A movimentação de equipes durante o Isa World Junior Surfing Championship 2023, chama atenção de todos que passam pela orla do Recreio. Um show de bandeiras de várias nacionalidades transformou o bairro da Zona Oeste carioca em uma espécie de mini sede olímpica. O comércio, as pousadas, e claro, o crowd é composto por diversas etnias que ali manifestam sua vontade de competir, de surfar, tudo tendo o espírito de equipe como máxima em suas ações. Nações como Grécia, Dinamarca, São Tomé e Príncipe, Suiça, entre outras que não tem tradição no surfe, mas honram suas bandeiras dentro da água.
Algumas equipes recorreram à surfistas brasileiros como técnicos, ou reforço em suas equipes. Entre eles o Japão, que contratou o nosso samurai de Cabo Frio, Victor Ribas. A personalidade discreta de Vitinho foi perfeita para que ele se integrasse à equipe nipônica, sempre quieta, educada, discreta e dedicada.
A exemplo de Vitinho, que sempre se destacou por sua polidez – dentro e fora da água – equipe da Terra do Sol Nascente vem mostrando muita competência. Conversamos com o surfista de Cabo Frio sobre sua função na equipe Japonesa, Confira com exclusividade.
Qual é a sua função e como surgiu o convite para fazer parte da equipe japonesa
Eu já mantinha contatos com o Japão há bastante tempo. Tudo começou quando Dave Macaulay (surfista australiano que disputou o circuito mundial nos anos 1980) estava encerrando sua participação no circuito mundial e me propôs ser patrocinado por uma marca japonesa. Na verdade, ele me convidou para ser patrocinado pela mesma marca que o apoiava. Esse foi meu primeiro contato com o Japão. Em seguida, o Ricardo Bocão conseguiu apoio da X-cel para mim, e eu frequentemente ia para o Japão, ficando na Beach Road, uma loja em Shiba. Durante essas visitas, eles me levavam aos campeonatos e ofereciam todo o suporte necessário. No Japão, ter esse tipo de apoio é crucial. Desde então, mantive contato com amigos que fiz naquela época. Um desses amigos tornou-se médico da equipe olímpica japonesa e recomendou-me à Federação de Surfe Japonesa para apoiar a equipe deles nos ISA Games. Após a aprovação, fui contratado, e estou muito animado e feliz com essa oportunidade.
Em que consiste a sua função na equipe e como é a sua rotina com eles?
Minha rotina começa cedo, acordando às 4h e indo ao apartamento da equipe, onde devo chegar às 5h15. Lá, tomamos café e nos preparamos para ir à praia com toda a equipe, verificando os horários de bateria de cada membro. A equipe é bastante organizada, contando com um grande staff, incluindo cozinheiro, massagista e médica. Alguns membros ficaram doentes e estão sendo cuidados em um quarto separado. Temos duas bases, uma no hotel e outra em um apartamento próximo ao palanque. Minha função principal é compartilhar conhecimentos sobre as ondas, explicar como as coisas funcionam no Rio e oferecer uma perspectiva de um surfista brasileiro. Eles estão bem preparados, são competidores natos, e estou aqui para dar apoio e energizar a equipe.
Você ficou surpreso ao ver o alto nível do surfe dos japoneses?
Sim, fiquei surpreso. Antes, eu pensava que havia poucos surfistas bons no Japão, mas agora estou testemunhando uma geração de surfistas japoneses muito talentosos, com um nível excepcionalmente alto. O ISA Games, para mim, sempre foi considerado o Mundial Amador, com um nível inferior ao do QS e CT. No entanto, atualmente, percebemos que o nível deste evento está à altura de vários campeonatos profissionais. Este circuito ganhou destaque por conta do surfe nas Olimpíadas.
Quem você apontaria como destaque da equipe?
Anon Matsuoka é campeã asiática Pro Junior, já venceu um campeonato QS 5 estrelas e compete no Challenger Series. Acredito que ela tem todas as chances de ganhar este campeonato aqui na Macumba. Ela está aqui mais para ajudar o Japão. Ela domina todos os tipos de ondas, seja backside ou frontside, não tem tempo ruim. Ela está pronta para conquistar o título. Entre os homens, destaco o Ren Okano japonês mais talentoso que temos aqui. Ele está quase entrando no Challenger e demonstra uma abordagem independente, não costuma seguir todas as minhas dicas (risos). Ele surfa com força, realiza diversas manobras e também é um forte candidato ao título.
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Como é a comunicação com a equipe? Vocês têm um tradutor?
Um rapaz que fala espanhol e inglês trabalha com eles, e como o inglês é a língua oficial do circuito, todos os surfistas devem ter pelo menos noções dessa língua. Como já viajei bastante, meu inglês de viagem facilita a comunicação. Na verdade, acho até mais fácil me comunicar com os japoneses do que com australianos e americanos.
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Se você fosse apontar um diferencial coletivo, qual seria?
A disciplina e determinação da equipe são incríveis. Os atletas estão muito preocupados com o desempenho, alguns ficam emocionados e até tristes, pensando que poderiam ter feito melhor. Todos estão dispostos a colocar o coração e mais um pouco.
Como recebeu esse convite?
Fiquei muito feliz porque, estando em Cabo Frio, um pouco afastado dos campeonatos, as pessoas tendem a esquecer. Desde que parei de competir no circuito mundial, não trabalhei com nenhum outro surfista profissional. Atualmente, estou trabalhando com meu vizinho, Guilherme Barreto, e com meu filho Lucas, e ambos têm evoluído bastante. No Rio de Janeiro, estamos com muito pouco apoio com relação a apoios e patrocínios. Esta é uma oportunidade para mostrar meu trabalho. Muitos podem pensar que estou ultrapassado, só andando de kite em Cabo Frio. No entanto, vejo muitos técnicos que não tem tanta experiência em baterias e campeonatos como eu, trabalhando. Então essa é uma chance de mostrar que ainda estou aqui.
Pretende desenvolver algum trabalho como técnico de surfista profissional no futuro?
Sim, se surgirem oportunidades, será um prazer colaborar. Adoro surfar e sempre busco evoluir. Acompanho o circuito, observo como os surfistas estão se destacando e como os juízes estão avaliando. Acredito que é importante ter treinamento e objetivos para orientar efetivamente os surfistas, em vez de apenas ficar na beira gritando.