Espêice Fia

Rolé na Califa – parte III

Fabio Gouveia vai a Santa Bárbara, revive o lifestyle californiano e visita o ídolo Tom Curren.

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Fabinho Gouveia ao lado do ídolo Tom Curren

Despertamos ao clarear em nossa base em San Clemente, e antes do tráfego intenso pela 405 North com destino a Santa Bárbara.

Estava bastante ansioso, pois meu sonho de adolescente surfista estava prestes a se realizar. Foram muitos anos assistindo ao icônico filme Off The Wall 2 com Tom Curren nas ondas de Sandspit, Rincon e adjacências.

Depois de cruzar Los Angeles e avistar a costa e as tão faladas Channel Islands, que deram nome às famosas pranchas de Al Merrick, não parava de ficar antenado para ver se havia uma pontinha de ondulação. 

Indo direto ao hotel deixar nossas tralhas e posteriormente dar um rolé na cidade, fiquei encantado com a região. Que coisa… me sentia muito dentro de meus pensamentos de moleque.

Infelizmente Sandspit estava micro e não foi possível surfar, fiquei só com a imaginação dos backwashes explodindo e dobrando na ponta do dique de pedras com o Tom rasgando e botando pra dentro de tubos sequenciais.

Fiquei maravilhado com a visita à loja da Al Merrick e viajei no museu de pranchas de seus atletas. Algumas relíquias do Tom, Kelly Slater, Lisa Andersen e Machado, como também Taylor Knox, dentre outras. Ali naquelas paredes, vários títulos mundiais. Aproveitei pra atualizar minha mente com as novidades da marca. Quanta alegria.

Pranchas da Lisa Andersen e do título mundial de 1990 de Tom Curren.

A cidade estava cheia, era o Saint Patricks Day. Batemos um rango em um coffee shop alucinante na rua principal e posteriormente seguimos para a casa do Tom em um bairro mais discreto e pacato, bem ao seu estilo.

Ao anunciarmos nossa chegada via Whatsapp, lá aparecia Tom com seu casaco de flanela quadriculado, pois fazia demasiado friozinho. Apresentei a equipe com Luciano Burin, que fez os contatos, e também os videosmakers Antônio Zanella e Pietro França, sendo este último amigo dos filhos mais novos do Tom.

Com as boas vindas e seu jeito introvertido, Tom relata que é de certa forma avesso a entrevistas e nos recebia pelo fato de que eu e meu grupo estávamos ali. Ficamos felizes e agradecidos, pois realmente não era comum um bate-papo duradouro em sua intimidade.

Estava bem curioso para ver as pranchas do Tom, pois experimentalista que só ele, tinha muita coisa a nos passar. De cara, minha curiosidade eram as Skimboards, ou melhor dizendo, as pranchas de “sonrisal” que Tom vem usando. Que negócio roots!

O segmento foi apresentado ao meu ídolo por Brad Domke, skimboarder exótico que bota pra baixo em ondas enormes e entram nessa lista Jaws e Puerto Escondido. 

Desde então, Tom é visto surfando e aprimorando o modelo com quilhas não menos exóticas, as S-Wing fins.

A curiosidade dos diferentes modelos de Curren vai longe.

A cada teste o americano vem colando nacos de EPS, PU e outros compostos pra ir adequando uma melhor flutuação para facilitar sua entrada nas ondas. Buracos para instalar copinhos para as quilhas são de constante mudanças. Pense num “tôco” veio! Mas, sem dúvida, desses testes vai sair coisa para um futuro design diferenciado.

O bate-papo foi longo, e enquanto Luciano Burin, nosso produtor, entoava as perguntas, eu ficava vidrado em alguns momentos no bate-papo e em outras situações preferia deixar o ídolo à vontade. Lembranças de baterias e disputas acirradas com Occy foram relembradas.

Passamos da hora, marcamos com Tom o surf no dia seguinte e partimos pra tentar um fim de tarde em Rincon Point. Na ocasião, estava rolando o evento tradicional Rincon Classic. O maral dificultava um pouco o lineup, mas, mesmo assim, uma galera boa mandava bem na disputas de várias categorias. Observamos um pouco algumas baterias e decidi cair mais ao inside, onde os competidores não chegavam.

Nunca levei sorte em Rincon e também nunca fui pra lá em busca de swell, pois na única vez que havia checado o pico, em fevereiro de 89, as ondas estavam micro. Desta vez elas estavam igualmente pequenas, mas tinha minha fish e não pensei duas vezes em estrear no pico.

Caí sozinho e achei algumas pra quebrar o gelo. Realmente a flutuação da prancha me ajudou e consegui desempenhar literalmente bem, a ponto de mais uns 3 caras juntarem-se a mim.

Frio da bexiga, congelei. Nesses momentos sempre lembrava do meu “amigo da onça” Marcio Canavarro (risos), que havia relatado que um 3/2 daria conta do recado para aquela época. Oxe, mas na real eu que dei mole, subestimei o inverno californiano e me lasquei (risos).

Saint Patrick’s Day bombando e comemos uma deliciosa pizza na companhia de Rodrigo Clark, renomado professor de jiu-jitsu e surfista que, juntamente com sua esposa, nos deu boas vidas.

Noite agradável, bares lotados e fomos dormir cedo para honrarmos nosso compromisso com master Tom. O vento havia entrado cedo e as ondas ainda menores fizeram o mestre desistir da caída. Checamos Ventura Point, como combinado, e não foi desta vez que surfei junto com meu ídolo em sua casa, pois o trânsito até o pico também o fez desistir da caída. No entanto, nos deu o toque de um secret e lá estávamos nós completando nossa jornada totalmente realizados.

Na próxima parada para as gravações finais de nossa trip para Califa, retornaremos a San Diego para visitar as fábricas da Xanadu, Sharp Eye e um tour pela incrível coleção de pranchas de Fernando Aguerre, com direito a despedida com surf session em Windansea.

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