Pink Banana

Um erro perfeito

Conheça a Pink Banana, a prancha errática de Shaun Tomson que revolucionou Pipeline.

A prancha que deu errado, mas mostrou o caminho certo: Shaun Tomson e a Pink Banana feita por Spider Murphy.

O sul-africano Shaun Tomson, campeão mundial de 1977 (pela IPS), acabou revolucionando o surfe em Pipeline com uma prancha que não saiu nada como ele queria, mas deu certo. Pois é, às vezes um erro de cálculo e execução acaba por revolucionar ideias e produtos, como pranchas, por exemplo.

Em uma de suas primeiras temporadas no Havaí (1973), o jovem Shaun ficou na casa de Jeff Hakman, o cara que dominava as ondas de Sunset e, aliás, foi o primeiro campeão do Pipe Masters. Influenciado por ele e sua prancha para ondas grandes, shapeadas por Dick Brewer, Shaun voltou para a África do Sul cheio de fotos dela e pediu a seu shaper, Spider Murphy, que fizesse uma cópia daquela prancha que apresentava mais rocker do que se usava na época.

O rocker, na época exagerado, tornou possível curvas mais fechadas na base, resultando em manobras mais verticais e tubos mais profundos.

Não deu muito certo, e Shaun, mesmo sabendo que poderia melindrar seu shaper, comentou que o rocker não havia ficado tão acentuado quanto o da prancha que ele queria replicar, até porque aquela curva não cabia no bloco disponível, segundo Murphy.

Spider Murphy resolveu a diferença com criatividade e tijolos. A prancha, que ainda estava sendo laminada, no cavalete, recebeu uma pilha de tijolos no bico, o que fez com que ela se flexionasse, ganhando mais curva. Shaun explica essa situação em seu livro, O Código do Surfista (Editora Gaia):

“O que eu podia dizer? Quando terminou, a prancha parecia exageradamente curvada, agora muito mais do que a do Hakman. Mas Spider era meu shaper, e eu já o havia corrigido uma vez. Peguei a prancha, passei meus olhos sobre ela como se estivesse realmente admirando o trabalho dele. ‘Bom’, disse, ‘parece que está legal’. Ajeitei a prancha debaixo do meu braço e fui embora para as ilhas”.

Uma solução criativa, que não saiu como o esperado, gerou possibilidades antes inimagináveis nas ondas de Pipe.

Shaun constatou, logo em sua primeira onda em Sunset, que a prancha era uma porcaria. Aqueles tijolos todos haviam transformado a dita cuja numa banana. Uma grande banana cor de rosa. Sim, a pintura também não saiu como deveria e o vermelho forte virou rosinha. Para poupar as outras pranchas que tinha no quiver, Shaun resolveu treinar nos primeiros Pipelines da temporada com aquela banana rosada.

Caminhando pela praia, Shaun ouviu dos Tops e locais da época os comentários cheios de desdém sobre a prancha. Até que alguém gritou: “Aonde você vai com essa banana rosa?”

Apesar de tudo, ao dropar sua primeira onda, Shaun sentiu que toda aquela curva se encaixava perfeitamente à parede da onda. Isso era algo incrível, especialmente para alguém que surfa aquelas esquerdas de backside. A curva na base, feita com força, mostrou que a prancha também se encaixava perfeitamente na base, projetando Shaun quase que na vertical em direção ao lip.

Aquela rasgada de back na boca do tubo de Pipe, proporcionada pelo “rocker exagerado” modificou toda maneira de surfar aquela onda. Ele venceu o Pipe Masters do ano seguinte e deu uma tijolada no conceito de curva de fundo das pranchas. Agora, podia-se surfar com mais controle e eficácia no pocket das ondas. O resto é história. Tudo por conta de um erro.


Shaun entubando em Pipe, sem pôr as mãos na borda da Pink Banana 7’10”. Hoje, pode parecer simples… Pensando bem, isso nunca será simples.

Exit mobile version