Museu do Surfe

A remada de Rodrigo de Deus

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, fala sobre história de Rodrigo de Deus, empresário, educador físico e idealizador do Festival Brasileiro de Remada.

Quebra Mar, Santos (SP).

Quebra Mar, Santos (SP).

Quando era criança, Rodrigo corria das ondas, com medo. Ele ainda não sabia, mas passaria a vida dentro da água, treinando surfistas para vencer a turbulência das ondas e garantir a integridade física e mental na adversidade do mar.

Rodrigo leva o nome de Deus da sua mãe, Célia Rosa de Deus Campos. A montealegrense
conheceu o marido, Pedro Domingos de Campos, no Itapema, Guarujá (SP). Os dois se casaram e foram morar no BNH, conjunto habitacional de Santos. Lá nasceram os filhos Ana Paula e Rodrigo de Deus Campos, em 12 de dezembro de 1975.

Rodrigo deu seus primeiros mergulhos no mar do bairro da Aparecida. Aos 12, a família
mudou-se para o Gonzaga e Rodrigo passou a acompanhar o movimento do surfe em frente a A.D. Moreira, onde fez dos surfistas Marcos Quito, Adriano Teco, Eduardo Sapienza, Fábio Bina, além do Luke Franco e Jair de Oliveira, seus amigos e maiores influências.

Na época, Rodrigo era jogador de hóquei no Clube Internacional de Regatas, mas o surfe o fisgou e a prancha passou a ser seu sonho de consumo, enquanto tomava as pranchas emprestadas.

Rodrigo começou a trabalhar aos 14 anos na Eletropaulo. Com o dinheiro do seu segundo
salário, comprou uma Dolphin Surfboards, sua primeira prancha. Dividido entre o trabalho e os estudos no Senai, ele só conseguia surfar aos fins de semana e feriado.

Rodrigo permaneceria por 10 anos na Eletropaulo. Quando deixou a empresa, passou uma temporada em Maresias, litoral norte de São Paulo, e na sua volta a Santos tentou empreender com um lava-rápido, mas não deu certo.

Nessa época, o amigo Teco estava cursando o segundo ano da faculdade de educação física, junto a outros grandes nomes do esporte santista, um celeiro de atletas, como Oscar Galíndez, Carla Moreno, Paulo Miyasiro, Poliana Okimoto, entre outros. Teco foi um grande incentivador para o ingresso de Rodrigo na universidade, um sonho distante para o caçula de uma família sem nenhum diploma universitário. Rodrigo foi o primeiro. A decisão mostrou-se acertada e os frutos foram colhidos logo depois de formado.

A grande virada ocorreu quando Rodrigo assumiu o Integral Surf Training, há exatos 18 anos.

Desde 2006 ele está a frente do treinamento criado cinco anos antes por Marcello Arias
Danucalov e Flávio Ascânio, como parte da Unipran – Universidade da Prancha. O treinamento era um braço do curso de extensão em ciências aplicadas aos esportes de prancha, promovido pela universidade, com apoio de Valdir Lanza, reitor da Unimonte.

O Integral Surf Training compreendia sua principal atividade aquática, a big remada, e no solo, musculação e yoga completava a preparação física, sob a coordenação do idealizador Marcello Arias Danucalov, com os professores Adriano Teco, Daniel Cortez, Fábio Matos e Luke Franco. Rodrigo era um aluno fiel e apaixonado, que tinha como colegas profissionais e atletas como Picuruta Salazar, Daniel Miranda, Marcos Quito, Paulo e Eduardo Lichtner.

Em 2003 o treinamento foi interrompido, para finalmente voltar pelas suas mãos em 2006.

Com o aval do mentor, Marcelo Arias Danucalov, o educador físico Rodrigo de Deus, professor de musculação e spinning da Unimonte, fez uma pesquisa para calcular a adesão ao retorno da modalidade. A gratuidade atraiu 28 pessoas para a água no primeiro mês, em janeiro de 2006. Um sucesso! Porém um mês depois, o número caiu pela metade e os 14 pagantes não garantiam a permanência do horário para Rodrigo. Ele entrou como o décimo quinto aluno pagante e cumpriu o pagamento, dando início ao curso.

De lá para cá, muita remada e alguns caldos: a academia da Unimonte virou Krato em 2010, depois a Integral passou para a Fit Santos, AABB, Bola de Neve e finalmente o Brasil Futebol Clube, a partir de 2015.

Rodrigo não parou por aí. O professor que também foi competidor SUP, vice-campeão paulista (2012) e campeão santista (2013), participou e promoveu diversos eventos aquáticos.

Em 2006 ele abriu a categoria longboard na remada do Biathlon solidário. Tempos depois foi a vez do stand up padle fazer parte da competição. Em 2008 um vídeo de uma prova no Havaí foi a chama para seu projeto mais ousado: o Festival da Remada, que é o primeiro festival que reúne diferentes modalidades de remo em um único evento. De 2008 para cá foram 6 edições. O evento já trouxe mais de 370 participantes em uma única edição com mais de 10 modalidades de remo.

Quando estava na faculdade, Rodrigo participou de um concurso interno. O Garoto Unimonte tinha que levar um objeto e formular uma frase sobre ele. Rodrigo levou sua prancha e declarou:

“Minha prancha é meu objeto de prazer, de lazer, que deixa meu corpo e minha mente em
harmonia”.

Aos 48 anos, o jovem que subia nos postes para fazer cabeamento de luz e
acreditava que se aposentaria na Eletropaulo, hoje passa a maior parte do dia na água
iluminando e conscientizando seus alunos para uma vida com o corpo e a mente em harmonia.

Rodrigo tem 48 anos, é casado com Daniela Soares Thibes, mãe de Giuliana Thibes, sua enteada. Juntos, Rodrigo e Daniela são pais de Davi Thibes de Deus, de quatro anos.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal

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