Se a volta do Oi Hang Loose Pro Contest 2019 promete agitar o início de temporada nas ondas tubulares de Fernando de Noronha (PE), fora do mar o alto nível técnico também está garantido. Ídolo do surfe brasileiro, Fábio Gouveia será o diretor de prova do evento, nas ondas da Cacimba do Padre, entre os próximos dias 19 a 24. Um cargo técnico, geralmente exercido por um especialista.
Nesse quesito, Fabinho tem total confiança de todos. Conhece como poucos as ondas e picos de Noronha e tem total identidade com o evento e com a marca. Aliás, foi o próprio diretor-executivo da Hang Loose que escolheu o atleta para essa função.
“Fiquei amarradão de receber essa incumbência. Existe seriedade. Durante muitos anos competi como profissional e, principalmente, competi nos Hang Loose e sei o que um surfista sente ali e como se comporta na maior parte do tempo. Não acho que será coisa do outro mundo”, destaca Fabinho Gouveia.
Posição tradicional nos eventos, o diretor técnico é quem olha pelo aspecto do surfe. É o responsável por decisões de cunho técnico, como ver as previsões para as chamadas para as disputas, colaborar com o tour manager da World Surf League (WSL) para montar o cronograma e também intervir junto aos competidores, em qualquer assunto que envolva o campeonato. “Ele é o maestro do evento, vai ter a responsabilidade de reger a nossa orquestra”, resume bem o tour manager da WSL South America, Roberto Perdigão.
Com mais de 30 anos de vivência no Circuito Mundial, Perdigão elogia a escolha. “O know-how do Fabinho é importantíssimo para agregar esse valor em termos de conduzir o campeonato nas melhores ondas, melhores marés”, diz o dirigente, lembrando que o diretor atuará num conjunto com o próprio tour manager, o head judge do evento e o representante dos surfistas. “Sempre um fórum, olhando o contexto geral, atendendo ao interesse de todos”, esclarece.
“Ele tem de estar atento a tudo, sobretudo qualidade de ondas, para ter um padrão que os juízes possam qualificar com propriedade. O Fabinho tem muita experiência em Noronha e horas de voo naquelas ondas de sobra. Isso é o que vale”, reforça Perdigão. Quem também gostou da escolha foi o comissário da WSL no Circuito Mundial QS, o sul-africano Travis Logie: “Incrível. Fiquei amarradão”.
Fabinho se diz preparado para o novo cargo e se sente mais confiante por conhecer muito bem o palco das disputas. “O convite partiu do Álfio. Até então nunca me imaginei nessa função, mas o desafio foi dado e vamos lá nessa nova empreitada. Claro que já acompanhei os trabalhos de alguns amigos, mas para mim não é um bicho de sete cabeças”, admite.
“Estou me ambientando no que vou fazer, já conversando com uma galera. O próprio Álfio já me deu uns toques”, conta. “Existe sempre a preocupação de agradar todo mundo, mas estou consciente de que é difícil. Cacimba do Padre é um beach break, onde tem uma grande movimentação de areia, e nesses momentos podem rolar horas boas e ruins. Por mais que siga ou paralise para ter as melhores condições, alguém vai pegar numa hora mágica e alguém na hora ruim”, argumenta.
O diretor de prova promete empenho total e interação com todos. “Vou ficar na praia mais tempo para observar tudo e tentar, numa ocasião de interrupção da prova, usar consenso com os atletas. Decisões em parceria com representantes dos surfistas, juízes e WSL. Sempre tentar colocar o pessoal na melhor hora.”
O Oi Hang Loose Pro Contest será realizado pela 32ª vez, sendo a 14ª edição em Fernando de Noronha, que há sete anos não recebia o evento. Foram 13 disputas seguidas na ilha, de 2000 a 2012. Neste ano, o evento terá status QS 6.000 do Circuito Qualifyng Series, da World Surf League (WSL), valendo importantes 6 mil pontos na disputa pelas dez vagas para a elite mundial. Serão US$ 130 mil de premiação, com US$ 25 mil ao vencedor.
O Oi Hang Loose Pro Contest é uma realização da World Surf League (WSL) com patrocínio naming rights da Oi, através da Lei de Incentivo ao Esporte, do Governo de Pernambuco. Copatrocínio da 51 Ice.
Mais de 30 anos de história sempre ligada ao surfe
Fabinho Gouveia foi um dos pioneiros do Brasil no Circuito Mundial. Em 92 garantiu um dos melhores resultados na história, terminando em quinto lugar no ranking da primeira divisão do surf. Antes, em 88, foi campeão mundial amador, iniciando uma trajetória que o tornaria ídolo ncional, e dez anos depois campeão do QS e brasileiro.
Nasceu em Bananeiras, no interior da Paraíba, cidade a 129 quilômetros de João Pessoa. E só aprendeu a surfar aos 13 anos, na capital paraibana. Aos 49 anos, vive do surfe há mais de 30, e segue competindo como master, além de se dedicar à fabricação de pranchas.
“Meu melhor momento como competidor foi quando fui quinto no geral no CT. Estava no auge. Ganhei provas. Como em 91, venci Biarritz e Sunset. Foram anos mágicos”, lembra. “Quando eu saí em 2003, poderia ter ficado um pouco mais. Conseguido melhores performances em ondas pesadas. Eu estava surfando melhor ondas tubulares, melhorado em Pipeline. Quando tentei voltar, machuquei a coluna, tive de fazer a cirurgia e minha carreira ficou por ali, com gostinho de que poderia ter ido melhor”, acrescenta.
Ele sabe que no geral teve uma carreira vitoriosa, sobretudo pelas dificuldades da época. “Para a gente, que estava desbravando o Tour, tentando levar o nome do Brasil lá em cima, perante todas as dificuldades, foi praticamente como um título”, ressalta. “A gente tinha retorno de mídia praticamente comparado aos dias atuais, guardadas as proporções, porque os brasileiros nunca tinham os resultados que tivemos. Sempre causada aquele frenesi”, complementa.
Outro momento especial foi a vitória no próprio Hang Loose Pro Contest, novamente como pioneirismo, sendo o primeiro brasileiro, em 1990, em Guarujá. “Fui bem-sucedido na minha carreira no geral. Viajei com a família a vida inteira, consegui acompanhar o crescimento dos meus filhos, na medida do possível. Casei com a Elka e ela tomou conta dos bastidores. Foi um casamento perfeito.
“Agora venho evoluindo meu surfe em ondas maiores, participo de eventos especiais que surgem. Principalmente os masters. Adoro quando essa galera se reúne. Tinha vários caminhos para seguir na carreira, uma coisa era certa eu sempre queria estar dentro do surf e viver do esporte a vida inteira. O shape, a fabricação de pranchas, foi algo que me cativou desde moleque”, revela.
Na década de 90 ele chegou a fazer pranchas, parou porque não tinha como conciliar com os treinos, família e competição. Em 2009, voltou a fabricar e de lá para cá sempre investiu em sua preparação. “Mas o surfe em si ainda continua rendendo muito para mim, com viagens, clínicas. Estou absorvendo algumas partes do surfe que não conseguia quando era competidor, tendo contato direto com a galera que sempre admirou meu trabalho. O negócio está sempre fluindo, não para. Meu objetivo é shapear pelo Mundo, como Japão, Portugal, Espanha, Havaí.”