Leitura de Onda

Leitura do ano – Parte 1

Tulio Brandão apresenta os artistas que dominarão a elite do surfe mundial em 2018. Confira a primeira parte.

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Snapper Rocks dá largada ao Championship Tour no próximo dia 11 de março.Lucas Palma / @skids.com.br
Snapper Rocks dá largada ao Championship Tour no próximo dia 11 de março.

Listas, previsões e prognósticos são, essencialmente, afeitas à discussão ou, ainda melhor, a críticas. O objetivo do primeiro “Leitura do ano” é apresentar os artistas que dominarão a elite do surfe mundial em 2018 e, a partir daí, ouvir dos leitores as impressões iniciais, antes da sirene da primeira bateria soar, a partir do dia 11 de março, em Snapper Rocks, na Austrália. Discordem, concordem, debatam.

A primeira parte contempla os dois convidados da WSL e os 10 classificados pela divisão de acesso. Daqui a alguns dias, publico a segunda parte, com o pelotão de trás da elite e, na sequência, alcanço os tops do ranking.

Segue a primeira lista:

A forma como Ian Gouveia abordou o desafio de Pipeline, sem freios, revelou um renovado surfista para 2018.

Ian Gouveia (BRA) – A forma como abordou o desafio de Pipeline, sem freios, revelou um renovado surfista para 2018. Na ausência de contundidos, mereceu a vaga. Durante o ano, mesmo perdendo cedo em muitas etapas, fez baterias duras, apertadas, contra seedings qualificados. Forte em tubos, potencial aerialista, competitivo. Deve se manter bem em 2018.
Pontos fortes: tubo, competitividade
Desafios: linha

Kelly Slater é um atleta completo, mas a idade, a velocidade e a pressão são grandes obstáculos.

Kelly Slater (EUA) – A contusão do ano passado jogou uma cortina de fumaça sobre sua real condição, mas a performance na temporada havaiana, com direito à possível onda da temporada, revelam que o monstro ainda está vivo, pelo menos em ondas de consequência. Deve brilhar também na sua piscina, onde tem a vantagem nem tão justa de treinar mais que todo mundo junto. Não acredito mais no 12o título pelo peso da idade, a despeito de ser completo, mas em duas vitórias, quem sabe, para encerrar a carreira por cima e remar de vez para o business. Mesmo que vença, não deve ir para o título porque, em algumas arenas, está em desvantagem clara.
Pontos fortes: tudo, surfista completo
Desafios: idade, velocidade, pressão

Patrick Gudauskas chega à elite mundial beneficiado pela boa campanha de Italo Ferreira em Pipeline.
Patrick Gudauskas chega à elite mundial beneficiado pela boa campanha de Italo Ferreira em Pipeline.

Patrick Gudauskas (EUA) – Ex-integrante do circuito de ondas grandes, ex-integrante da elite, bom aerialista, bom jogo de power, Pat tinha tudo para ser nome forte, mas está em outro lugar. Aos 32 anos, passou na rabeira do QS, graças ao quinto lugar de Italo Ferreira em Pipeline, que deu ao brasileiro a última vaga pelo CT e abriu a vaga para o americano via QS e chega apenas com a missão de se manter na elite. Tem caixa para provocar surpresas e, em mares mais agudos, pode causar estragos.
Pontos fortes: surfa em todos os mares
Desafios: competitividade

Michael Rodrigues construiu sua vaga em silêncio, à sombra das estrelas e dos grandes dramas.
Michael Rodrigues construiu sua vaga em silêncio, à sombra das estrelas e dos grandes dramas.

Michael Rodrigues (BRA) – À sombra das estrelas e dos grandes dramas, Michael, 22 anos, construiu sua vaga em silêncio, com muitos aéreos e uma abordagem power em rasgadas. Fez dois excelentes resultados, na Espanha e nos Açores, e administrou o resto do ano. Tem a vantagem de entrar na elite sem a pressão dos holofotes, um pouco ao estilo de Italo em seu ano de estreia. Pode surpreender em algumas direitas, mas chega com o objetivo claro de aprender o jogo da elite e se manter por lá.
Pontos fortes: aéreos e potência
Desafios: ondas de consequência

Em 2017, Ezekiel Lau alternou momentos de dominância contra surfistas de ponta com outros de completo apagão.

Ezekiel Lau (HAV) – Em 2017, alternou momentos de dominância contra surfistas de ponta com outros de completo apagão. Reclassificou-se pela divisão de acesso, escaldado pelos erros da temporada. Tem potencial para se firmar na elite, entre os 16 primeiros. Excelente surfista, sobretudo em direitas power, e competidor old school, com cara de poucos amigos na água. Pelo menos na fúria, lembra o Andy Irons.
Pontos fortes: Potência em ondas pesadas
Desafios: Apagão competitivo

Numa temporada com duas novas ondas afeitas a seu surfe – piscina de ondas e Keramas –, além dos beach breaks, Keanu Asing talvez consiga se manter na elite.
Numa temporada com duas novas ondas afeitas a seu surfe – piscina de ondas e Keramas –, além dos beach breaks, Keanu Asing talvez consiga se manter na elite.

Keanu Asing (HAV) – O surfista das pontadas de backside em ondas de vala, que venceu Gabriel Medina numa final na França, está de volta. Numa temporada com duas novas ondas afeitas a seu surfe – piscina de ondas e Keramas –, além dos beach breaks, ele talvez consiga se manter na elite. Mas está atrás em termos técnicos.
Pontos fortes: Agilidade em ondas pequenas
Desafios: Falta de contundência em ondas mais pesadas, carving

A elite gosta da abordagem de Willian Cardoso, sente falta disso.
A elite gosta da abordagem de Willian Cardoso, sente falta disso.

Willian Cardoso (BRA) – Panda, 31, é velho conhecido da elite. Bateu na trave várias vezes para alcançar a elite e já brilhou em Bells, derrotando um Slater ainda no topo da carreira em direitas bem formadas. É dono de um carving potentíssimo e tem a vantagem de, apesar do peso, ser bom surfista de ondas pequenas, técnica moldada em Balneário Camboriú. Pode se manter, talvez até entre os 16 primeiros – importante aproveitar para construir resultados em direitas afeitas a seu surfe, como Bells, Margaret e JBay. A elite gosta de sua abordagem, sente falta disso.
Pontos fortes: Linha e potência no carving
Desafios: Ondas tubulares e pesadas para a esquerda

A primeira missão de Yago Dora, 22, será lidar com o fato de ser apontado como a maior estrela da nova geração brasileira.
A primeira missão de Yago Dora, 22, será lidar com o fato de ser apontado como a maior estrela da nova geração brasileira.

Yago Dora (BRA) – A primeira missão de Yago, 22, será lidar com o fato de ser apontado como a maior estrela da nova geração brasileira. Ele chega com uma extensa carteira de vídeos, respeito internacional, bagagem em ondas de consequência e uma linha fina que lembra a de Rob Machado, com o forte aditivo das manobras progressivas. Os holofotes tendem a delinear melhor as virtudes, dão visibilidade, mas ao mesmo tempo são implacáveis com os erros ou excessos inúteis. Pelo que fez até hoje, pela postura tranquila, tudo indica que ele lidará bem com esse desafio. Para o patrocinador, Volcom, é o grande retorno depois da perda do pupilo Gabriel Medina para a Rip Curl, pouco antes de ele explodir para o mundo. Para o Brasil, uma nova esperança de título num médio prazo, sem dúvida. Em 2018, pode ficar entre os 10.
Pontos fortes: Linha, modernidade e carving
Desafios: Confirmar tudo o que se espera dele

Surfista de Barra Velha, Tomas Hermes venceu muito nas categorias de base no Brasil, mas agora vai encarar os melhores do mundo, com o desafio de se acostumar com a nova arena para se manter na elite.
Surfista de Barra Velha, Tomas Hermes venceu muito nas categorias de base no Brasil, mas agora vai encarar os melhores do mundo, com o desafio de se acostumar com a nova arena para se manter na elite.

Tomas Hermes (BRA) – Trabalho duro, forma esplêndida, carving apurado e competitividade. Hermes dedicou o esforço à esposa, que o ajuda e filma seus treinos, Ana Românio, o que revela uma qualidade rara no mundo competitivo: gratidão. Aos 30 anos, assim como Panda, bateu na trave algumas vezes, mas em 2017 conseguiu fazer semifinal em Haleiwa e selar, enfim, sua vaga na elite. Surfista de Barra Velha, venceu muito nas categorias de base no Brasil, mas agora vai encarar os melhores do mundo, com o desafio de se acostumar com a nova arena para se manter na elite.
Pontos fortes: Carving, foco e competitividade
Desafios: Contundência em ondas de consequência

Dono de um estilo underground, expressivo, Wade Carmichael entra na elite, aos 25 anos, para se manter lá um bom tempo, caso consiga segurar um punch competitivo dos melhores do mundo.
Dono de um estilo underground, expressivo, Wade Carmichael entra na elite, aos 25 anos, para se manter lá um bom tempo, caso consiga segurar um punch competitivo dos melhores do mundo.

Wade Carmichael (AUS) – O estreante com as bordas mais encravadas na água em muitos anos. Dono de um estilo underground, expressivo, entra na elite, aos 25 anos, para se manter lá um bom tempo, caso consiga segurar um punch competitivo dos melhores do mundo. No currículo, títulos de campeão júnior australiano e de diversas etapas do QS, como a de Haleiwa em 2015. Uma curiosidade: não parece, mas Wade sabe dar aéreos. Não tão bem quanto Toledo, claro, mas o suficiente para tentar entrar em alguns filmes de Taylor Steele com imagens de surfe progressivo. Pode terminar a temporada entre os 10 do mundo, se chegar concentrado.
Pontos fortes: linha, potência, carving
Desafios: concentração, competividade

Um dos maiores rivais de Gabriel Medina nos tempos de amador, aos 25 anos, Jessé Mendes finalmente chega ao lugar em que já deveria estar faz tempo.

Jessé Mendes (BRA) – Um dos maiores rivais de Gabriel Medina nos tempos de amador, aos 25 anos, Jessé finalmente chega ao lugar em que já deveria estar faz tempo. Competitivo, bem preparado, talentoso, com quilometragem em todos os tipos de onda, o paulista divide com Yago a maior expectativa em relação aos estreantes brasileiros. Depois de bater na trave da elite em alguns anos, a classificação para o CT, em si, já é uma prova de perseverança. Para isso, superou barreiras psicológicas para muitos intransponíveis. Agora, é hora de ir atrás do pote de ouro que lhe escapou lá atrás, quando viu seu amigo, o campeão mundial de 2014, decolar. O primeiro passo é brigar pelo título de estreante do ano, provavelmente com Yago, Wade ou Colapinto.
Pontos fortes: Modernidade, versatilidade, preparação
Desafios: Estender o uso de borda, ocupar o espaço que lhe cabe na elite

Griffin Colapinto é a aposta máxima do mercado dos EUA e deve brigar pelo título de estreante.

Griffin Colapinto (EUA) – Maior esperança de títulos futuros para os americanos, Colapinto, que completará 20 anos durante a temporada de 2018, encerrou o ano de maneira avassaladora, com direito a título da Tríplice Coroa Havaiana. Parece ter a combinação explosiva de técnica e fúria competitiva, comum em vencedores na elite. Tem caixa para, no ano de estreia, sonhar com uma final. É a aposta máxima do mercado dos EUA e brigará pelo título de estreante.
Pontos fortes: Modernidade, carving e competitividade
Desafios: Confirmar as altas expectativas em torno de seu nome. Quase todos os últimos americanos submetidos a essa pressão fracassaram.