Aqui deixo um breve recado para a WSL:
“Deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer”, cantou o genial Francisco de Assis França, conhecido pela alcunha de Chico Science, no petardo de música chamado “Corpo de Lama” (Afrociberbedelia).
A cultura de streaming do “Make or Break”, que depende de histórias capazes de furar o bloqueio dos algoritmos, tem aparentemente levado a World Surf League a caminhos pouco elegantes com algumas das estrelas do surfe mundial.
Uma delas é a insistência em construir uma narrativa antecipada para a final, antes mesmo de o quinto colocado pegar a sua lycra de competição em Trestles.
Não sei se por ordem da chefia, se por um irrefreável desejo do editor ou por desatenção mesmo, o site oficial da entidade já publicou um conteúdo sugerindo uma final entre Filipe Toledo e Colapinto, quase como se não existisse João Chianca e Jack Robinson – e, ainda Ethan Ewing, caso consiga operar o milagre de se recuperar a tempo. Não duvidem disso.
O título da última infâmia, recebida hoje por e-mail, é: “Estariam Toledo e Colapinto destinados a mais uma Mega Bateria? Desta vez com o título mundial em disputa”. Trata-se de um vídeo, com seus 5 minutos, em que a entidade coleciona seus erros:
1) Esquece-se que o site representa a WSL e precisa cuidar mais da eterna busca da neutralidade – mais que qualquer colunista de Pindorama. Sim, no papel, em teoria, são os dois melhores surfistas naquela onda nas finais, mas não cabe à entidade que contrata os juízes tentar antecipar os fatos.
2) Força a mão numa rivalidade não suficientemente consolidada, entre o atual campeão mundial e um surfista em grande forma em 2023. A realidade é que Griffin está a uma distância grande de seu adversário – seja em história na elite, seja em vitórias ou mesmo no surfe.
3) Comete uma enorme indelicadeza com adversários premiados com uma vaga no Finals. Jack Robinson, João Chianca e Ethan Ewing estão, sim, em plenas condições de levar o título. A má notícia, para a WSL, é que um vídeo desses têm o incrível poder de se tornar uma dessas ferramentas motivacionais de vestiário de futebol, daquelas que o sujeito extrai a vitória no ódio.
4) Escolhe um adversário para disputar com Filipe – este, sim, o único surfista já premiado com o direito de decidir numa “melhor de 3” o título mundial.
A história vem sendo construída ao longo de toda a temporada – escrevi sobre isso lá atrás, na coluna de El Salvador. É a subversão definitiva da lógica do velho slogan da entidade, “you can’t script this”. Agora, ao que tudo indica, há um roteiro prontinho para o duelo entre o campeão do mundo e um herói americano. A ver, WSL.