A coluna segue na missão aparentemente suicida de analisar performances passadas e fazer prognósticos futuros. Vamos que vamos, não é hora de puxar o bico. A “Leitura do ano” entra agora nos últimos dez surfistas a se classificarem pelo CT: uma turma boa de surfistas, que começa com Italo Ferreira e termina com Connor O’Leary.
Em alguns dias, publico a terceira e última parte da série, com os 12 melhores surfistas do mundo na temporada de 2017. Depois disso, passo a bola para os leitores, que poderão ajudar o site a escolher as 10 maiores apostas da temporada.
Italo Ferreira (BRA) – A contusão em 2017 tirou dos espectadores a chance de ver onde ele poderia chegar na terceira temporada. Seu surfe tem potência bruta, repertório moderníssimo e capacidade de se adaptar a todas as condições oferecidas na elite. Deixou de ser uma surpresa, o que torna as coisas mais difíceis, e agora precisa se construir seu caminho como um candidato a títulos futuros. Antes, no entanto, deve se preocupar em vencer um evento, se possível com um surfe que imponha respeito. Em 2018, sem contusões, tem potencial para estar entre os 10.
Pontos fortes: verticalidade, velocidade, potência, manobras aéreas, tubos.
Desafios: botton-turns, ajustar e “acalmar” um pouco a linha.
Joan Duru (FRA) – O bom francês, quase veterano, aos 28 anos, demorou para entrar na elite, mas segurou na unha a sua vaga. O cara se sente à vontade em tubos para os dois lados, tem uma abordagem sólida de backside e se defende bem com seu power. Em 2018, deve brigar novamente por sua vaga na elite, pelo ranking do CT, mas nos trará bons momentos.
Pontos fortes: power, tubos, surfe de backside.
Desafios: mais fraco que a média na abordagem moderna.
Conner Coffin (EUA) – Surfista de carving potente, dono de um repertório de manobras aéreas atualizado, capaz de vencer em ondas como Sunset, como ano passado, ou em paredes mais afeitas ao surfe progressivo. Na competição, ainda alterna bons e maus momentos. Em 2018, deve avançar, sobretudo pela entrada de Keramas, onda afeita a seu surfe de regular, e do rancho de Kelly, mas dividirá as atenções do mercado americano com a nova estrela do pedaço, Colapinto. Alguns meses mais velho que Gabriel Medina, ainda tem longa carreira na elite.
Pontos fortes: manobras de borda, arcos, power e alguns aéreos.
Desafio: manter a regularidade em todas as ondas.
Michel Bourez (PLF) – Michel, “The Spartan”, como os narradores adoram chamá-lo, abre caminho para seu surfe na elite com poderosas marretadas. Embora já tenha vencido em Pipeline e seja natural do país que oferece a onda mais pesada do circuito, não é exatamente um especialista em condições tubulares mais extremas. Sabe surfar tubos, mas falta a ele um “fator x” nessas ondas. Uma nota de brilho, uma diferença. Veterano (tem 32 anos e está há 10 na elite), Michel costuma brilhar em paredes afeitas ao carving, como em Margaret River, onde já venceu, e Bells Beach. Surfa bem ondas pequenas, o que explica a sua vitória no Rio, em 2014. Em 2018, vai brigar com os novos valores para manter seu posto na elite, mas terá que se esforçar para não ser atropelado pela nova geração – que tem power similar ao dele e uma linha mais refinada, como Wade Carmichael.
Pontos fortes: força, manobras de borda, arcos.
Desafios: refinar movimentos, vencer em ondas pesadas e segurar a nova geração.
Caio Ibelli (BRA) – Na terceira temporada, precisa equilibrar a constância do ano de rookie com o melhor resultado da carreira, obtido ano passado. O vice em Bells parecia o prenúncio de um grande ano, mas depois de perder a final para Jordy Smith acumulou seis 13os e 25os lugares, além de uma etapa contundido e dois nonos lugares. Seu surfe aparece com mais nitidez em direitas afeitas a arcos e outras manobras de borda, como Bells e Margaret, mas ele é capaz de vencer fora dessas arenas. É muitas vezes um competidor duro – John John Florence que o diga – mas precisa recuperar a constância, agora com melhores resultados. Pode ficar entre os 15, sobretudo se souber aproveitar bem a perna australiana e a volta de Keramas.
Pontos fortes: ondas manobráveis ou tubulares, além de força competitiva.
Desafios: manter a regularidade de performances.
Kanoa Igarashi (JAP) – Surfista leve, de manobras velozes mas sem muita expressão, sabe entubar bem em ondas menores, Kanoa é outro, além de Asing, que deve comemorar a inclusão do rancho de Kelly Slater e de Keramas na temporada 2018. São duas ondas afeitas a seu surfe, embora ele esteja em dívida em ondas mais pesadas. Precisa ter mais pressão para confirmar seu posto como surfista de elite. Tende a se manter em 2018, mas pode tropeçar diante dos rookies.
Pontos fortes: leveza, velocidade, competitividade e tubos em ondas pequenas.
Desafios: ondas de consequência e, sobretudo, surfe com pressão.
Adrian “Ace” Buchan (AUS) – Um dos backsides mais polidos do circuito, excelente tube rider, Ace segura as pontas da curva descendente da carreira. Aos 35 anos, mantém-se fiel à fórmula infalível de base x lip, com linha bastante refinada, tubos e jogo de borda, provando que a essência do esporte terá sempre lugar na elite. A idade, contudo, cobra a conta. Falta-lhe, em algumas ondas, pressão, variedade e progressividade. Em 2017, aproveitou seus arcos para beliscar uma final nas ondas espaçosas de Saquarema. Deve se manter onde esteve nos últimos nove anos, entre o 14o e o 19o lugares, mas não duvido que se aposente no fim do ano.
Pontos fortes: Linha refinada, tubos, backside forte, arcos.
Desafios: Manobras progressivas, pressão.
Jeremy Flores (FRA) – Longe dos holofotes, sem expectativas, ele reconhece publicamente suas limitações e investe, no momento certo, nas virtudes que ainda lhe fazem vencer, como a capacidade de surfar tubos de todos os tamanhos. Talvez esteja entre os três melhores tuberiders do mundo, mesmo sem ser celebrado. Ano passado, na arena de Pipe, acabou com o sonho de Medina, jogou água no chope do local John John e faturou seu segundo título na etapa mais importante do circuito mundial, que agora está ameaçada de sair do calendário (assunto para outra coluna). Enquanto houver tubos (perdemos um, Fiji, em 2018, mas restam outros), haverá Flores.
Pontos fortes: tuberider de excelência, força mental.
Desafios: linha ultrapassada em algumas manobras, progressividade.
Frederico Morais (PORT) – A perna pesada de Kikas, como Frederico é conhecido, encaixou-se como uma luva nas exigências do julgamento do CT. O português, além de ser um exímio competidor, aproveita sua força em todas as ondas de manobra do circuito, especialmente as direitas. Produz notas altas (às vezes excessivamente altas) com a mesma facilidade com que lança água para o alto, e ignorou estrelas consagradas da elite. Deve ficar bastante tempo no CT, depois de um robusto ano de estreia, com uma final em J-Bay e dois quintos lugares, em Trestles e Margaret River. Em 2018, ganha a vantagem de ter mais experiência na elite, mas perde por deixar de ser novidade. Juízes tendem a ser mais exigentes. A ver.
Pontos fortes: power, pressão, capacidade de fazer notas altas.
Desafio: progressividade.
Connor O’Leary (AUS) – Venceu disputa apertada de melhor estreante de 2017 contra Kikas e, um pouco mais atrás, Joan Duru. Uma final na respeitada (e excluída) Fiji, no ano de estreia, foi determinante para sua temporada. Deve se manter em 2018 na zona intermediária, talvez com outro grande resultado. Sabe entubar e é um bom surfista de costas para a onda. Pode surpreender em Snapper. Comete poucos erros em baterias, diferentemente de seu conterrâneo Ethan Ewing, que era mais incensado no início da temporada e fez uma campanha pífia na elite.
Pontos fortes: Surfe de backside, tubos, leitura de bateria.
Desafio: surfe previsível, sem muita variedade.