Leitura de Onda

Um mar de monstros

John John Florence, Rip Curl Pro 2013, Supertubos, Portugal

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Na segunda metade da temporada, John John Florence encontrou um ritmo perigoso, passando a aliar o incontestável talento com uma nova e surpreendente capacidade competitiva. Foto: © ASP / Cestari
 

Gabriel Medina é campeão mundial e novo ídolo nacional, paradigmas foram dilacerados, o nosso velho mundinho foi descoberto pela grande imprensa.
 
Muita coisa mudou, um título mundial pode transformar algumas verdades, como já dito em outras colunas, mas o caminho dos brasileiros na temporada de 2015 promete passar longe do conforto. Não vai ter moleza, entre outras razões porque há uma fila, formada por garotos da nova geração, pronta para vencer.

John John Florence é o eleito da vez. Na segunda metade da temporada, encontrou um ritmo perigoso, passando a aliar o incontestável talento com uma nova e surpreendente capacidade competitiva. Quase, por muito pouco mesmo, transformou-se na maior pedra do sapato de Gabriel.

O tradicional prêmio Surfer’s Poll, dado ao havaiano no fim do ano, é um sinal inequívoco de como pensam os estrangeiros. Eles, claro, acreditam que John John é o melhor do mundo, embora a maioria deles concorde que Gabriel foi o dono incontestável da temporada.   

Não há o que criticar. A subjetividade do julgamento praticamente nos obriga à escolha de um padrão de excelência a ser seguido. JJ é mesmo brilhante.

Um dos nomes historicamente ungidos pelas bênçãos deste público foi o americano Dane Reynolds, dono de um surfe fabuloso, com padrão estético sofisticado, que combina power clássico e inventividade.

Dane não foi adiante por falta de vocação competitiva. Ou, quem sabe, por não suportar a pressão – também invisível – de ser um eleito.

Outros surfistas, se não ungidos, estão sempre bem cotados: Julian Wilson e Owen Wright. Assim como no caso de Dane, a preferência pela dupla não é absurda. Os dois australianos têm um surfe limpo, sem arestas, elegante.

Owen chegou a brigar pelo título na temporada de 2011, mas acabou sucumbindo a contusões sucessivas. Era uma aposta para o título.

Julian apareceu como grande promessa australiana. Venceu duas etapas – em ambas derrotou Gabriel na final – mas não conseguiu convencer para o título.

A vitória na etapa de encerramento de 2014 pode ter alimentado a autoestima de Julian e, com isso, contribuído decisivamente para, em 2015, transformar um surfista inconstante num candidato real ao título. O australiano me parece um surfista especialmente submetido a seu estado psicológico.

Jordy Smith é outro que chega cada vez mais perto dos líderes. Ano passado, suas últimas duas vitórias sobre John John livraram o Brasil de um fim de temporada ainda mais tenso, já que, se o havaiano vencesse, chegaria a Pipe com chances.

Mick Fanning, Joel Parkinson e Kelly Slater – este se permanecer no tour – sempre estiveram no topo e , claro, não gostaram de ver a casa invadida por um garoto da nova geração. Pior: eles sabem que Gabriel provou da glória e gostou. Quer mais. Tem também os outros brasileiros, com destaque para Adriano de Souza e Filipe Toledo, que prometem esmurrar a porta dessa velha mansão, e o crescimento de Miguel Pupo.

A temporada de 2015, antes de começar, tem uma penca de candidatos reais ao título. É muita gente boa para pouca vaga no Olimpo. A ver.

Nota triste: Meus sinceros sentimentos à família de Ricardinho. Uma coluna sobre o seu legado será publicada na próxima semana.

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