De acordo com os historiadores, a região do Ocenano Pacífico conhecida como Polinésia, que é um conjunto de ilhas que engloba as regiões da Nova Zelândia, Chile e Estados Unidos, foi povoada há cerca de três mil anos.
Os primeiros povos que lá chegaram se locomoviam por meio de canoas cuja propulsão era feita por meio de remos e velas. Essas canoas se tornaram um dos mais fortes e representativos ícones da cultura polinésia, mantendo suas caracteríscas fundamentais – o casco, chamado “Hull”, o flutuador lateral, chamado “Ama” e os braços que ligam a canoa ao flutuador, chamados “Iakos” – mas com algumas adaptações de acordo com as características locais.
No Havaí, por exemplo, onde o mar é mais agitado, as canoas têm uma curva de fundo envergada, propícia para essas condições, e são totalmente abertas na parte superior, ao passo que no Taiti, elas possuem formato mais alongado e são montadas com um cockpit fechado para cada um ou dois remadores, dependendo do modelo. Características, que podem passar despercebidas para o leigo, mas são fundamentais para a identidade de cada uma delas.
Enquanto no Havaí elas são chamadas de outrigger, wa’a ou OC (abreviação de outrigger canoe), no Taiti elas são conhecidas como va’a ou V.
Ambas são usadas para o mesmo fim – transporte, competição ou recreação – e possuem as três partes fundamentais neste tipo de embarcação. Porém, mesmo sendo similares entre si, a taitiana é mais competitiva, principalmente por causa de seu shape. E apesar de uma certa rivalidade entre as ilhas, não é errado afimar que a taitiana é um modelo mais moderno, que evoluiu a partir da havaiana, que se manteve mais fiel às origens.
E NO BRASIL? A primeira canoa a chegar ao Brasil foi um modelo outrigger, trazida pelo remador caioca Ronald Willians. Batizada de “Lanakila”, essa canoa foi usada como base para que Fabio Paiva, no ano 2000, em Santos (SP), produzisse a primeira canoa brasileira. Pouco tempo depois, o Rio de Janeiro (RJ) estava colocando na água sua primeira canoa e, assim por diante, Florianópolis (SC), Salvador (BA), Brasília (DF), Porto Alegre (RS) e demais cidades do Brasil.
Por aqui ela ficou mais conhecida como “canoa havaiana”, no entanto, com o tempo, os modelos taitianos começaram a chegar e, com isso, outras nomenclaturas foram surgindo: canoa taitiana, polinésia e va’a – sendo este último cada vez mais em voga.
Nas competições, tanto as nacionais, como as internacionais, as categorias são divididas de acordo com modelos havaianos e taitianos, uma vez que as canoas menores também apresentam diferenças. Sendo assim, quem compete nos modelos havaianos ou outrigger, compete na classe “O” (OC6 ou OC1, por exemplo) e quem usa os modelos taitianos ou va’a, complete na classe “V” (V6 ou V1, por exemplo).
No entanto, no Brasil elas são genericamente chamadas de “Canoas Havaianas” ou “Va’a”, sejam taitianas ou havaianas. E, ainda que tais nomenclaturas se tornaram praticamente uma metonímia, ou seja, o uso de um nome no lugar de outro, pelo emprego da parte pelo todo (ex.: chamar de “Gilette” toda a lâmina de barberar), tendo em vista que esse modelo de canoagem tem sua origem arraigada às raizes da cultura polinésia, em minha opinião, o mais correto seria chamá-las genericamente de “Canoas Polinésias”, seja o modelo taitiano ou havaiano.
Independente disso, seja qual for a nomenclatura usada, o mais importante, que é a magia e a tradição que essa modalidade de canoagem nos oferece, seja mantida.
Aqui, um bom remador não deve ser somente forte e técnico. Para ser um verdadeiro remador polinésio, você precisa respeitar a canoa, respeitar os outros remadores, os oceanos e a natureza. Imua!