Vizinho mais que especial

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Nas condições ideais, Punta de Lobos produz uma das esquerdas mais cobiçadas do litoral chileno. Foto: Evertonluisimagens.com.br.

Convidado para integrar uma barca só com amigos e curtir uma espécie de férias durante o carnaval, logo pensei: nenhum surfista renomado, nenhum compromisso de ficar plantado na beira da praia com a câmera nas mãos, só amigos na barca… Humm, fechado.

 

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Preparei o equipamento e o quiver e no dia 25 de fevereiro saí de Florianópolis com destino ao litoral chileno, conhecido pela perfeição das ondas e pela água congelante.

 

Na companhia de Matuza Gonzaga, Lin Gonzaga e Cláudio Gilardoni, deixei a água quente de Floripa para cair em Ritoque, nossa primeira

Pôr-do-sol relaxante em Pichilemo. Foto: Evertonluisimagens.com.br.

parada depois de uma longa viagem. O contraste foi mesmo de doer os ossos. Mãos e pés congelaram já no primeiro contato com a água.

 

As ondas tinham 1,5 metros com séries de 2 metros e vinham meio balançadas, mas abriam boas esquerdas para dentro do canal. Apesar do contraste da água fria, conseguimos surfar boas ondas naquela primeira caída.

 

Nosso amigo Reginaldo da Luz, o Alemão, estava com os documentos irregulares e ficou pelo caminho ao ser impedido de atravessar a fronteira Brasil Argentina. Ele teve que aguardar a segunda via dos documentos chegar em Uruguaiana para nos encontrar mais tarde.

 

Dois dias depois fomos ao encontro dele no aeroporto e seguirmos para nosso destino, o Sul do Chile. Nossa parada era a Hazienda Topocalma, uma fazenda fechada que abriga um dos picos mais perfeitos de ondas do Chile e requer autorização para entrar. Conseguimos a liberação e seguimos em frente.

 

Chegamos a uma esquerda pouco conhecida chamada Puertecillo, onde acampamos praticamente em frente ao pico por apenas US$ 6 por dia. Sem um bom swell previsto para os dias seguintes, ficamos apenas três dias e meio e logo partimos para o Sul, mais precisamente para Pichilemo.

 

Acampamos em frente a um pico chamado Infernillo e os locais disseram que demos muita sorte, pois quebrou de gala desde a nossa chegada por mais três dias consecutivos. Esquerdas longas e fortes rolavam por incríveis 300 metros de extensão. As pernas cansavam, porem a água gelada não deixa a caída muito longa. Era inevitável sair para esquentar e armazenar forças para uma ?possível? caída mais tarde.

 

Sempre entre uma queda e outra checávamos Punta de Lobos, nosso objetivo principal em Pichilemo. Mas o swell durante esses cinco dias entrou torto e com vento também irregular para Punta de Lobos, porém encaixado como uma luva em Infernillo. Um dia antes de voltarmos a Puertecillo, conferimos novamente Punta de Lobos e as condições eram boas.

 

Ondas com 2 metros quebravam bem cheias ao lado das ?tetas? (como são chamadas as duas pedras no outside de Punta de Lobos). Do meio do caminho em diante, ela ficava mais em pé e rápida. Pude registrar belos momentos do line-up de Punta de Lobos, que visualmente é perfeito, mas na prática nem tanto. Talvez não tenhamos dado sorte em pegar o pico com boas condições, mas valeu a queda para fazer o reconhecimento da área.

 

Pichilemo guarda também outro pico de qualidade chamado La Puntilla, localizado bem na cidade e talvez o mais crowdeado pela facilidade da onda. A distância que a onda percorre é incrível. Tem vezes que ela dispara e se você não estiver bem das pernas e com a velocidade, não passa a seção de jeito nenhum.

 

Com tudo pronto, partimos com a Van abarrotada de volta a Puertecillo e fomos recepcionados da melhor maneira possível: 1,5 metros quebrando lá fora e ainda tivemos tempo para um belo banho de fim de tarde. Peguei as melhores ondas da viagem nessa caída. Tubos, rasgadas e cutbacks faziam até a gente esquecer a temperatura da água.

 

No dia seguinte o mar abaixou um pouco, mas continuou muito surfável e assim se manteve nos dias seguintes até a hora de irmos embora. Nem parecia que vinte dias passaram. A conclusão é que o Sul do Chile é uma Indonésia de água gelada bem do nosso lado, espero voltar em breve.

 

Agradecimentos ao pessoal dos surf camps de Infernillo e Puertecillo; ao senhor que nos cedeu espaço em seu terreno para acamparmos em Ritoque; aos chilenos Yoyo, que nos acompanhou, e Julian Garcia, que nos deu preciosas informações em busca das ondas; a José, representante da Index Krown no Chile, e a todos que nos ajudaram nessa surf trip.

 

E nenhum agradecimento aos policiais argentinos, que nos fizeram desamarrar todas as pranchas, tirar toda bagagem para fora da van e ainda abrir tudo que pudesse ser aberto. Nem lembro quantas vezes fizemos isso, sem falar na grana que nos levaram. Se alguém souber um jeito de ir para o Chile por terra sem passar pela Argentina, por favor me avise.