Museu do Surfe

Luis Neguinho, o pai do aéreo

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, apresenta história de Luis Neguinho, primeiro brasileiro a dar aéreo nas ondas.

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Luis Otávio Oliveira dos Santos, o Luis Neguinho, nasceu no dia 7 de janeiro de 1962, no Rio de Janeiro. O apelido veio da sua ancestralidade nagô, africanos de origem iorubá, trazidos ao Brasil como escravizados durante a colonização.

O pai, sergipano, trabalhava numa refinaria da Petrobrás, no Rio de Janeiro. Morando na antiga capital federal, Otávio Maciano dos Santos conheceu Terezinha Oliveira. Casados, decidiram pela mudança para a cidade de Santos, quando veio a oportunidade de emprego na Cosipa, companhia que atraiu muitos trabalhadores.

Vivendo em Santos, o surfe literalmente caiu no colo de Luis. Aos sete anos brincando no mar, uma prancha que se desgarrou de um surfista veio parar na sua direção. Ele imitou o movimento mágico e conseguiu ficar de pé na sua primeira onda. Desde então nunca mais parou de surfar.

A sua primeira prancha foi comprada com o custo de muito trabalho da sua mãe. A empregada doméstica economizou muito para comprar uma prancha do shaper Alan Margolis para o filho. Aos nove anos ele surfava no Canal 1 e chamou a atenção de Christian Wolthers da Viking Surfboards, seu primeiro patrocinador de pranchas e ídolo no surfe. Foi também do Christian a inspiração e o primeiro skate que introduziu Neguinho ao novo esporte. Depois de andar na rua ele foi testar a pista da Wave Park, em São Paulo, e lá conheceu o Jun Hashimoto e o Luís Roberto “Formiga”, suas primeiras referências e professores no skate. Eles fizeram um acordo: Neguinho ensinaria a surfar e aprenderia a manobrar o skate.

Cada vez mais envolvido com o surfe, Luis Neguinho seguiu sua trajetória e entrou nos campeonatos profissionais de surfe, em 1979. Aos dezoito anos idade, alistado no Serviço Militar, acabou se afastando do surfe profissional, mas aproveitou a oportunidade e aprimorou suas condições físicas no quartel.

Luis Neguinho deu a volta por cima e em 1982, aos vinte anos e recém saído do Exército, conquistou o Campeonato Brasileiro de Surf, o 1º Festival Olympikus, na Praia da Joaquina, entre os dias 21 e 25 de janeiro. Para chegar ao título, Neguinho bateu os surfistas Cauli, Fernando Bittencourt, Bita e na semifinal Davizinho, considerado outra revelação do campeonato. Em segundo lugar terminou Maurício Orelhinha, outro surfista de expressão de São Vicente.

Além da conquista, o surfista santista, então patrocinado pela Ripwave Surfboards, fechou
patrocínio com as marcas Mormaii, Tropical Brasil e Portobello. Patrocinado pelas empresas
catarinenses, Neguinho fixou residência em Santa Catarina, onde conquistou o Tricampeonato estadual de surfe nos anos 1982, 1983 e 1985, tornando-se uma lenda local.

Paralelamente a sua carreira de surfista profissional, Luis Neguinho também corria campeonatos e era figura presente nas pistas de skate de Santos, São Paulo e São Bernardo. Ele fez parte da cena de skate de Florianópolis, berço dos atuais campeões da modalidade, enquanto era professor de surfe e de skate em Floripa.

No ano de 2004, aos 42 anos, Luis Neguinho voltou a morar em Santos, passando a ministrar aulas de skate e surfe no Quebra-mar. Ele participou por quatro anos da Escola Total. Treinador de vários skatistas campeões como Karen Jones, no skate, e referência no surfe para atletas consagrados como os irmãos Teco e Neco Padaratz, atualmente, aos 62 anos de idade, Luis Neguinho corre o Campeonato de Skate Old School, ocupando a 13ª colocação da categoria no Circuito Brasileiro.

Ele foi o primeiro brasileiro a dar um aéreo nas ondas, em 1982. Motivado pelo Junae Ludvig, campeão brasileiro de skate, Neguinho migrou a manobra do skate para o surfe. Muitos acreditavam que a manobra jamais faria parte do surfe, mas o visionário surfista alertava que um dia os campeonatos seriam decididos pela radicalidade do invento. Hoje, Neguinho é considerado o pai do aéreo.

Luis Neguinho segue surfando no mar e nas pistas de skate, reconhecido e respeitado pela
comunidade do Quebra-mar, da Praça Palmares e pelos diversos picos da região e do país.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.