Nós seres humanos estamos constantemente pensando nas situações da vida que nos leve para longe ou nos traga uma sensação de tranquilidade, alegria e positividade.
Não tenho dúvida que os diretores de filmes em geral têm suas inspirações vindas destes pensamentos, já que muitos filmes refletem nossos sonhos.
Com o surfe esta sensação não é diferente e, às vezes, muito profundo e remoto, nos leva a lugares e ondas “dos sonhos”.
Os diretores de filmes de surfe, principalmente os mais antigos, sempre de forma competente e mágica, fizeram com que viajássemos nestes sonhos através das cenas dos seus filmes.
Ao conversar com os surfistas da famosa geração no início dos anos 80, percebe-se que praticamente 100% deles amavam assistir aos filmes de surfe da época, e que muitos, inclusive eu, mudaram a vida e sacramentaram a paixão e “vício” pelo surfe através destes filmes.
Um dos filmes que influenciou muita gente, e acredito ter sido o mais importante filme da geração de filmes até 1984, é o famoso Storm Riders, dos consagrados diretores Jack McCoy, David Lourie e Dick Hoole.
Lembro que meu grande amigo e parceiro de surfe, o Gui (Guilherme Barbosa), do Guarujá, me apresentou este filme e fui à loucura quando logo na abertura toca a música Riders on the Storm, da lendária banda californiana The Doors. Ali tinha a certeza que o filme seria a viagem dos sonhos!
Na época este filme trouxe muitas influências no estilo de surfar e de vida, nas músicas, mas talvez o ponto alto foi mostrar ao mundo de forma mais abrangente o surfe na Indonésia, que até então era pouco falado e conhecido.
O filme começa mostrando alguns lados do surfe da Gold Coast, na Austrália, com ondas perfeitas, crowd intenso, as melhores pranchas e calções de surfe modernos com cores diferentes, muito à frente daquela época, além de muitas bandas australianas.
Na sequência, o capítulo sobre o rei das biquilhas e melhor surfista daqueles anos, dono de um dos estilos mais bonitos e com um surfe acima da média, o tetracampeão mundial (na época deste filme ainda era tricampeão mundial) Mark Richards, mais conhecido como MR.
Logo em seguida o filme aterrissa em Bali, onde naquela época era realizado um dos campeonatos de surfe mais importantes, com total domínio dos australianos do começo ao fim. O interessante neste capítulo foi mostrar um pouco da cultura balinesa e seus rituais, sua forte ligação e gratidão com o Oceano Índico, e claramente a ligação entre os balineses e o surfe.
Na continuação perfeita vem a África, com a famosa e incrível onda de Jeffrey’s Bay. Talvez a melhor parte do filme é voltando para Bali, mas agora mostrando um pouco do free surf, revelando o melhor do estilo de vida de um free surfer da época. Joe Engle, o então campeão Júnior, e seu amigo Furno Furlando resolvem fazer uma viagem para o lado Oeste de Sumatra, na Indonésia, mais precisamente na ilha de Nias, onde acabam encontrando com alguns surfistas prisioneiros do Japão e seguem viagem por vários dias pegando as melhores e mais perfeitas ondas de todo o filme.
O visual das ondas e do lugar eram realmente dos sonhos, nos paralisavam por vários minutos. Assistindo as cenas ficávamos empolgados e não sabíamos como, mas uma coisa era certa: “queríamos viajar pelo mundo surfando”. Com certeza, as cenas continuam vivas na memória de todos nós que tínhamos este filme como referência e inspiração para surfar. Como na época haviam poucos, ou quase nenhum canal de comunicação, as revistas e filmes eram os principais influenciadores, e durante uma sessão deste filme eu decidi que queria isto para o resto da minha vida.
Após mais uma sessão dos sonhos na Indonésia, o filme chega ao Havaí. Começando a sessão na perfeita onda de Ala Moana, lado sul de Oahu, em seguida indo para o lado norte, em ondas como Pipeline, Sunset, Waimea e Off-The-Wall, com filmagens dos melhores surfistas do planeta. Dando ênfase para um Sunset perfeito, quebrando entre 10 a 15 pés.
Seguindo para Pipeline e como não poderia deixar de ser Gerry Lopez surfando, o que foi uma introdução para transportá-lo direto para o leste da ilha de Java, na Indonésia, para o pico de G-Land, com esquerdas tubulares e intermináveis!
Voltando à Austrália, Wayne Lynch e o renomado shaper Maurice Cole, resolvem fazer uma “barca” para o sul do país, acampando em frente a um pico alucinante com esquerdas perfeitas e água cristalina.
Recomendo Storm Riders, que está entre os dez melhores filmes da lista de todos os surfistas que amam e entendem de filme de surfe. Você fará a mesma viagem que fizemos na época!
As músicas da trilha sonora foram tão perfeitas que a cada capitulo você viaja mais e mais nas cenas. Sem dúvida é uma playlist que merece ser lembrada.
Big Aloha!
Trilha sonora
“Riders on the Storm” – The Doors
“Down Under” – Men at Work
“World of Stone” – Hunters and Collectors
“South Pacific” – The Dugites
“Tunnel of Love” – Sunnyboys
Hard Act to Follow” – Split Enz
“Summer of 81” – Mondo Rock
“Asian Paradise” – Sharon O’Neill
“Life Speeds Up” – The Church
“Look at Me” – Matt Finish
“Big City Talk” – Marc Hunter
“Unpublished Critics” – Australian Crawl
“Hot Cover” – Matt Finish
“Gay Guys” – The Dugites
“This Is the Ritz” –NZ Pop
“People” – Mi-Sex
“I’m Not Like Everybody Else” – Jimmy & The Boys
“Local and/or General” – Models
“Albert of India” – Split Enz