Museu do Surfe de Santos

Terral, o primeiro filme

Conheça a história de Klaus Mitteldorf, diretor do filme filme brasileiro de surfe - o Terral.

Cena do filme Terral, 1975

Filho de um alemão com uma paraibana descendente de suecos, Klaus Mitteldorf nasceu em São Paulo, no dia 23 de junho de 1953. Aos cinco anos, o paulistano conheceu a praia de Santos e se encantou com os hidroaviões que cruzavam os céus e amerissavam nas tranquilas águas da Ponta da Praia até estacionar nas areias.

Aos 12 anos de idade, Klaus ganhou sua primeira câmera fotográfica e com ela registrou os momentos e descobertas da sua juventude ao lado dos amigos. Em 1974, aos 21, ele entrou para a Faculdade de Arquitetura de Mogi das Cruzes. Klaus ainda não tinha definido suas escolhas, mas mirava o seu futuro na estética visual das obras e realizações humanas.

Muito além do conhecimento técnico transmitido no curso de Arquitetura, Klaus descobriu um outro mundo de possibilidades. O universo da faculdade contemplava uma diversidade de pessoas e de pensamentos. Alguns dos seus novos companheiros de classe e de curso eram surfistas, entre eles Miguel Calmon, Carlos Motta, Guilherme Mendes da Rocha e Vaselina da cidade de Santos. Especialmente ao lado de Calmon, Klaus explorou as praias do litoral norte paulista. No fim de 1974 começou a fazer suas primeiras fotos na Praia das Toninhas, Vermelha e Itamambuca em Ubatuba e as do Tombo e do Pernambuco, em Guarujá.

A inspiração de Klaus não vinha das manobras, das ondas ou do surfista em si, mas acima de tudo do estilo de vida do surfe e daquelas pessoas que desenvolviam, no refúgio das praias, uma contracultura da época, baseada em valores naturais e diferentes sensações.

A experiência de Klaus sempre foi visual. Ele ganhou uma câmera Canon – Super 8 e a partir daí passou a fotografar e filmar o cotidiano em volta de si. Nessa época, Klaus e outros surfistas se reuniam em salões de festas ou clubes para assistir aos filmes estrangeiros de surfe. Atento, ele percebeu as novas possibilidades de ângulos e de fotografia embaixo d’água.

Sem perceber Klaus estava trilhando o grande caminho da sua vida, mas foi Calmon quem lhe propôs o desafio de fazer um filme de surfe. Klaus se inspirou na mensagem e aproveitou o ano de 1975 inteiro para filmar tudo o que era relativo ao surfe, desde a praia, moda, hábitos, cultura do surfe e o surfe dentro d’água. Ele não queria um documentário, mas um filme que mostrasse a relação do ser humano com o surfe no embalo de uma envolvente trilha sonora.

Percorrendo as praias de São Paulo, Rio e Espírito Santo, Klaus buscou filmar o surfe, a fluidez das ondas e a integração do surfista com a natureza. O estudante levava para casa o material onde montou uma pequena ilha de edição, e de modo ainda muito artesanal, cortava e aplicava as letras. Ele também obteve algumas dicas nas conversas com o famoso cineasta Jean Manzon, padrasto do seu amigo Gustavo Korte.

No final de 1975, com o filme pronto, Klaus criou um cartaz de divulgação e organizou a venda de ingressos para a exibição em salões de festas. Com a ajuda de amigos o lançamento atraía um público de 100 a 200 pessoas. A experiência caseira acabou virando o primeiro filme brasileiro de surfe: o Terral.

No ano seguinte, o jovem fotógrafo e cineasta comprou uma câmera Beaulieux, mais moderna e com mais recursos, viajou para a África do Sul e em 1978 para o Havaí. Com as novas viagens e filmagens ele acrescentava as novidades ao original.

Em 1982 a TV Cultura convidou Klaus para uma entrevista e promoveu o filme. Os surfistas Cisco Arana e Paulo Issa, e Jean Pierre Projin da Acqua Surfboards, estavam entre os presentes. Aquele evento marcou a primeira transmissão televisiva do Terral. Foi a sua certidão de nascimento para o público nacional. Um marco para a memória do surfe e para a carreira do grande fotógrafo e cineasta Klaus Mitteldorf.

Exit mobile version