Leitura de onda

Velhos ídolos, novas manobras

Bede Durbidge, Quiksilver Pro 2010, Snapper Rocks, Austrália

Bede Durbidge voa durante o Quiksilver Pro 2010, Snapper Rocks, Austrália. Foto: Gabriel Teixeira.

O trem do Dream Tour chega esta semana a Imbituba para a terceira parada do ano. A expectativa inicial de que a velha guarda do circuito seria atropelada pela nova geração parece, pelo menos até a próxima bateria, esquecida.

 

Os experientes yodas do tour tiveram, nas primeiras etapas, o fantástico desprendimento de aprender com os mais garotos. Quando perceberam a virada do esporte, com novas manobras e com mais velocidade, deram um jeito de assimilar novos truques com o trem em movimento. 

 

Trata-se de um dos atributos dos grandes do esporte: a capacidade de se reinventar, de se adaptar às novas exigências impostas pelo tempo.

 

Nas quartas-de-final de Bells, contra o sempre mutante Kelly Slater, até Bede Durbidge – que apesar de não estar entre os mais velhos (27 anos) tem uma linha mais clássica – resolveu tentar o novo.

 

Atrás do placar na bateria, o australiano acelerou numa onda da série e voou absurdamente, no maior aéreo executado na competição. Chamaram a manobra de Big Air, aos berros, na locução ao vivo em inglês.

 

Na volta, por muito pouco, não conseguiu manter o equilíbrio. A sensação foi de que Bede só não voltou por ter caído de uma altura realmente alta e sentido o impacto da queda da prancha na onda. Se tivesse completado a manobra, provavelmente teria parado Slater. E a história do evento seria outra.

 

Aliás, em tempo, antes de seguir com o assunto: o aéreo simplesmente não foi incluído no vídeo on demand do evento. Não tenho concordado com o critério de edição desses vídeos. Muitas vezes, ondas importantíssimas para a história das baterias são cortadas sumariamente.

 

Até Adrian “Ace” Buchan, que tem a idade de Bede, escreveu a respeito do assunto. Em seu valioso blog pessoal no site Surfline, assinou um bom texto intitulado “Desenvolvimento e Adaptação” sobre a capacidade de reinvenção dos velhos donos da bola.

 

Diz aí, Ace:  “O que eu amo no circuito é que todo mundo está aprendendo com todo mundo. Definitivamente, não são apenas os estreantes e wildcards aprendendo com os suspeitos usuais. É claro que, por ser uma cara nova, você chega ao evento e frequentemente ganha lições dos caras que já estão no tour em estratégias de bateria e como abordar diferentes picos. Porém, mais interessantes são as aulas que os surfistas do status quo estão tendo com os caras que batem na porta. Pegue o exemplo da performance acima-do-lip de Mick Fanning contra Gabriel Medina (que tinha passado pelo ex-campeão mundial CJ com um atraente surfe progressivo). Mas olhe também para o alley-oop com rotação completa de Kelly para vencer o evento. Tornou-se uma verdade para todos nós: precisamos nos desenvolver e nos adaptar”.

 

Com tantas lições, a parada brasileira do Dream Tour, pelas condições geralmente propícias a manobras aéreas, tornou-se desde já uma sala de aula com o que há de mais moderno e progressivo no surfe

 

mundial. A diferença é que os professores, neste caso, são os discípulos novatos. E os alunos mais aplicados,os velhos mestres. Quem ganha a melhor nota?

 

Tulio Brandão é repórter de O Globo, colunista do site Waves e da Fluir e autor do blog Surfe Deluxe

 

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