Assim que garantiu a vitória nas ondas de Keramas, na Indonésia, que o colocou novamente na ponta do ranking mundial, o primeiro gesto do brasileiro Italo Ferreira foi beijar – carinhosamente – a sua prancha, fiel companheira de todos os dias, seja nos treinos, nas disputas e nas conquistas.
A relação com seu equipamento é de longa data, foi iniciada ainda quando era amador em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, e fortalecida nesses anos no Tour, incluindo a amizade com os shapers santistas Sylvio e Adriano Oliveira, também conhecidos como Tico e Teco.
“Sem prancha o surfista não é nada, principalmente no nível que a gente compete. Minhas pranchas estão me ajudando muito na minha evolução. Tenho uma relação muito forte com o Tico e o Teco e juntos com o Timmy Patterson, desenvolvemos um modelo que vem funcionando muito bem e está sempre melhorando. Isso me traz muita confiança no meu equipamento e sei que em cada quiver vou achar uma prancha mágica. Fazemos um trabalho em conjunto que está dando muito certo”, comenta o surfista.
Italo usa o modelo T.Patterson, produzido no Brasil pela Silver Surf, que tem a fábrica em Santos. O surfista visita, constantemente, os shapers e nesses encontros estreitou mais a relação de amizade, transcendendo a produção dos equipamentos. “Nossa relação vai além das pranchas sim. Hoje temos uma amizade muito forte, que foi crescendo ao longo dos anos. A vibe entre nós é muito boa e isso acaba também influenciando o nosso trabalho, pois a sintonia entre o atleta e o shaper é fundamental. Sei que eles colocam um carinho especial nas pranchas por conta disso também”, ressalta o atleta patrocinado por Billabong, Oakley, Oi, Red Nose Energy Drink, Bully’s e pranchas T.Patterson.
Ainda sobre relação que mixa o profissionalismo na trajetória e a amizade, existe Luiz Henrique Campos, o Pinga, manager e treinador que o revelou ainda muito novo no litoral potiguar. “Ele foi uma peça chave no início de minha carreira. Hoje tenho uma equipe grande de pessoas muito capacitadas, que cuidam de todos os aspectos de minha carreira, tanto na parte dos meus equipamentos, como na parte de preparação física e mental, somos um grande time”, enaltece o surfista, citando também Nuno Cobra, o Instituto Marazul, o Instituto HMNichioka, R1 Body Center, com André Kaxixi.
Depois de um ano difícil em 2017, devido a uma lesão, que o tirou de três etapas, Ítalo começou seu arranque ainda na disputa decisiva da temporada passada, em Pipeline, no Havaí, garantindo a sua permanência na elite mundial. Neste ano, deu um show (o primeiro deles) no tradicional evento de Bells Beach, Austrália. Estava imbatível e para coroar a sua primeira vitória no Tour, uma final contra Mick Fanning, em sua despedida oficial do Circuito.
Agora, em Keramas, na Indonésia, outro grande show, com direito a um 10 na semifinal que empolgou a todos. “Foi incrível, uma vibe sensacional. Eu tentei me manter bem focado e treinei muito. Acordava todos os dias antes de amanhecer e ia direto para a água. Estava me sentindo bem e sabia que podia fazer outro bom resultado. Depois que passei das quartas, sabia que poderia vencer e comecei a me preparar para chegar até o fim”, conta.
Num ano mais do que especial para a sua carreira, Ítalo ainda não sabe escolher qual foi a principal ou mais marcante vitória. “É difícil dizer. Acho que a de Bells teve um significado maior por ter sido a primeira e por conta de tudo que estava acontecendo, por ser a última bateria de Mick, que é um de meus maiores ídolos e toda a repercussão que teve. Foi como um sonho. E agora em Keramas também foi muito especial. Bali é um lugar que gosto muito, rolou altas ondas e a vibe do evento foi incrível. Ter sido carregado naquele trono é algo que nunca vou esquecer”, reconhece.
Líder pela segunda vez em 2018, Ítalo sabe o peso de estar à frente do ranking, mas segue tranquilo, querendo se manter no foco em busca de novas vitórias. “Estou me sentindo muito bem. Vencer é uma das melhores sensações, duas vezes e em tão pouco tempo, é melhor ainda. Sinto que todo meu esforço e dedicação nos treinos estão dando certo. Eu treino sempre pensando em conseguir dar o meu melhor e acredito sempre na vitória, principalmente depois de vencer meu primeiro evento”, relata.
“Quando está na frente, todas as atenções se voltam pra você, mas eu tento não pensar nisso. Só quero continuar me sentindo bem e soltando meu surf nas baterias e o resto vai ser consequência”, afirma. “O campeonato é bem longo e sei que para chegar ao título preciso de mais vitórias. Então, o foco e ir bateria por bateria, deixando as coisas acontecerem no seu tempo”, complementa.
Ele segue motivado e espera outro bom resultado agora em Uluwatu e acredita que a sequência pode favorece-lo. “Estou muito empolgado para competir agora em Uluwatu. É uma onda que gosto muito. Depois tem Jeffreys, outra onda incrível, mas estou ansioso para competir no Taiti e na piscina do Kelly (Slater), que vai ser algo bem diferente”, anuncia.