João Carlos de Abreu Cabianca, ou somente Johnny Cabianca, renomado shaper brasileiro é uma figura icônica no cenário atual do surfe mundial. Nascido em São Paulo, ele iniciou sua jornada na fabricação de pranchas em 1978, quando começou a fazer reparos. Seu talento e paixão pelo esporte o levaram a trabalhar na fábrica Summer Boards em 1980, onde desempenhou múltiplas funções em uma época em que não havia divisão clara entre shapers, laminadores, lixadores e pintores.
Atualmente residindo em Zarautz, País Basco, Espanha, ele recorda que os anos 1980 foram desafiadores, sem acesso à internet e com poucas referências. As pranchas da época eram polidas, com quilhas fixas e pintadas, exigindo muito trabalho manual e criatividade. Cabianca descreve aquele período como os “alquimistas dos anos 1980”, experimentando e aprendendo na prática.
Em 2009 Johnny teve um divisor de águas em sua carreira ao começar a trabalhar com o tricampeão mundial de surfe, Gabriel Medina, um dos maiores talentos do surfe mundial, que à época era mais um jovem de Maresias, aspirante ao sucesso no surfe. Essa parceria impulsionou o shaper a criar modelos específicos, catálogos e a amadurecer sua abordagem frente ao mercado e à mídia.
Atualmente o shaper possui sua própria fábrica em Zarautz, na Espanha, e trabalha com diversos parceiros ao redor do mundo, como a Pró-Ilha, uma das maiores fábricas brasileiras, além de estar prestes a inaugurar uma loja na Indonésia. Na entrevista exclusiva concedida ao Waves Cabianca fala de sua relação com Gabriel Medina, assédio de outros shapers, produção, tendências, entre outros assuntos.
Fale sobre seu início na fabricação de pranchas:
Meu início profissional foi em 1978, fazendo reparos em pranchas. Dois anos depois comecei a trabalhar na Summer Boards. Nessa época eu era uma espécie de faz tudo, não tinha essa divisão entre ser shaper ou laminador. Todo mundo fazia tudo. Era uma época bem complicada porque não havia Google, não tínhamos tutorial de nada e as pranchas, praticamente todas, eram polidas, com quilhas fixas e pintadas, o que demandava ainda mais trabalho.
E como não tínhamos muitas referencias, fazíamos na raça mesmo, éramos os alquimistas dos anos 1980: era misturar e ver o que acontece. Fui levando nessa toada até o início dos anos 1990, quando comecei a fazer minhas primeiras experimentações como shaper. Fui fazendo, aprendendo, pesquisando e em 1993 comecei a trabalhar para o célebre Luciano Leão, shaper brasileiro que criou a máquina computadorizada DSD.
Trabalhei com ele até o ano 2000, quando recebi um convite para trabalhar na Europa, e daí eu comecei a ficar meio nômade na profissão, sempre mostrando meu trabalho, minha técnica e aprendendo muito sobre produção.
E foi assim que desenvolvi mais a parte do desenho e do shape em si. Depois comecei a trabalhar em grandes produções, grandes mesmo, o que me trouxe muita tarimba. Aliás, eu sempre fui um cara de produções com muito volume de pranchas, inclusive tenho alguns recordes de produção mas isso não vem ao caso. Essa fase serviu para afinar todo o meu conceito.
E no meio disso tudo, conheci grandes profissionais, pessoas que eu admirava muito, e acabaram virando amigos. Até hoje trocamos muita informação. No meio disso tudo vieram os atletas, pois acredito que é essencial trabalhar com atletas. Em 2009 foi o meu grande divisor de águas, quando comecei um trabalho sério com o Gabriel Medina. A partir desse trabalho, comecei a criar modelos específicos, catálogos, além de entrar em um processo de amadurecimento frente ao mercado, mídia etc.
Hoje estou com a minha própria fábrica aqui em Zarautz, na Espanha, divisa com França. Minha fábrica é relativamente nova, estamos com sete anos. Hoje tenho vários parceiros ao redor do mundo, entre eles a Pró-Ilha, que é minha segunda casa. Nesse momento estou com viagem marcada para Austrália onde irei visitar meu distribuidor. Também iremos inaugurar uma loja Cabianca em Bali.
Você é o cara que faz as pranchas para o atual melhor surfista do mundo e já fez pranchas para vários outros atletas. Como você lida com a dedicação a um cara tão especial como o Gabriel e ao mesmo tempo cuida da sua projeção como shaper?
Antes de vir pra cá eu morava em Maresias e já era amigo dos pais dele. Eu vi o Gabriel crescer, lembro dele com 3…4 anos, um menino normal da praia. Eu era fabricante de pranchas e já criava um certo desejo junto à molecada por conta de eu sempre estar com pranchinhas novas, testando, surfando, eles sempre curtiam ficar ali ao meu lado.
O meninos sempre me visitavam, ficavam vendo eu trabalhar, olhando as pranchas novas que eu chegava na praia. Maresias tem isso, é um lugar do surfe e hoje do jiu-jitsu também (rs). Até hoje tenho grandes amigos dessa época como o Caixa D´água, o Gilmarzinho Pulga, entre outros.
A casa dos meus pais é no Guaecá e eu vi o Charles (padrasto de Gabriel Medina) adolescente. Sobre o Gabriel especificamente, lembro que tivemos grandes nomes como o Danilo Grilo, Alemão de Maresias, Eduardo Bueno, Oscar de Souza, entre outros vários talentosos surfistas que surgiram no Litoral Norte de São Paulo.
Essa molecada toda tinha potencial para serem grandes competidores, mas o Gabriel teve um diferencial. Não sei se podemos considerar que foi o trabalho do Charles, que sem dúvidas teve um grande papel em sua carreira, ou o próprio Gabriel, que explodiu repentinamente.
Como se deu esse reencontro?
Eu fiquei muito tempo fora do Brasil até que a gente se reencontrasse em 2009. Quando ele ganhou o WQS na Praia Mole e depois veio fazer a perna europeia do WQS o Charles me ligou e eu os convidei para ficar na minha casa. Fizemos umas pranchas, na época eu não tinha muita grana, mas fui investindo e a coisa foi rolando naturalmente.
Mas eu não acreditava ainda que ia sair dali do Litoral Norte esse fenômeno.Eu era um cara que já fazia pranchas par grandes surfistas, entre eles o Leo Neves, Sunny Garcia, Simão Romão, entre outros.
Confesso que na época eu pensava: será que vai ser mais uma emoção de momento, mais um lampejo de talento? Um evento que foi decisivo nesse processo foi o King Of Groms, no qual ele fez cinco notas 10 durante a competição.
A partir dai grandes resultados foram aparecendo, como o ISA Games que ele venceu na Nova Zelândia, seguiu competindo no WQS, ganhando etapas, até que em 2011 ele se classificou para o Tour. Nesse momento comecei a ver alguma coisa diferenciada naquilo, em tudo que estava em volta.
Na postura da mãe, na postura do Charles e tudo que estava ao redor do Gabriel. Eu falei assim: pera aí isso ai tá diferente! Inclusive penso que muita coisa que está acontecendo atualmente no circuito é uma imitação do que o Charles fazia naquela época.
Então você detectou um talento bruto no Medina, e como conseguiu fazer as pranchas ideais pra ele?
Tinha muita coisa além do talento do Gabriel. Eu fui fazendo meu trabalho de tentar ler o corpo dele, seu biotipo: quanto ele precisava de volume, de área de bico, enfim, suas demandas como atleta de ponta. Uma história interessante foi quando criei o modelo famoso que é o DFK (Da Freak Kid) que nasceu no King Of Groms.
Na época o Martin Potter fazia os comentários do evento e sempre que o Gabriel pegava uma onda ele ficava histérico, descontrolado (rs) e mandava “da freak kid is coming again”. Aí eu pensei: modelo do Gabriel irá se chamar DFK. Desse modelo surgiram outros como o The Game, o Mega e fui diferenciando curvas, foils, posição de quilhas, para cada situação.
Tem algum outro atleta com potencial de CT que você está trabalhando atualmente?
Atualmente eu estou trabalhando com um moleque que é brasileiro que também tem nacionalidade francesa e compete pela França, o Tiago Carrique. Ele mora na Costa Rica, e compete no Challenger Series. Venho desenvolvendo um trabalho bem sólido com ele. Comecei a fazer pranchas com mais curva, com menos curva, entre outras experimentações.
Eu explicava: essa é para onda boa, essa é para onda fraca e no final ele usa só o modelo DFK: uma um pouquinho maior e mais estreita e outra que é menor e mais larga. Além do Tiago, estamos ai com atletas do Brasil, do Japão, da Indonésia.
Como você lidou e lida com o assédio de outros shapers ao Medina?
Quando eu comecei a trabalhar com o Gabriel não existia essa relação de patrocínio, o que existia e existe até hoje era uma amizade. E nessa relação a minha máxima sempre foi: precisou, tô dentro! Precisa de cinco pranchas, tá aqui. Precisa de dez pranchas, feito. Tá indo pra África do Sul, tô mandando oito.
Vai pra San Clemente, vou enviar mais dez. Mas era uma época em que eu trabalhava como back shaper para alguns grandes shapers como o Matt Biolos (Lost), o (Wade) Tokoro, entre outros porque a Pukas (tradicional fábrica de pranchas espanhola) tinha licença de muitas marcas internacionais e eu era o responsável pela área de shape.
Eu pensava: pô, o que é patrocinar um atleta, como isso realmente funciona? Nessa relação o ideal é que você crie uma afinidade e o atleta se sinta à vontade para escolher se realmente quer surfar com suas pranchas. Ele pode gostar do seu trabalho, mas pode acontecer uma série de fatores nos quais o atleta deixe de gostar.
E se você tem um contrato assinado, mas ele não estiver curtindo as pranchas, tudo que você fizer, nunca estará bom. E caso você insista em algo por vias legais, vai carregar a culpa de estar estragando a carreira dele naquele momento. Comparando: se o time está perdendo a primeira cabeça que cai é a do técnico. No caso do surfe, é a do shaper.
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Você exige exclusividade do Gabriel?
Houve ocasiões nas quais o Gabriel viajou e eu encomendei pranchas com outros shapers. Como na vez que ele foi para a Austrália e fizemos um quiver com o Darren Handley da DHD, ou quando atualmente ele vai para o Havaí e faz guns com o Tokoro. Em San Clemente já fizemos com o Biolos em uma ocasião. Não forço a barra por exclusividade porque confio em nosso trabalho.
Além disso, tenho um problema de logística até hoje com alguns lugares e o Havaí é um deles. Quando você tem uma caixa de pranchas com uma certa medida, talvez até 6’3” mais ou menos, custa um preço. Se ela sobe uma polegada, o preço sobe consideravelmente e ainda há a questão do extravio. Então procuramos pensar de forma prática e produtiva. Então por quê eu vou fazer 6’4”, 6’6” ? Chama o Tokoro e resolvemos.
Atualmente a final do CT é em Trestles, lugar onde provavelmente ele surfará de Cabianca, mas antes era em Pipe. Como você lidou com o fato de não ter suas pranchas aparecendo no “Dia D”?
Por azar meu, os dois primeiros títulos do Gabriel foram conquistados em Pipe, com pranchas do Tokoro e as fotos que ficaram marcadas foram feitas com essas pranchas. Nesses anos eles surfou o circuito todo com minhas pranchas, mas no final as principais fotos foram de Tokoro. Mas aí entra o lado amigo à frente do shaper: eu queria que ele fosse campeão, ficava na torcida e nem olhava a prancha que ele estava usando.
É o caso de se preocupar com a pessoa, e não com o atleta. Esse ano ele caiu em Pipe com minhas pranchas e infelizmente não avançou muito. Conseguimos aprimorar nossa parceria e chegamos juntos à conclusão de que os melhores resultados foram conseguidos com minhas pranchas. A partir dai o trabalho se solidificou ainda mais.
Atualmente atletas de 12 anos já são tratados como profissionais e são assediados constantemente, como você se posiciona quanto a isso?
A história de cada atleta não mente. Alguns pais de “atletas”, chamam de atletas mas são crianças. Eles me procuram e falam do suposto potencial de seus filhos. Todo mundo quer ser o novo Medina. Principalmente no Brasil, onde eles aparecem como uma solução de vida para a família.
Já aqui na Europa existe aquela emoção do momento, o moleque está ganhando campeonato e já tem uma marca grande colocando adesivo no bico dando duas camisas e um chinelo por mês. Nessa fase a diferença técnica e muito grande. Você tem um muito bom, dez mais ou menos, e um monte de outros que estão tentando.
Só que quando começa a chegar aos 15 anos, esse que era muito bom segue o sendo, os que eram mais ou menos vão se nivelando e muitos outros desistem. A partir daí começa a haver uma bifurcação em suas vidas. Nesse caso, a motivação dele para enfrentar a derrota é um divisor de águas em sua carreira pois ele vai ver que competir é muito mais que ganhar. Aqui na Europa não são poucas as vezes que já ouvi: esse é promessa! Esse será o novo Kelly Slater!
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Então você acha que o caminho para uma carreira no surfe deve ser o mais natural possível?
Sim. Os pais me passam mensagem pelo Instagram falando: olha o que meu filho faz com oito anos. Pô brother, leva a criança pra praia, deixa ela brincar, deixa ele ficar oito horas dentro da água se divertindo. Esquece campeonato, se tiver uma competição, leva ele pra se divertir, pra soltar pipa.
Lembro do Gabriel quando era pequeno, ele ficava na areia brincando, jogava futebol, dando cambalhota, jogando capoeira, e quando dava a hora da bateria o Charles o chamava e ele ia para bateria e quebrava, mas sempre se divertindo. Hoje os pais colocam a criança com 12 anos no psicólogo terapeuta esportivo pensando em competição.
Você faz algum modelo para essa molecada miúda?
Eu tenho um modelo que batizei de Muleke. Aqui na Europa a molecada anda muito de skate e com 6…7 anos já estão entrando no half pipe e fazendo coisas que você não acredita. Entretanto, eles querem ir pra água também, mas e na hora que eles querem surfar os pais pensam em fazer uma 5’8”.
Mas o menino (a) não tem nem 5 pés de altura; então ele tenta fazer o que ele faz no skate em um “barco”. Ele não consegue, claro. Desenvolvi algumas umas pranchas 3’10” e aperfeiçoei esse modelo que vai até 5’2”, 5’3” a prancha funciona muito. Tanto os meninos quanto as meninas se dão muito bem com a Muleke.
Falando sobre materiais da pranchas do Gabriel, ele usa PU e Epóxi?
O epóxi entrou forte, melhorou muito a qualidade da resina, os blocos de EPS também melhoraram bastante e temos uma resina mais fácil de laminar. As pranchas de epóxi se aprimoram a cada dia e podemos dizer que temos uma construção muito boa para certas situações. Falo isso porque todos atletas que tenho usam muito EPS.
Porém o Gabriel compete no CT, circuito em que e as ondas são de consequência e potentes. A competição começa em Pipe, depois segue para Sunset e você não vai ver ninguém surfando essas ondas super potentes com epóxi. Depois eles seguem para Supertubos, em Portugal, onde pode ser que você veja alguém surfando com esse tipo de prancha, que flutua mais e são mais leves e sensíveis.
No CT o Gabriel não leva nenhuma prancha de epóxi, mas na casa dele temos algumas coisas diferentes. Pranchas em carbono, a vácuo, biquilhas, entre outras que ele usa amarradão quando está se divertindo. Já os atletas que competem no QS e no Challenger Series, que podem cair em condições desfavoráveis, usam epóxi.
As pranchas do Gabriel estão mais refinadas ou seguem na mesma linha?
Desde que eu estou com a fábrica nova, tenho variado muito pouca coisa nos modelos do Gabriel. Mexo no caimento de borda dependendo de como está seu peso. Uma mudança significativa não diz respeito ao shape em si. No caso, quando eu comecei a fábrica, decidimos que iríamos laminar as pranchas com as sedas dos patrocinadores ao invés de adesivos.
Lembro que uma vez eu e Charles passamos uma noite adesivando um quiver. A partir dai eu falei pra ele: vou passar esse trabalho para o laminador, que inclusive era eu (rs). O Gabriel amou, porque colar adesivo no fundo da prancha pode fazer com que ele comece a sair no meio da bateria, deixando aquela “língua” pra fora.
Isso deixa o atleta louco. Eu comecei com essa configuração para tentar amenizar aquele carnaval de logotipo. Ele gosta sempre de uma bordinha preta, e a prancha fica com um visual bem clean. Ano passado fizemos um quiver muito bonito para Teahupoo. Fiz umas pranchas com um azul exclusivo de uma fábrica de pintura que tem aqui na Espanha. Mas na parte de shape a prancha mudou muito pouco.
Para onde caminha a evolução das pranchas: material ou design?
Participei de uma espécie de seminário com alguns fabricantes na França no qual disse que o material de hoje não está acompanhando o design. Tem pranchas que duram apenas um campeonato, ou mesmo uma bateria.
O surfista quer uma prancha leve, com bastante flexibilidade. Ou seja, a prancha tem estar moldada ao seu pé, e ele quer sentir o funcionamento dela digamos, elegante. O material que se trabalha melhor hoje é o poliuretano, o poliéster e a fibra de vibra de vidro, que evoluiu mas ainda pode evoluir muito mais. Os blocos também evoluíram bastante.
Contudo, maneira de fazer a prancha segue igual: shaper, laminador e lixador. As quilhas têm ajudado pois temos vários tipos com materiais e formatos diferentes. Mas como eu disse antes, as pranchas não duram. Comecei a surfar no final dos anos 1970 época que as pranchas duravam.
Eu e meus irmãos tínhamos pranchas que duravam cerca de quatro anos e depois se bobear ainda eram vendidas para outras pessoas usarem. Em termos de desenho, se você pensar em termos de performance, as pranchas estão difíceis de sair dessa combinação atual. Tem um ou outro fazendo um quick tail mais elaborado e tal, mas nada muito significativo.
Então você acha que há muito pouco espaço para evolução em termos de medidas/design?
O que vem evoluído muito é toda essa parte de pranchas que não são necessariamente de performance. As mid lengths, biquilhas modernas entre outros tipos que funcionam muito bem. Ou seja é uma evolução do antigo que vem conquistando cada vez mais gente. Essas pranchas estão entrando muito bem no mercado. Eu sinceramente vejo poucos detalhes diferentes nas pranchas performances.
Por incrível que pareça, percebo muita habilidade hoje ainda nas mãos de laminadores e lixadores. Você pega as principais fábricas como a do (Marcio) Zouvi, que tem profissionais que são mestres na lixa e só eles que metem a mão nas pranchas dos atletas. Ou mesmo os laminadores que que conseguem equilibrar o peso da resina com a tela. Pra mudar isso só se inventarem uma máquina que a gente apertasse um botão e a prancha saísse inteira.
Como você faz suas pesquisas?
Eu procuro acompanhar as pranchas do circuito pra ver o que está acontecendo. Confiro o que os colegas de profissão estão fazendo e percebo que não estou muito distante. Vejo que eles também observam o que eu estou fazendo. Então eu não vejo muitas mudanças em termos de design nos próximos dez anos.
Tenho um amigo na Austrália que diz que a prancha tem que ser sexy e eu pergunto a ele: o que determina isso e ele não sabe responder. Mas é a realidade, você tem que tentar fazer algo que o cara tenha tesão, que tenha vontade de colocar embaixo do braço.
Quem são os caras que lhe causaram essa sensação de prancha sexy?
De 2000 a 2003 eu estava trabalhando com o consagrado shaper havaiano Jeff Bushman. Para mim foi como se eu tivesse um HD limpo e começasse a colocar informações novas. Foi realmente muito, muito intenso.
Eu acreditava que aquilo que eu estava vendo era o mais bonito de curvas. Eu tive aulas de pin line, tive aulas de corte de tela…Eu pensava: “Meu, eu não fazia prancha antes”. Mas aí você observa o cenário atual de pranchas no Havaí e percebe que eles perderam posições no que concerne ao mercado mundial. Antigamente a representação dos shapers havaianos era bem maior.
Atualmente temos o Jon Pyzel, que inclusive trabalhei com ele, um cara moderno, que viaja muito e está sempre com bons atletas e evoluindo muito. Mas aonde eu mais vejo mudanças, com detalhes sensuais, é na prancha dos shapers australianos como um todo.
O australiano é um consumidor de pranchas, não tão compulsivo como os americanos, mas consome muita prancha. E eu vejo uma linha muito limpa, moderna e as pranchas funcionam. O outro que admiro muito é o Matt Biolos. Vejo como ele trabalha e percebo algumas nuances que me surpreendem. Ele é um cara muito amigo, trocamos muita informação e um grande shaper.
Em sua opinião, qual o papel das piscinas no desenvolvimento das pranchas atuais?
As piscinas chegaram mesmo para fazer uma mudança porque existe um nível de investimento bem grande. Nos anos 1980 tivemos piscinas no Japão, Texas, com ondas consideradas ruins a medíocres e mesmo assim tinham campeonatos. O Fabinho Gouveia chegou a vencer em uma delas.
Hoje em dia as ondas já estão ganhando mais espaço são mega piscinas com trabalho de engenharia mais elaborado com ondas incríveis. As ondas são de alta performance mas também podem ser utilizados por pessoas que querem aprender. Em meu ponto de vista as piscinas são muito bem vindas. Isso faz com que o esporte ganhe mais consistência e acredito que em pouco tempo pode surgir circuitos exclusivos.
Aqui no norte da Europa, em países como Alemanha e Bélgica, por exemplo, estão rolando competições em onda estáticas. Já existe todo um mercado, com atletas, campeonatos, roupas. Para o esporte como massificação é bem positivo.
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