“Vindo” da Urca do Minhoto, e para quem acompanhou o texto anterior, com relatos inéditos desse magnífico pico, agora chego a Fernando de Noronha, minha segunda empreitada de uma trip “combo”.
Mesmo não pegando o ápice do swell na ilha, já estava imaginando toda aquela situação ao chegar ao aeroporto – enfrentar a fila para pagamento da taxa de preservação ambiental (TPA), esperar as pranchas e mala, para, enfim, me encontrar com um dos caras mais astrais de Noronha, o Bruno. Para muitos de fora, mais conhecido como Bruno da Gol.
Ele, que era encarregado de movimentar o trator para carregar e descarregar as aeronaves, não trabalha mais para a empresa e agora toca única e exclusivamente a Pousada “Pérola House”, nome dado a partir do nascimento de sua filha, de nome Pérola. Uma gracinha e muito elétrica, tal como o pai.
Pega o bugre, como duas siriguelas e já me encontro na Cacimba. O swell havia sido enorme e os rastros da força da natureza estavam por toda a parte. Já vinha acompanhando pelas mídias sociais da galera no dias anterior, mas chamou atenção toda areia branca arrastada para debaixo das árvores, sob a vegetação rasteira que deverá levar certo tempo pra se recuperar. Várias ondas da laje ainda entravam constantemente.
Havia levado a 9’6 para a praia achando que o negócio ainda estaria realmente grande, mas a escolhida foi a 6’6”, com boa flutuação. Uma vez na água, ainda vinham ondas de 8, de repente até umas de 10 pés. Posicionados na laje, uma penca de locais. E quando vinham as ondas, parecia uma corda de caranguejo, pois todos desciam juntos. Uma comédia!
Mas comédia mesmo eram os bate-papos com histórias do dia anterior e uma grande zoação entre a turma. Buday Santos, Uka Dantas, Cuca Souza, Raymar Souza e Valderez eram alguns dos que me lembro estarem presentes naquele momento.
Em uma das que peguei, ainda com tamanho, poderia ter entrado em um bom tubo na seção intermediária, mas o local Cuca, que tem quase 2 metros de altura, estava em minha frente, e ao tentar passá-lo, acabamos nos “engalhando” e por pouco não descemos junto com o lip Cacimba abaixo. Pense numa comédia. Emergimos rindo.
Peguei algumas direitas fortes ainda, mas sempre saindo antes do quebra côco, pois, pra varar de volta, ainda não estava tão fácil, e diga-se de passagem, já cheguei a Noronha cansado devido às noites mal dormidas e à maratona de estradas e aviões dos dias anteriores. E não me assustei quando alguém disse “Fia, tais ficando “véio”, macho!” (risos).
Durante essa session de fim de tarde, vi algumas ondas de Icaro Ronchi, meu parceiro na equipe Hang Loose, e outras dos big riders Marcos Monteiro e Paulo Moura, que estrearam na lendária onda da Ilha Rata e botaram pra baixo no big day anterior, quando as ondas vinham da terceira laje da Cacimba.
Gostaria muito de ter estado presente, mas, como não estive, fiquei viajando nas fotos e vídeos de Renato Tinoco e Marcelo Freire, que reside em Noronha e tem vasto material dos surfistas locais.
Já não pisava em Noronha há duas temporadas e nesse período deu pra ver bem a evolução da turma. Buday tá cada vez mais big rider, mas surpreendeu também o material visto de Cuca e Raymar Souza, como também Uka, que vi uma cena sua sinistra na direita da laje quando tentou dropar por baixo do lip, sem sucesso. Observava a cena e sabia que ele não teria sucesso, mas o instinto “go for it” impressionou muito.
Caras como “Suquinho” tiveram notória evolução. O moleque tá ágil e manobrando radicalmente. No primeiro dia, festa na pousada do Bruno, era “niver” de sua esposa Eliziane. Foi muita emoção ver toda uma galera massa reunida para um churrasco mais que divertido. Não nos estendemos noite adentro, pois havia muita esperança no dia seguinte, e só pensava em pegar tubos clássicos em uma Cacimba baixando. E mesmo ainda com boas séries, o mar havia baixado, mas a notícia do vento nordeste estragou um pouco o brilho.
Mesmo assim, boas ondas da laje ainda vinham e tive o prazer de surfar ao lado do legend baiano Hilton Hissa, que pegou uma boa esquerda da laje até a beira. Vale ressaltar também as performances do Stand Up Paddle surfer Roberto Vieira, pois o cabra com DNA do dendê também botou pra baixo no swell. O sol forte costumeiro me fez parar para o descanso no meio do dia.
Quando envio mensagem para o fotografo Marcelo Freire perguntando sobre o surfe para a tarde, ele estava saindo do pico do Abras, dizendo que a session havia sido boa por lá. Com certeza deveria ter sido e logo me peguei pensando que o cansaço e a busca por tubos na Cacimba bloquearam minha mente de pensar na session por lá, afinal, aquela é uma das ondas mais emblemáticas de Noronha e do nosso país, e me divirto muito.
À tarde, o mar baixou um pouco, mas com algumas ondas beirando os 6 pés na série. Com a maré enchendo, os tubos, que não eram muitos, começavam a ficar escassos. Ainda vi um de Paulo Moura com uma pranchinha bem pequena, e também uma boa de Marcos Monteiro. Icaro Ronchi entrou nessa caída comigo e logo vi uma boa onda sua no canto da Cacimba.
Nessa eu fui com uma 6 pés larga que estava para vender em uma loja e havia pegado aos 45 do segundo tempo, por ter deixado minhas pranchas de uso diário no Hawaii.
Com muita flutuação, pois era de pronta entrega, não conseguia me encaixar bem, até porque também, naquela altura, as ondas estavam volumosas e alguns backwashes complicavam um pouco mais. No fim de tarde, o vento deu uma aliviada e ficou bonito, com aquele pôr do sol maravilhoso que quem presencia nunca esquece. Por ali, o pro surfer Dunga Neto fazia a mala, era meio mundo de batida e rasgadas.
À noite, o jantar foi na belíssima pousada Tejúaçu. Geladas e brindes com “champas” animaram as conversas de todos presentes, incluindo Wilson Nora, habitué presente na ilha e que também estava intenso no swell. A proprietária da “Tejú”, Aninha, como sempre fazia as honras da casa, nos deixando muito à vontade e felizes também com a presença dos seus filhos Artur e Luizinho, que segue também como um destaque da nova geração do surfe noronhense se mostrando um tube rider nato.
E a degustação da culinária excelente foi finalizada com o magnífico Petit Gateu. Pense num “cába” que dormiu feliz! (risos). Há muitos anos fico hospedado na Pousada da Tia Zete e acordei também feliz em fazer aquela visita para um café da manhã que já conheço muito bem. Ô beleza! Papo vai, papo vem, bucho cheio e me despedi da Tia Zete, seu neto e meu xará Fabinho, marido e filho, alegre por ter visto a família novamente.
Foram apenas três intensos e rápidos dias na ilha. No dia de minha partida, o vento havia melhorado um pouco e uma leve reagida no mar me deixou alegre. Estourei os beiços até o último momento de sol e surfe. Cacimba estava cheia de gente. Em certo momentos, sentimos falta de Dudu Noronha (recupera-se de contusão) pra organizar a turma, alegrar e pilhar também o lineup.
Mas, no geral, sempre uma galera massa presente na ilha, pois estar em Noronha é sempre bom, e no meu caso procuro aproveitar ao máximo qualquer oportunidade.
Aproveito aqui pra mandar um Aloha noronhense para Jefferson Cachorrinho, que, por um problema de saúde, recuperava-se fora da ilha. Melhoras, brow, que fiques forte para a próxima!
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