A primeira vez que Robert Thorlief Lund veio ao Brasil foi pela Reader’s Digest, em 1949. A
renomada editora queria lançar a revista Seleções no Brasil e Robert estava designado para a missão. O norte-americano adorou o Brasil e voltaria outras vezes até ficar definitivamente em terras tupiniquins e montar sua própria editora: o Grupo Lund.
Nascido em Nova York, em 23 de junho de 1953, Mark Kennedy Lund, filho de Robert, veio
com o pai, a mãe, Carmen Kennedy Lund, e os irmãos Matthew e Lisa para São Paulo, em
1965, em plena revolução cultural americana dos anos 1960, protagonizada pelos Beatles,
Rolling Stones, Bob Dylan, entre outros astros da música. Porém, a verdadeira revolução na sua vida viria pelo amigo James Duck, em 1968. Foi ele quem lhe apresentou o surfe numa viagem ao Guarujá.
A primeira onda surfada no Morro do Maluf foi a guinada de 180 graus na sua trajetória.
Aos 15 anos e apaixonado pelo surfe, Mark passava os finais de semana hospedado no quartinho que ficava na garagem de um prédio antigo do Guarujá.
Foi da paixão pelo surfe, que Mark passou a amar o Brasil. Do mar vieram seus amigos,
pioneiros na história do surfe brasileiro: Thyola, Madinho, Sidão, Zezinho e seu irmão Chivas, Zé Roberto, Alex Dumont, Roberto Teixeira, os irmãos Von Sydow, Magoo, Pardal, Udo, Pato, Silvinho, Preto e Boi.
Em 1970, Mark e Steve Smith foram os primeiros da turma a viajar ao Peru. Os relatos dessa viagem, somados aos depoimentos do visitante peruano “El Brujo”, tornaram-se inspiração para uma épica viagem com Sidão Tenucci, Roberto Teixeira, Marcelo Magoo, Chicão e Luiz para Punta Hermosa no ano seguinte.
Ainda em 1971, Alex Dumont apresentou Mark ao Christian Frutig, que na época trabalhava na Glaspac.
Mark emprestou sua Hansen Superlight para Frutig desenvolver o molde da MK3 da
marca. O sucesso levou Christian a criar sua própria fábrica de pranchas, a Surf Champion
Surfboards. Mark tornou-se um dos seus shapers. O trabalho foi interrompido para o retorno de Mark aos Estados Unidos. Ele concluiria o curso de Letras na Amherst College, em Massachusetts. Nesse período, Mark saiu da cena do surfe para retornar somente em 1975.
Formado e lecionando História na Chapel School, uma escola para americanos na Zona Sul de São Paulo, Mark desejava ter um carro e um lugar para ficar no litoral. O surfe era seu projeto de vida.
Em 1978, ele economizou até na comida e foi para o Havaí pela primeira vez. Na volta, alugou uma casa em Bertioga que serviu como base para pesquisar terrenos no Litoral Norte.
Ele estava determinado a viver para o surfe. O sonho se realizaria em 1983, quando construiu uma casa no Canto do Moreira, em Maresias.
Para viver no paraíso das ondas paulistas, Mark vendeu mousse na praia. O sucesso foi imediato e o surfista empreendeu na abertura de uma doceria em Boiçucanga. Estava criada a Le Moussier. O mega sucesso foi impulsionado pela comunidade do surfe, além da qualidade dos doces. Mark ainda inovou na montagem de um telão onde exibia os lançamentos dos filmes de surfe, atraindo um grande público nas noites geladas de inverno. A Le Moussier cresceu, abriu filiais pelo litoral e franquias na capital.
Mark não parou por aí. Numa viagem à Califórnia, vislumbrou montar um Hard Rock Café do surfe em Maresias.
Em 1996 ele aliou a ideia à história do surfe brasileiro. Nascia o Legends, um restaurante temático.
Para divulgar o empreendimento, o empresário e surfista passou a assinar as matérias que
escrevia para a Fluir, Inside, Hardcore e Alma Surf como “Mark Legends”. Ele também
promoveu o Campeonato Legends, com a presença de grandes nomes do surfe mundial, como Kelly Slater, Laird Hamilton, Clyde Aikau, Tom Carroll e Wayne Lynch.
Em 2004, Mark também realizou um feito memorável. Convidou Peter Troy para comemorar os 40 anos do dia em que levou os surfistas do Arpoador à loucura. Peter veio ao Brasil e no encontro apresentou a Mark o seu diário de viagem. Vasculhando as folhas gastas, Mark encontrou a data 19 de julho de 1964, o big bang do surfe moderno no Brasil.
O surfe trouxe muita coisa boa para a vida de Mark Lund. Nas 10 viagens que fez ao Havaí, ele se aproximou da sabedoria espiritual dos Kahunas, estudou e compartilhou seus ensinamentos em palestras por diversas empresas de surfe. No evento World Surf Cities, em Santos, pelo Sesc, Mark falou sobre o significado das quatro palavras havaianas relacionadas pela sílaba “ha”. Aloha, Haole, Mahalo e Ohana.
Mark Lund transmitiu o surfe para outra geração. Casado com Roberta, seus filhos, Lucas e
Thomas, são exímios surfistas.
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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal