Ao longo dos últimos anos, o catarinense Thiago Jacaré tornou-se um especialista nas ondas da Laje da Jagua, Jaguaruna (SC), uma das mais temidas do Brasil.
Além disso, ele é o organizador do Mormaii Tow in Laje da Jagua – In Memory of Zeca Scheffer, evento de ondas grandes que não rolou neste ano por falta de boas ondulações.
Em junho deste ano, Jacaré foi vítima de um acidente sério na Laje. Pego de surpresa por um degrau, ele foi lançado na bancada e esmagado nas pedras.
Ao subir, desacordado, foi resgatado pelo colega Fabiano Tissot, que o rebocava, e por Marcus Pettini, que veio com mais um jet prestar socorro.
Na entrevista a seguir, Thiago fala um pouco sobre o acidente, seu envolvimento com a Laje e também sobre o evento Mormaii Tow in que acabou não acontecendo.
Quando e como a Laje da Jagua passou a ser surfada de tow in?
Foi em 2003. Zeca Scheffer trouxe Rodrigo Resende aqui e eles pegaram altas ondas em um final de tarde histórico.
Como começou seu envolvimento com o esporte?
Depois disso eu conheci Zeca e fui para a Laje com ele. Continuei indo, mas infelizmente ele faleceu em 2006.
Depois veio (João) Capilé morar aqui na Jagua e por três anos treinamos muito. Quando ele foi embora eu treinei o Plínio (Cruz), meu amigo de infância aqui da praia, e montamos a dupla.
Como foi o Mormaii Tow in Pro, primeiro campeonato brasileiro de tow in, realizado em 2006?
Foi um sonho realizado junto com o Zeca e deu altas ondas. Surfamos a esquerda em um dia e a direita no outro. Ali eu ganhei inspiração para continuar no esporte, logo depois o Zeca faleceu. Então, foi algo bem marcante na minha vida.
E também foi uma experiência ótima receber no quintal de casa as melhores duplas do tow in nacional. Todos surfaram muito bem e, no final, Carlos Burle e Eraldo Gueiros levaram o caneco.
Fale um pouco da onda da Laje da Jagua.
A esquerda tem mais tamanho, é uma onda longa e com volume. Há várias seções, drop, tubo, e nos dias lisos rola na remada também.
Mas o que mais impressiona mesmo é a direita, pelo tubo grotesco e pela base mutante, que é muito radical até nos dias menores. A esquerda pode até ser maior, mas a direita é que surpreende.
E o que rolou no inverno deste ano durante o período de espera do evento? Não entraram ondas grandes o suficiente?
As ondas vieram todas antes do período, foi um ano atípico, nem o rebojo da tainha entrou. Até os pescadores estão tristes, pois não deu ressaca e o peixe não encostou. Julho mesmo foi flat.
E qual a expectativa agora?
Como padrão nos eventos de ondas grandes mundiais ele ficou marcado para a próxima temporada.
Você tomou um caldo feio este ano e quase perdeu a vida na Laje. Conte um pouco desse incidente.
Dói até hoje, faz cinco meses. Lembro de pouca coisa, mas sei que bati de cabeça e de costela na pedra com toda força. Sorte que estava de capacete e colete salva-vidas.
Estava pilotando havia um bom tempo e, na minha primeira onda surfada, entrei em uma intermediária, uma esquerda mutante com a base desnivelada.
Acreditei e fui até o final, mas tomei o pior caldo da vida.
Meu parceiro teve que fazer uma ressuscitação cardio-pulmonar no jet mesmo, enquanto voltávamos para a praia, pois eu havia desmaiado.
Fui direto para o hospital com as costelas trincadas e água no pulmão. Estourei os dois ouvidos, os dois pulsos e peguei uma pneumonia punk. Quando a frente fria vai entrar fico sabendo com dois dias de antecedência – minhas costelas doem de um jeito agudo me avisando.
Você surfa na Laje com o long e o colete de tow in da Mormaii. Você sentiu que se não estivesse com equipamento de segurança adequado poderia ter um final ainda pior?
Eu não teria voltado se não estivesse com a roupa de goma e colete. Agradeço a Mormaii por realmente preocupar-se com nossa segurança por meio da qualidade dos seus equipamentos. Pode mandar mais umas três destas (risos).
Deixe um recado para quem quiser se arriscar a surfar na Laje um dia.
Venha com preparo psicológico, bom condicionamento físico, experiência no tow in, sorte e respeito aos locais. Lá a barca é forte!