Movido pela possibilidade de conquistar fama e fortuna, o inglês, descendente de escoceses, Ernest Cunningham, emigrou para a Argentina em 1896. Pelo seu trabalho, ascendeu e tornou-se presidente no Frigorífico Anglo, um dos empreendimentos do Lord Vestey, pertencente a uma das famílias mais ricas da Grã-Bretanha.
No país sul-americano a Lord Vestey construía fazendas, frigoríficos e navios que transportavam carnes e enlatados para a Inglaterra, enquanto Ernest ganhava prestígio e formava sua família. Ao lado da esposa teve quatro filhos, entre eles Oliver Tom Cunningham, nascido em Campana, província de Buenos Aires.
Em 1927, a família transferiu-se para o Brasil, onde Ernest deu início a implantação do Frigorífico Anglo, colocando o grupo entre os maiores proprietários estrangeiros de terra e de gado do Brasil.
Os filhos também enxergaram ótimas oportunidades em terras brasileiras. Em Londrina, reduto dos ingleses, Oliver se associou ao Lord Lovat e juntos desbravaram uma grande área para a exploração de madeira e produção de celulose. Oliver foi o único que sobreviveu quando os dois contraíram tifo e febre amarela, marcando o fim da sociedade e do empreendimento. Recuperado das doenças, Oliver mudou-se para o Rio de Janeiro para trabalhar com o tio, Sir Walter Pretyman, proprietário da Usina Santa Cruz.
Na capital federal, Oliver Cunningham conheceu Maude Jesse Joan, filha de um adido da Embaixada Britânica. Da união do casal nasceram Oliver Murray e Gerald Ernest Cunningham, o Gerry, em 30 de janeiro de 1940, em São Paulo. Gerry tinha apenas 10 anos de idade, quando ele e o irmão mais velho foram embarcados sozinhos para serem educados na Grã Bretanha.
Ao término dos estudos, Oliver e Gerry retornaram ao Brasil para administrar a fazenda da família em Macaé, no Rio de Janeiro. Um ano e um acidente com arma de fogo depois, Gerry deixou a fazenda, passou por algumas firmas inglesas até ser transferido para Belfast, na Irlanda do Norte, onde permaneceu por dois anos.
De volta a ilha britânica, Gerry transformou em realidade o sonho de pilotar carros e fez o curso de pilotagem no Jim Russell Racing Drivers School, em 1964. Vencedor no campeonato de formação, Gerry virou instrutor e participou da equipe de preparação dos astros James Garner e Yves Montand no filme Grand Prix.
Na época, surgiu a Fórmula Ford, uma categoria criada pela montadora para a disputa de torneios com carros monopostos a um preço barato para promover novos talentos. Gerry investiu num dos primeiros carros a serem fabricados, o número 007 no registro da categoria. Infelizmente, o patrocínio prometido por Jim Russell não se materializou, e apesar do seu emprego na Firestone e das vitórias em algumas corridas, os planos de piloto profissional estancaram de vez.
Em 1967, Boy Pacey, pai de Donald Pacey, seu amigo de infância no Rio, estava na Inglaterra e convidou Gerry para tornar-se sócio na Glaspac, empresa brasileira fundada pelo Donald, em 1961. O know-how de Donald com um material revolucionário na época, o FRP (Fibre-reinforced plastic) em aplicações diversas, foi fundamental para o sucesso da Glaspac.
Gerry voltou para seu país de origem, reencontrou Karen, uma antiga amiga, futura esposa e amor da sua vida. Filha de Carl Aune, irmã dos pioneiros do surfe carioca Knut, o “Tuti”, Carl, George e Peter, Karen foi vice-campeã do primeiro campeonato de surfe. Empresário ligado a negócios internacionais, Carl, sogro de Gerry, trouxe para o Brasil duas pranchas Hansen, modelos que serviriam para os protótipos MK2, da Glaspac.
A história de Donald Pacey, a origem da Glaspac e das revolucionárias pranchas MK continuam em nosso próximo artigo.
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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal