiras braçadas na água salgada sobre uma prancha, o surfista já sonha em, lá na frente, tirar aquele tubão que viu em uma revista, ou em um vídeo. Ele imagina como deve ser aquela sensação de estar em movimento, junto com a onda, sendo engolido por ela, até que, de repente, é cuspido pra fora, pela porta da frente, em uma escapatória mais do que prazerosa. 

Não é à toa que nós brasileiros, que embora tenhamos um imenso litoral com ondas, com poucos fundos de pedra, em nossas surf trips buscamos, na maioria das vezes, aquela onda tubular que quebra com perfeição sobre a bancada, uma atrás da outra, uma igual a outra, onde o surfista se sente, verdadeiramente, como se estivesse sonhando acordado. 

O surf em si já é um esporte onde a conexão entre o homem e a natureza é gigantesca, a praia, a água salgada, a força do oceano, e é no tubo que essa relação atinge o seu ápice. É o momento em que o surfista precisa estar em total conexão com o pico, no mesmo tempo da onda, em uma sintonia completa. 

E, é claro, mesmo sendo uma das manobras mais antigas do esporte, onde, desde os anos 70, Gerry Lopez despertou em milhares de jovens o sonho de tirar um tubo em Pipeline, a galera continua em franca evolução. Hoje, meu amigo, até o drop já é dentro do tubo – pra quem sabe. O que foi aquela onda recentemente surfada pelo Nathan Florence, no Tahiti? Só nos deixa a certeza de que o limite está aí pra ser batido. 

E o melhor de tudo é que o tubo, ao mesmo tempo que é a manobra mais almejada por grande parte dos surfistas, inclusive dentre os profissionais, é uma manobra democrática, afinal, provavelmente, a maioria dos mortais viverá o resto da vida sem acertar um backflip, mas, se correr atrás, vai pegar aquele tubão! 

Recentemente, estive na Nicarágua, com amigos, na esquerda tubular e clássica de Miramar. Dentro dágua, tinha brasileiros, americanos, europeus, só não tinha mesmo nicaraguenses, uma pena. Mas enfim, todos ali tinham o objetivo comum de pegar um tubão. E, seja remando de volta no canal ou sentado no surfcamp descansando e olhando a galera surfar no pico, todos estavam sempre na torcida pra alguém completar aquele tubão. 

No terceiro dia de viagem, tive a sorte de ser escolhido pelo oceano, que me mandou uma das melhores esquerdas do dia com um tubo perfeito. Para os meus padrões, é claro. E, na boa, tão grande quanto a emoção de tirar um tubo limpo, foi poder ver a galera toda vibrando e gritando, no canal e no camp, mesmo aqueles que nem me conheciam, um momento de muita energia positiva.           

O fato é que nós surfistas, que já temos a alma jovem, por essência, ainda podemos contar com esse verdadeiro túnel do tempo, em que entramos adrenalizados e saímos mais jovens, mais leves, prontos pra outra.