Milhares de portugueses atravessaram o Atlântico para fazer a vida no Brasil. Seguindo o
destino dos primeiros desbravadores, a família Brito alternou entre Portugal e Brasil em busca de oportunidades e melhores condições de vida.
Antonio Nunes Brito Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 1902 e com um ano foi para Portugal. Depois de uma passagem pelos Estados Unidos, voltou a Portugal, quando então conheceu Margarida Martins de Souza Mendes. Unidos em matrimônio, o casal morou nos Estados Unidos – Antonio era mecânico da Ford, em Detroit -, onde nasceram os filhos gêmeos Maria Raquel e Fernando, em 1941, e depois da mudança para o Brasil, o caçula Antonio Mendes Brito, nascido em São Paulo, no dia 30 de abril de 1954.
Com apenas um ano de idade, por recomendação médica, Brito iniciou na natação. Ele se adaptou rapidamente e aos seis anos de idade, já saía direto do Externato Elvira Brandão, numa travessa da Alameda Jaú, para o Clube Pinheiros. Suas férias eram sempre na praia, ora no Rio de Janeiro (RJ), ora em Santos (SP), onde vivia na avenida Conselheiro Nébias, a tia Gertrudes Mendes, irmã da sua mãe.
O primeiro contato com o mar foi numa dessas viagens para o Rio, na praia de Copacabana, em frente à rua Barão de Ipanema. O pai de Brito construiu uma pranchinha de peito de madeira e Brito vibrava pegando os estourões das pesadas ondas antes da construção do aterro.
Por volta dos 10 anos, Brito descobriu na coleção das revistas Seleções do pai uma reportagem sobre o surfe no Havaí e dois anos depois ele viu, in loco, dois surfistas pegando onda no Arpoador. Era a pilha que Brito precisava para implorar uma prancha de surfe ao pai. No fim daquele ano, ele ganhou uma prancha Glaspac e, no dia 2 de janeiro de 1968, ainda menino, Brito começou a sua trajetória no surfe.
O pai, então, alugou um apartamento no Guarujá (SP) e as férias ganharam uma razão: o surfe. Numa das primeiras quedas, o bico da Glaspac quebrou e o pequeno acidente selou o encontro de Antonio Brito com o destino. O surfista foi até a garagem do Edifício Marulho, do Thyola, para remendar sua prancha e Thyola comentou sobre o desejo de fabricar uma prancha. Juntou a fome com a vontade de comer e Brito se ofereceu para dividir os custos e o trabalho de fabricação.
Brito e Thyola compraram um bloco quadrado de poliuretano e escolheram uma prancha da
revista Surfer. Com serrote, raladores, facas e outros apetrechos, riscaram o modelo em escala aumentada e construíram a primeira prancha, uma 7’4 na garagem da casa de Brito, na rua Desembargador Vicente Penteado 175, em São Paulo. Era o começo da Moby Surfboards.
Um dia, já com pranchas novas da Moby, Brito e Thyola encontraram Carlinhos Motta e o
Alfredo Pimenta. Eles tinham acabado de voltar da Califórnia (EUA) e trouxeram duas pranchas na bagagem. Logo ficaram amigos e combinaram que no dia seguinte, Carlinhos pegaria os dois para conhecer a praia de São Pedro, no Guarujá (SP). Pranchas novas, carro com rack, um Opala azul apelidado de Meddle, épico álbum do Pink Floyd e som da barca, galera do surfe e uma praia selvagem pra desbravar. A vida ganhava um novo sentido para Brito.
Entre 1972 e 1973 a turma de São Paulo entrou em peso na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo de Mogi das Cruzes. Nessa época, o Carlinhos que também fazia a faculdade,
inventou uma surftrip internacional para o Peru. Era a primeira vez que Brito saía do Brasil e a viagem ao Peru foi um marco importante na sua vida. Na volta, a Moby acelerou a produção de pranchas, e uma nova aventura por terra e pelo mar já se desenhava na volta ao país andino com destino à Califórnia.
Em 1974, Antonio Brito saiu em viagem para o Peru, Equador até o Panamá. De lá seguiu por terra para Costa Rica, buscando as melhores ondas da América Central. Essa etapa foi um primeiro passo para a conquista do seu maior sonho: o Havaí.
Brito estava em uma surftrip com outros quatro brasileiros e dois americanos. Durante a
viagem, ele e um dos americanos procuravam por um pico de ondas na Costa Rica, mas em um incidente, o passaporte do gringo se molhou, o que causou um atraso na expedição e o desencontro com o restante do grupo. Quando finalmente chegaram à Califórnia, os amigos brasileiros já haviam retornado ao Brasil.
Determinado a ficar, Brito começou a estudar, trabalhar com música e joalheria para juntar
dinheiro e realizar o seu grande sonho de surfar o Havaí. Naquele início de inverno, em
dezembro de 1975, o mar estava generoso e Brito encarou os seis pés de ondas perfeitas de Pipeline pela primeira vez.
Sonho realizado, Brito voltou para o continente, formou-se em Artes, com especialização em joalheria, pelo Cabrillo College, na Califórnia. Em 1977 retornou ao Havaí e foi morar entre Sunset e Backyards, junto aos irmãos Paulo e Fabrício Uchoa, tornando a casa um reduto de destemidos surfistas brasileiros.
Surfando e tocando bateria na banda Good Vibes com Jimmy Irons no sax, Bob Schaeler na
guitarra, Pat Rawson no piano e Marilou Flute no vocal, Brito se apresentava em diversos
lugares da ilha, entre eles no Waimea Falls Park, no North Shore.
Em 1978, o amigo Thyola passou no Havaí e arrastou Brito para um tour na Austrália e Bali
pela primeira vez. Eles descobriram o surfe na Indonésia quando pouca gente conhecia o
paraíso. De lá, Brito rumou para o Brasil e visitou os pais, antes de voltar ao Havaí, em Kauai, no ano seguinte.
Em 1980 Brito explorou a costa do Brasil e lançou âncora na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte. Ele comprou um terreno, construiu uma casa e ficou morando por lá até 1986. Entre 1986 e 1987 saiu em turnê com o show Mistérios da Amazônia pela Austrália e Indonésia. De volta ao Brasil conheceu e se apaixonou por Itacaré, onde ficou de 1990 até 2003.
Brito é pai de Kalani, fruto do seu casamento com Rosana, dona da casa que abrigou a fábrica da Lightining Bolt no Guarujá. A alma cigana de Brito segue lhe conduzindo para lugares com ondas e natureza. Atualmente na Costa Rica, mas sempre com projetos de novos destinos com boas ondas.
Acompanhe nossas publicações nas redes sociais @museudosurfesantos
Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.