Museu do Surfe

Alexandre Salazar Junior, o Picuruta

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, celebra os 63 anos do santista Picuruta Salazar, um dos maiores nomes do surfe brasileiro em todos os tempos.

O filho mais novo de Alexandre herdou dele o nome e a firme convicção de viver para o
surfe. Apoiado pelo pai e irmãos mais velhos, o santista Picuruta tornou-se o surfista
mais premiado da história do surfe mundial.

Alexandre Salazar Junior, o Picuruta, filho de Adair e Alexandre, nasceu na Santa Casa
de Santos, no dia 5 novembro de 1960, cresceu na casa 5 da rua Particular Alfredo
Ximenes, na famosa Vilinha, próxima ao Canal 1, e começou a surfar aos 8 anos de
idade.

A prioridade dos irmãos Lequinho, Almir e Picuruta sempre foi a praia. Numa
época em que o surfe era marginalizado, o pai Alexandre, o Bigode, enxergou no talento
e na vontade dos filhos o futuro no esporte, e passou a acompanhar a rotina deles,
promovendo e divulgando os feitos dos filhos na imprensa.

O trabalho e a persistência valeram a pena. Dono de um estilo único e de uma poderosa
batida de backside, Picuruta conquistava os campeonatos, rivalizando os pódios com os
cariocas, detentores dos principais títulos na época.

Picuruta foi também um dos pioneiros na profissionalização do esporte no Brasil que conta hoje com o campeão olímpico e quatro campeões mundiais, três deles do estado de São Paulo.

O apelido Picuruta surgiu quando ainda era criança. O avô, “seo” Eleutério, pai de
Alexandre, gostava de apertar as bochechas do menino, chamando-o carinhosamente de
picorrucho. Com o tempo, picorrucho virou Picuruta. Outro apelido que pegou foi Gato.

A origem remete a um acidente com o cachorro da família. Os irmãos brincavam com o
doberman em casa e Picuruta levou a pior, sendo mordido em cheio no rosto. A ferida
deixou marcas por um tempo e o vizinho e surfista local, o casca-grossa Pestana, passou
a chamá-lo de Cara de Gato. O apelido pegou e se juntou a agilidade do menino sobre as
ondas, reforçando a lenda do Gato.

Sua história no surfe começou em 1968 com um longboard Glaspac, comprado pelo pai
por 100 cruzeiros. Os irmãos carregavam o velho e pesado longboard até a praia, onde
dividiam as ondas do Canal 1 com João Pestana, Luiz Zé, Marcos Tubo, Orácio Cocada
e Homero, referências da época.

Entre o primeiro e o último, foram quase 170 títulos, como os múltiplos 10 Campeonatos
Brasileiros de Longboard, os mais desafiadores, como o recorde de tempo sobre uma
onda, durante o fenômeno da Pororoca, os incontáveis, como os prêmios de surfista do
ano, e os mais festejados, como o Torneio Niasi/Tribuna FM, em 1988, numa vitória
espetacular sobre o carioca Dadá Figueiredo, dedicada ao irmão Lequinho Salazar.

A morte de Lequinho era recente e abalou a comunidade do surfe e em particular à família.
Picuruta comemorou a vitória abraçado ao pai, imortalizando a memória do irmão mais
velho.

A vontade de vencer sempre acompanhou o atleta. O Gato divulgou o esporte e a
cultura de praia em programas de televisão, como os realities shows Troca de
Família e Amazônia. Ele também participou de inúmeros documentários, incluindo o biográfico A Lenda do Gato, dirigido por Alex Miranda.

O filme-documentário mostra o reencontro de Picuruta aos lugares em que brilhou
enquanto competidor. A produção lembra de como virou lenda na África do Sul e também incluiu elogios do australiano bicampeão mundial Tom Carroll.

Nos diversos picos que revisitou, aos 60 anos, Picuruta ainda mostrou um surfe de alto nível.

A boa forma é explicada pela longevidade de Picuruta como competidor. Depois de
arrasar com as pranchinhas, ele migrou para o longboard. Mudou a cara da modalidade
ao apresentar um surfe radical, com batidas e manobras até então exclusivas para as
pranchinhas. O estilo implantado por ele está hoje estabelecido e não é mais raro ver
surfistas radicalizando com os pranchões.

Sarrista e espirituoso, sempre com uma piada pronta para alegrar o ambiente, ele está
com 63 anos, completados no último dia 5, continua surfando e ainda comanda a Escola
de Surf Picuruta Salazar, no Quebra-Mar, em parceria com a Prefeitura Municipal de
Santos, firme no propósito de continuar alavancando o surfe.

Picuruta também dedica o seu amor e cuidados à proteção dos animais, a exemplo da vira-lata Wandeca que o acompanhava a todos os lugares.

Casou-se com Karim na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes e seus três filhos
seguem os mesmo passos do maior surfista brasileiro da história. Caio, o mais velho, parceiro de Picuruta na Escola de Surf; Leco, o do meio, campeão mundial de SUP
Longboard, o primeiro da modalidade; e Matheus, o mais novo, vive no Havaí.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal

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