O drone e a GoPro levaram a fotografia de surf a um estágio incrível. O aparelhinho que invadiu o espaço aéreo transportou o interlocutor ao plano do pássaro e o surf virou um passeio panorâmico. Lá de cima, as bancadas são despidas e o ângulos que a gente via só quando os helicópteros entravam em campo, são cada vez mais populares.
Já a GoPro colocou todo mundo na pele do surfista e ele virou um herói. É só dar uma busca aqui mesmo no Waves para saber o que acontece quando a gente está entocado, quais são as cores do mundo a partir do fundo do canudo, como a onda reage naqueles instantes mágicos do tubo…
A experiência, que até pouco tempo era para poucos e privilegiados seres humanos, já há algum tempo pode ser percebida por qualquer um, graças à tecnologia e também graças a alguém que um dia teve um estalo e acordou para fazer bom uso dela.
Exceto por essas duas revoluções tecnológicas e, obviamente, a das manobras no surf que decolaram neste primeiro período do século 21, a fotografia se mantém absolutamente inalterada como há 40 anos. As câmeras Canon e Nikon vem investindo a cada ano no cristal mais límpido, em lentes mais leves, no foco automático, no arquivo… mas apesar disso, pouca coisa foi alterada em termos de resultado de imagem do mundo analógico do século passado para o digital atual.
Até meados dos anos 90, quando se deu a virada digital, os fotógrafos sambavam na areia para trocar os filmes de 36 poses, rolos e mais rolos entravam e saíam das câmeras a cada meia dúzia de onda, um anticlimax enorme! O foco, então, era crítico e os dedos indicador e do meio eram os caras. Se falhassem, era uma frustração só depois do filme revelado. Sem falar no esporro dos editores na redação. A lente e todo o processo da fotografia de surf onde atleta e onda não param um instante sequer. Era lento para a demanda, mas funcionava bem.
O digital trouxe o clique infinito, o foco automático, as lentes mais leves e rápidas e, se a foto não ficasse tão boa assim, tão azulzinha e sharp, o Photoshop salva. Um tapa e está tudo resolvido.
Sebastian Rojas é um dos mais longevos fotógrafos de surf brasileiro. Tem no seu arquivo milhares de fotos, senão o principal, o maior registro do surf contemporâneo dessas três décadas mais recentes, e lembra que o digital trouxe facilidades enormes, mas não é tudo, e cita o seu ex-editor de fotografia da Revista Fluir, Luciano Ferrero, que sempre comentava que na época dos cromos o trabalho era mais preciso, as fotos eram melhores e chegavam em menor quantidade na redação.
“A evolução do equipamento, memória, etc., possibilitou mais oportunidades para acertos, mas o fato de não aparecerem novidades na fotografia de surf, exceto pelo drone e câmeras GoPro, é que as possibilidades estão esgotadas, já foram exploradas, vistas e copiadas à exaustão”, diz Luciano, que editou cerca de 200 edições de Fluir em quase 20 anos como editor de fotografia da revista. E ainda fala que, desde que as revistas de surf se tornaram digitais, a qualidade da imagem também não importa tanto quanto na época das edições impressas, que usavam como matéria-prima os slides.
Para outro fotógrafo também muito atuante na praticamente extinta mídia impressa, Levy Paiva, a grande diferença estava na quantidade de fotos batidas por trabalho. “Antes, tínhamos um filme de 36 poses e íamos a campo com 10 rolos de filme, e tínhamos nosso trabalho pela cor, luz e foco.”
Dito pelo não dito, vamos fazer uma brincadeira aqui. A ideia é embaralhar fotos antigas e novas, publicar imagens de velhos lobos como Alberto Sodré, Aleko Stergiou, Bruno Alves, Sebastian Rojas, Levy Paiva e de alguns jovens fotógrafos como Tony D’Andrea, Douglas Cominski, Harleyson Almeida e William Zimmermann e com isso mostrar que o equipamento é parte do processo, mas não determina se a imagem é boa. Já o olho e o talento, esses não se compram em lojas!
Você, leitor desta coluna, está convidado a analisar todas as fotos para tentar identificar em que década cada uma delas foi feita.