A WSL gostou da polêmica: o corte será mantido em 2023, na linha de seguir criando novos dramas para o esporte, como se um wipeout em Teahupoo gigante não fosse uma história suficientemente dramática.
Isso significa dizer que, ao fim desta temporada, não haverá rebaixamento. Quem sobreviveu ao corte de 2022, estará na elite até o próximo mid season cut.
Em outras palavras, se a entidade deixou a temporada muito curta para 12 surfistas, que não tiveram tempo de recuperação e sofreram com quebras de contrato, por outro lado mimou excessivamente os sobreviventes, ao assegurarem a permanência deles por quase uma temporada e meia, depois de um teste de apenas cinco etapas.
No início da próxima temporada, sem cair nenhuma alma, sobem 10 surfistas vindos do Challenger, além de dois wildcards, no caso Gabriel Medina e Yago Dora, e dois convidados por evento, num total de 36 surfistas. No caso das mulheres, além das 10 que sobreviveram ao corte de 2022, chegam para a abertura de 2023 mais cinco do Challenger, além de duas wildcards – Caroline Marks e Sally Fitzgibbons – e uma convidada por evento, num total de 18 surfistas.
Em outras palavras, é como se houvesse dois circuitos por temporada: um com 36 surfistas, inchado, no formato tradicional, e outro, com sobreviventes do corte, menor, com 22 homens e 10 mulheres, mais convidados.
O fato é que a justificativa oficial da WSL, de que o corte aumenta as chances, ao reduzir o tempo de evento, de realizar baterias nas melhores condições possíveis em picos como G-land e J-Bay, não parece fazer sentido. Pipeline muitas vezes carece de dias de espera; Sunset, idem, e, se formos mais longe, mesmo os picos mais ordinários têm seus melhores dias dentro de uma janela mais longa. O número reduzido de surfistas teria que valer, portanto, para toda a temporada, e não para a metade dela.
Sigamos, então, com a ideia de que o mid season cut é apenas uma regra com fins comerciais, para ampliar a dramaticidade, a audiência e, por tabela, a viabilidade econômica da WSL. Se vai dar certo, o tempo e os novos contratos dirão.
De um lado, respeito a dinâmica cruel de uma entidade na corrida desenfreada para gerar receita e, com isso, viabilizar o sonho de um circuto mundial de surfe com premiações e boa organização. De outro, sigo convicto de que toda regra que, em alguma medida, corrompe a dinâmica do esporte, ao gerar oportunidades desiguais aos competidores, acaba, por fim, virando fogo amigo.
Deveriam deixar o esporte acontecer – sim, o surfe dá conta.