Na atualidade o Brasil vem despontando como o maior expoente do surfe em nível mundial. Nos últimos oito anos foram seis títulos mundiais, quase oito não fossem os erros dos juízes da entidade máxima que rege o esporte.
O assunto que vamos aprofundar nesta matéria vai mostrar como a CBSurf deve servir de exemplo para o mundo. A partir da formação de um grupo de gestores totalmente preocupados com os melhores níveis de arbitragem, estão buscando inovações para minimizar os erros de julgamento tão frequentes no surfe competição.
Pois não pode ser desculpa o fato de que o julgamento de surf é muito subjetivo em sua análise, para assim aceitar erros de avaliação de performance dos atletas que, apesar da subjetividade, são inadmissíveis, tendo em vista todo o aparato tecnológico disponível em equipamentos de filmagens, vídeo replays, número de câmeras, monitores de alta resolução etc.
Em meados dos anos 80, o Brasil já foi o inovador do sistema de julgamento do surfe no mundo, revolucionando o cenário com o grande Mano Ziul (que Deus o tenha) e Celso Alves, desenvolvedores do primeiro sistema computadorizado de notas: chamado Beach & Byte, apresentado nos eventos locais da ASN (Associação de Surf de Niterói) e Arpoador, em 1984 no Rio de Janeiro.
Naquele ano, saímos do sistema precário de somatória em papel e caneta e passamos para o computador fazer o serviço aritmético. Daí para a frente, o sistema foi evoluindo e, em 1986, no Hang Loose Pro Contest, na Praia da Joaquina, em Florianópolis (SC), o mundo passou a conhecer a Beach & Byte, com Mano mostrando seu produto para a ASP.
Al Hunt, da ASP (Association of Surfing Professionals), Roberto Perdigão, da ABRASP (Associação Brasileira de Surf profissional) e Alfio Lagnado (Hang Loose), estavam entre os primeiros a ver o sistema funcionando em nível internacional.
A partir deste momento a ABRASP, no primeiro circuito brasileiro profissional de surf 1987, já passou a ter a Beach & Byte facilitando a vida dos juízes em seus palanques. No ano seguinte, Mano Ziul foi convidado para a perna australiana da ASP, e lá sim fica aprovada a entrada oficial do sistema de notas para temporada do circuito mundial de 1989, o que segue até os dias de hoje, apesar de ter mudado de nome, foi criação de brasileiro.
Mano Ziul também foi o responsável por introduzir o sistema de vídeo replay para os juízes analisarem as ondas em caso de disparidade nas notas dadas aos atletas, bem como em 1996, Mano Ziul e sua equipe fizeram a primeira transmissão ao vivo de uma etapa do circuito mundial direto de Portugal.
O esporte cresceu e evoluiu no julgamento, no vídeo replay e nas transmissões do surfe no mundo desde então, até chegarmos aos dias atuais, e… acredito que mais uma vez o Brasil está saindo na frente e inovando para melhorar, principalmente na área de juízes, julgamento e replays.
Esse tema pode parecer pouco importante para o público e atletas, mas são esses sistemas e a capacitação dos juízes que definem o futuro dos competidores, a própria credibilidade das entidades, bem como a atratividade das competições como um produto a ser consumido pelos internautas e telespectadores.
Sabemos que perfeição é uma palavra que não cabe quando se trata de julgamento subjetivo, independentemente do esporte em questão, mas buscá-la, sim, deve ser um objetivo para as entidades, e a CBSurf e sua nova gestão estão executando um projeto que vem para minimizar as disparidades na busca mais próxima de resultados corretos nas baterias disputadas, tendo em vista de que o julgamento é feito por seres humanos, e todos nós estamos sujeitos a falhas.
Diferentemente da entidade maior do surf no mundo, a CBSurf está investindo pesado em tecnologia e processos, com uma equipe altamente qualificada para atuar nesta área tão sensível dos eventos de surf.
Para tanto, foram contratadas: Quatro câmeras. Uma para cada surfista, com o intuito de não perder detalhe algum da performance dos atletas, sejam em ondas surfadas, remadas ou situações de interferência que por ventura possam ocorrer durante o tempo de bateria.
Quatro Head Judges. A CBSurf tem como principal Head Judge o experiente Mauro Rabelle, santista com grande experiência em eventos ao redor do mundo.
Recentemente entrevistado em meu canal do YouTube, Rabelle contou que colocou ao seu lado outros Head Judges representantes de norte a sul do país, o que facilita e muito fazer um rodízio entre eles para manter a qualidade do quadro técnico devido à grande quantidade de eventos no Brasil nas mais diversas categorias.
Representando o Nordeste, temos Adler Araújo (PE) e André Albuquerque (PE). Do estado do Rio de Janeiro, Marcio (Peruca) Monteiro. Já em São Paulo, temos Daniel Miranda no SUP (Stand Up Paddle) e Marcos Quito. Flavio (Bandalha) Caldas, Fabiano Farias e Jordão Bailo Junior (Surf Adaptado) representam Santa Catarina.
A mensagem de Mauro Rabelle e Paulo Moura (diretor de esportes CBSURF) é: – trabalhar sem esconder seu grupo e estreitar cada vez mais os laços entre comissão técnica (juízes) e atletas, pensamento esse que provou, na temporada passada, ser de grande eficácia.
Em cada etapa temos também sete juízes em uma mescla de experiência (Pracinha do Ceará, Renato Galvão de São Paulo, Rubens Goulart e Jeronimo Telles do Rio de Janeiro, Luís Antônio de Santa Catarina, entre outros.
E a juventude de juízes revelação tais como o ex-atleta Lucinho Lima (CE), Patrick e David Filhão (SP), Erico (SC) e Iuri Silva (RS), entre outros, fazendo uma grande rotação entre eles na temporada.
Uma excelente novidade para mim é buscar e qualificar mulheres para se tornarem árbitras de surfe, e também poder sentir o peso da caneta na hora do julgamento; a CBSurf também vem fazendo isto com maestria e alguns destaques já surgiram desde a temporada passada, como Ana Paula, Cris Pires e Manoela Baltazar (RJ), Bárbara Sieno (PR), Carla Circenis (BA).
Neste ano de 2023, dois novos nomes também chegaram ao quadro oficial da entidade: Marilia (PE) e a nossa grande campeã Jaqueline Silva (SC) vieram para fortalecer ainda mais esta equipe de peso.
Os juízes de prioridade também ganham grande reforço, e finalmente estão atuando com revezamento, assim como fazem os Heads e os juízes, agora possuem o direito de descanso, tão merecido.
O momento de descanso parece óbvio, mas na entidade máxima do esporte não acontece, pois trabalham somente com um juiz de prioridade… e vale a pena também destacar estes profissionais: Gustavo Riscado e Fred Baltazar (RJ), Vinicius (CE), William Muniz (SP), Henrique Buchele (SC), e os coringas Fabiano Farias (SC) e Marcel Miranda (RS), entre tantos outros consagrados que o Brasil possui, numa das funções mais difíceis de se trabalhar em um evento de surfe. A PRIORIDADE!
Head conceito: Talvez a novidade mais importante de todas na minha opinião seja esta nova função incorporada na metade da última temporada. Executado por dois experientes surfistas brasileiros, Otavio Lima e Guga Arruda, eles têm a função de trazer um ajuste mais fino dentro do julgamento, principalmente no que diz respeito as manobras inovadoras e progressivas, além de estarem absorvendo o que se passa na área dos atletas, tirando dúvidas e esclarecendo tudo o que ocorre dentro da sala da arbitragem, tornando o trabalho cada vez mais transparente.
Inclusive, agora, qualquer atleta pode estar presente na sala dos juízes, basta agendar com o Tour Manager a visita para poder entender melhor o trabalho feito, isso ajuda muito ao entender como são feitas as avaliações das ondas surfadas.
E, meus amigos… um sonho está tornando-se realidade. O Dream Tour da CBSurf está dando seu pontapé inicial entre os dias 11 a 19 de abril no Rio Grande do Sul (FGSURF), com a maior premiação da história de um circuito brasileiro de surfe, e aqui vai os meus parabéns e boa sorte a todos os envolvidos, aos membros da entidade, representantes, organizações privadas e públicas, associações, federações, patrocinadores, atletas e familiares, na certeza de que mais uma vez o Brasil servira de exemplo para o mundo do surf, e quem sabe num futuro próximo não seremos o maior circuito mundial de surfe!
Então, que você acha:
A arbitragem tem um papel significante no produto final do esporte surfe?
Os investimentos em tecnologia, novos processos e premiações podem tornar o circuito brasileiro tão importante quanto o mundial?
A CBSurf está no caminho certo? Deixe seus comentários. Aloha!