Venho compartilhar aqui as experiências de um longboarder surfando nas piscinas de ondas da Wavegarden.
Minha primeira oportunidade de surfar em uma piscina foi em abril de 2023 na Praia da Grama, em Vinhedo (SP).
Optei pela sessão intermediária, pois achei mais prudente do que ir direto ao avançado. A sessão tinha 90 minutos de duração, com os últimos 30 minutos de ondas para tubo.
A sensação era a de estar num filme de ficção científica. Além da piscina ser um item surreal, todo o ambiente estava impecavelmente arrumado. Móveis novos e de primeira, tudo jardinado, palmeiras. E a areia parecia ter sido moldada para parecer uma praia virgem.
Também não havia quase ninguém no local.
Entrei no lado direito com mais duas pessoas. A mecânica de pegar a onda é bem diferente e leva um tempo para se acostumar com o esquema.
De longboard, eu esperava a onda um pouco mais atrás, pois pegava mais velocidade e podia descer antes, o que propiciava um drop mais tranquilo. Porém, eu acabava ficando bem próximo ao canto da piscina, olhando o encontro das duas paredes, como de castigo no canto da sala.
Uma dificuldade inicial foi a leitura da onda. Normalmente, planejo a minha linha na onda observando como a parede se desenvolve à frente. Ali, a poucos metros, a parede acabava na borda da piscina, o lance era decorar.
Surfei sozinho os últimos 40 minutos, o pessoal foi embora. Era surreal estar ali sozinho naquela piscina. As ondas quebravam perfeitas, sem nenhum vento. Eu pegava uma e remava rapidamente para o fundo, mas em pouco tempo eu já estava tão cansado que precisava deixar a série passar sem pegar nenhuma.
Tinha que dar uma respirada.
A minha impressão é a de que uma hora na piscina valia a três horas no mar, você pega muita onda num intervalo muito curto.
Nos 30 minutos finais, começaram as ondas tubulares. Parecia brincadeira, tubo com hora marcada, uma onda igual a outra. Até ali já tinha sido uma experiência incrível, uma comodidade sem tamanho, mas, apesar da onda ser excelente, não era nada que fora da realidade. Mas, a do tubo, com uma onda igual a outra, era algo único, uma mudança de paradigma.
Peguei vários tubos, fiquei alucinado, fiz altas fotos, mas faltou a experiência necessária para sair daqueles tubos. Foi muita coisa para assimilar em pouco tempo e com tudo muito intenso pelo menos para mim. Mas, a meta estava traçada, ela era aprender a fazer aqueles tubos.
A nova oportunidade de surfar numa piscina veio em dezembro. Havia planejado ficar com a família uma semana na Surfland, em Garopaba (SC). Tinha comprado vários tickets e ia experimentar todos os tipos de sessões disponíveis começando pela intermediária até a “The Beast”.
Na Surfland, a duração da sessão era de 50 minutos e 16 pessoas de cada lado da piscina.
Inicialmente, achei que isto seria problemático, mas até que se o pessoal for agilizado a dinâmica flui bem com 16 pessoas, dá tempo suficiente para dar aquela recuperada antes da próxima onda.
Quanto aos 50 minutos, a situação é a seguinte: nas primeiras vezes vai ficar aquela sensação de quero mais, mas depois com o tempo, quando acaba aquela euforia inicial, você percebe que uma queda de 50 minutos é bem satisfatória.
Experimentei todos os tipos de sessão e agora, livre daquele agitação inicial da experiência na Grama, o veredito era o mesmo, a onda dos tubos era o grande diferencial. Porém, persistia a dificuldade de sair dos tubos. Ou será que eu é que não sei entubar?
A tecnologia WaveGarden, utilizada na praia da Grama e na Surfland, é a mais popular no mundo, principalmente porque consegue o maior número de ondas por hora, tornando-a mais acessível. Porém, a distância percorrida na onda acaba não sendo seu ponto forte.
Apesar da comodidade e da experiência incrível de surfar numa piscina para um longboarder mais experiente, as ondas não tubulares em si acabam não sendo tão atrativas por serem relativamente curtas.
Já a onda tubular é outra história. Porém, existem algumas dificuldades com o longboard. O controle da velocidade é o problema inicial, o longboard pode acelerar bastante fazendo você ficar um Zé Boquinha. Você até faz umas fotos maneiras, mas não faz aquele tubo mais profundo.
Se você segura a velocidade, o problema acaba sendo outro, pois o tubo é bem seco e quadrado. Você não pode ficar com a prancha na parede da onda, senão roda com a onda. O lance é estar na base com o bico virado para areia. Mas, de longboard você acaba tenho um problema de espaço e caso qualquer parte da prancha toque numa parte errada da onda você roda.
Sempre fui militante de que é possível surfar qualquer onda de longboard, mas nesse caso minha sensação era a de que eu estava usando o equipamento errado. Não que não seja possível, a questão é que acaba sendo ineficiente e neste caso isto acaba custando caro.
Minha mulher e meu filho se divertiram nas aulas de surfe na piscina. Ao observá-los, percebi que a verdadeira revolução era o que eles estavam vivenciando ali, iniciação no surfe em ambiente controlado. Pessoas que nunca imaginaram pegar uma prancha vão se transformar em surfistas da noite para o dia.
Eu me diverti muito, exagerei na dose, cheguei a fazer três quedas por dia, meu corpo espanou, abortei a missão, mas voltei satisfeito. Porém, percebi que para atingir minha meta eu teria que rever a questão do equipamento.
Cheguei à conclusão de que eu tinha que tentar de pranchinha na próxima. Será que eu ainda sabia surfar de pranchinha? Que pranchinha usar? Quantos litros? Eu aguento a remada?
Eu, longboarder de longa data, fundador do Hanging Together, primeiro site de longboard, produtor dos filmes Longboard 2000 e Hang with Us, representante brazuca em três mundiais, que adorava finalizar meus longboard na Paúba só para mostrar que dava, ia trair o movimento e me render a uma pranchinha? Lógico, o que importa mesmo é a diversão, mas não pude deixar de fazer a piada.
Dei umas duas quedas com a pranchinha que ganhei da Surfland quando comprei uma cota aqui em Santos para ver se eu conseguia subir na prancha. Consegui.
Decidi retornar em fevereiro e optar por usar as pranchas que tinha a disposição na piscina para alugar, afinal não sabia o que ia dar e com que tipo de prancha eu ia conseguir efetivamente surfar.
Peguei uma sessão Advanced Plus para adaptação e depois praticamente só Expert Barrels.
Chegando lá, o primeiro desafio foi escolher a prancha, tinham várias estilo foguete e a galera me recomendando eles para a Expert Barrels. Eles ainda não tinham captado que eu era um longboarder em apuros. Vi uma Softboard ali e pensei: é a minha saída de emergência.
Finalmente, achei uma prancha que era do Fabio Gouveia, tinha 32 litros, mesmo volume da prancha que testei em Santos. Só que era uma 5’5″, um salto grande para quem vinha de uma 9’1″. Mas, adorei a distribuição dela, na mão parecia um longboard pela metade. Tinha a vantagem dela já vir ensinada. Abracei a ideia.
Surpreendentemente, tive uma adaptação rápida, a maior dificuldade era subir na prancha. A coisa fluía se acertasse o pé no drop.
A remada não era fácil, tive que ficar mais atento às correntes para aproveitá-las. Com o tempo, também comecei a cair menos, fazer a onda até o fim e sair na canal remando cada vez menos. Até lá, foi muito Trandilax para amaciar a carcaça.
No final, a missão foi um sucesso, consegui dar uma boa evoluída, se não quisesse exagerar na profundidade do tubo o normal era não cair e fazer uma sessão menos exaustiva.
A meta agora é explorar o backside, ainda de pranchinha. Em abril estarei de volta. Mais para frente, quando estiver mais escolado, voltarei para fazer novas experiências de longboard.
Gostaria de agradecer ao meu eterno shaper Neco Carbone pelas pranchas mágicas que ele fez por toda minha vida; ao Sergio, da New Advance, por aquele cuidado na produção das pranchas e; bem como ao meu preparador físico, Fabio Eleutério, que garante que eu ainda tenha pique para surfar, mesmo não sendo mais um surfista tão assíduo.