Mano Ziul eterno

O vulto do Kelly Slater

Entre tantos personagens importantes do surfe mundial, Mano Ziul certamente é dos mais destacados pelo legado tecnológico. Coluna Anarquilha explica contribuição dele no Waves.

Mano Ziul

Em 2003 o Waves já era um site relevante, com um Maracanã diário de audiência, cheio de banners e de campanhas, bem como um Fórum nervoso com opinião e achismos que o levaram à condição de número 1 de opinião pública do surfe, sem contar com grandes colunistas e pensadores de todos os espectros e uma cobertura sem igual de tudo que envolve o esporte.

O tempo surfava num mar de tranquilidade até que um dia chegou o momento do Billabong Pro Tahiti, um dos eventos mais esperados do circuito mundial, quando recebi um e-mail do Mano Ziul, então o kahuna da tecnologia da ASP (Association of Surfing Professionals), entidade que antecedeu a WSL (World Surf League) no controle do Tour.

“E aí, Juninho, vamos plantar a transmissão do campeonato no Waves?”. Nossa, o e-mail caiu como uma bomba atômica, todo mundo ficou eufórico, do goleiro ao ponta-esquerda, só de imaginar a possibilidade de ter o Kelly Slater ao vivo e em cores para nossa audiência.

Foi o campeonato em que o potiguar Danilo Costa despachou vários favoritos pelo caminho, até chegar às semifinais como “Giant Killer”, de acordo com a comunicação da entidade durante o evento. O campeão foi Kelly Slater, depois de passar pelo próprio Danilo na semifinal. Na final, deu Slater contra Taj Burrow.

Foi uma jornada épica, quando Danilo atropelou geral, passou por Mark Occhilupo, Damien Hobgood e Dean Morrison. E testemunhamos tudo ao vivo, direto de Teahupoo, por meio do nosso Waves, algo não só impensável como inimaginável lá naquela era da internet à lenha!

O querido e eterno Mano Ziul, o cara que simplesmente revolucionou a cobertura do surfe pela web, com toda sua experiência na área de TI, tinha no Waves o interlocutor absolutamente perfeito, nosso webmaster Rafael Sobral, longboarder de origem, engenheiro de formação, programador por profissão e gênio da web, além de alvinegro praiano, o que o tornava ainda mais especial.

Então, os caras se entendiam por telepatia. Falavam a mesma língua e ninguém ousava se meter naquele universo meio de física quântica e meio de ficção científica em que remavam, um mundo novo de experimentação de toda e qualquer possibilidade tecnológica, um ambiente impenetrável para nós, pobres mortais desprogramados.

A transmissão do Billabong Pro Tahiti pegou de surpresa toda nossa audiência, clientes, admiradores e até a galera que curtia o clique aqui para meter o pau, o Fórum nervosinho.

Um outro detalhe, naquela época as fotos chegavam em dia pela assessoria, mas vídeos nem tanto. Então, qualquer imagem em movimento era uma novidade impactante.

Eu já era amigo do Mano Ziul desde os tempos em que fui editor da revista Hardcore. Reinaldo Andraus, o Dragão, chefão da redação, tinha chamado o Mano pra participar da cobertura do circuito, no começo dos anos 90.

Ele mandava os resultados por fax e a gente espetava os conteúdos nas matérias do circuito. Por conta deste parceiro irado, a Hardcore foi escolhida como Best Print Media pela direção do Tour.

Motivo de orgulho tanto para mim quanto para o Dragon, afinal éramos bicampeões desta importante premiação internacional, pela Fluir (89) e também pela HC (91). Sem o Mano isso seria praticamente impossível, e não dá para mensurar o impacto editorial e comercial deste reconhecimento naqueles momentos emblemáticos das revistas no Brasil.

E assim a parceria da ASP com o Waves tornou-se cada vez maior. Não lembro ao certo dos números desta transmissão, mas a parada bombou de um jeito simplesmente inacreditável e nem mesmo durante algumas interrupções a galera se incomodou, afinal o pessoal vibrava só de ver o vulto do Kelly Slater, como eu costumava brincar com o Rafael Sobral.

Hoje em dia a transmissão é super premium, sinal emblemático da evolução sem precedentes do esporte, modalidade totalmente pioneira nesta coisa de transmitir qualquer parada ao vivo pela web.

O que dizer a mais deste gênio da lâmpada? Tinha aquela fala mansa, um sorriso estampado, sempre de boa com o pessoal, sem o menor traço de estrelismo por conta de sua competência ou genialidade. E entre tantas pessoas maneiras que conheci no meio do surfe, certamente Mano Ziul era um dos mais alto astral.

Por consequência de tanta qualidade reunida em um único cara das praias, ele fazia um trabalho espetacular, grande mago da web, da tecnologia e da tecnolorgia que hoje vemos no webcast da World Surf League.

O cara lançou o score online com a Beach & Byte nos campeonatos de Niterói ao lado do não menos lendário Celso Alves, ainda nos anos 80, feito que o levou ao circuito mundial, revolucionou a cobertura e ajudou demais ao Waves ser o que é hoje, um grande portal respeitado e admirado em todos os redutos do esporte no mundo.

E entre todos os participantes místicos do Brazilian Storm, ele é um raro personagem que simplesmente não precisava entrar no mar para inscrever seu nome na história do esporte, apesar de toda sua intimidade com as ondas desde sempre nas praias de Niterói.

Como amigo e admirador, estava devendo essa homenagem ao Mano, tornando público o meu muito obrigado pela sua participação gigante, positiva e sem igual na história do site. Dizem que os bons vão primeiro. Só pode ser por isso.

Humilde, gentil com todos, Mano era meu amigo e deixou muita saudade. Ele faz muita falta, mas com certeza está fazendo por onde em outro plano, ao lado dos anjos e outras divindades.

De minha parte e de todos os colegas do Waves, sou eternamente grato ao meu amigo Mano Ziul, bem como seu parça Maurício Filgueiras, o lendário punk carioca Bochecha (ex-Normais com Dadá Figueiredo e o skatista Lucio Flávio), torcedor fanático do Fluminense, por ter nos proporcionado inúmeras transmissões iradas e inesquecíveis.

Valeu também ao grande Alexandre Cury, igualmente importante no processo. Hoje é coach profissional. Aloha, “Mãozinha”, sangue bom, juntamente com Robson Machado, outro piloto do esquema transmissão ao vivo.

Se hoje a transmissão acontece por todos os ângulos e a gente simplesmente viaja nas ondas como se estivesse no mar ao lado do Medina, Toledo, Icaro, Yago, Tatiana ou John John, somos todos obrigados a reconhecer, é nóizzz, Mano!

Participação espacial: Dragon Fly.

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