Leitura de Onda

Um dia do avesso

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Adriano de Souza fica na repescagem do Volcom Fiji Pro e perde liderança do tour. Foto: Kirstin / ASP.

Sair do Brasil para a complexa onda de Fiji é um drama, sobretudo quando a liderança está nas mãos de um brasileiro. No round 2 do Volcom, realizado num Restaurants balançado e com tubos sem portas largas, caíram todos os surfistas de Pindorama. Sem clemência, sem perdão.

 

Primeiro, o líder, Adriano. Não é o mar em que o surfe do brasileiro mais se destaca, mas em qualquer arena ele será um grande competidor. Numa bateria morna com Yadin Nicol, ele achou, a 20 segundos do fim, o tubo que lhe daria a nota necessária para avançar, na casa de 6 e pouco. O comentarista, na narração em inglês, vaticinou, sem medo:

 

– I think he´s got it.

 

Em entrevista da ASP, Kelly Slater seguiu a mesma linha: “I thought Adriano is gonna get it”.

Mas Adriano não conseguiu virar. Perdeu no segundo round e, com isso, a liderança do circuito mundial. Eu também achei que ele tivesse virado, mas os juízes pensaram de modo diferente.

 

Eles não erraram. Adriano se esforçou , mas deu espaço para a dúvida na condição de líder do ranking, no round 2, contra Yadin Nicol. E campeonato é assim – que o diga Joel Parkinson, campeão mundial, que este ano foi eliminado em casa, com justiça, mas também por décimos.

 

Não estou em posição de aconselhar ninguém. Mas, se fosse um grande amigo de Adriano, diria para ele usar todo o tempo disponível de 2013 em treinos de ondas pesadas e tubulares, sobretudo esquerdas. Não que ele tenha problemas em ambientes ocos – já provou a todos o contrário em Portugal – mas é sempre bom buscar uma condição ainda melhor.

 

O domínio gera uma posição de conforto e convence juízes.

 

Gabriel Medina começou a bateria com um bom tubo. Se tivesse voltado na batida executada logo na sequência, talvez conquistaria a confiança necessária para não voltar a cair com tanta frequência. Foi vítima, talvez, da ansiedade associada a um mar balançado, complexo.

 

Alejo Muniz, outro super competidor, também teve a oportunidade, no segundo final. Mas ficou dentro do tubo que lhe daria, provavelmente, a classificação em cima de Julian Wilson. Filipe Toledo não se encontrou naquele mar difícil, mas tem tempo de sobra: o importante foi ter conquistado quilometragem para eventos futuros.

 

Até a tarde desta sexta, antes da continuidade do round 3, restavam dois tiros para o Brasil: Miguel Pupo, que passou sem dificuldades pelo local de Fiji, e Heitor Alves, dono de uma das melhores apresentações do round 1. Se acontecer o melhor, só espero que a imprensa não me venha com essa história de Giant Killer. Isso é crítica velada.


Tulio Brandão é jornalista.

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".