A rebeldia do cabelo fez Zé Augusto ficar conhecido como Cabelinho, Cabelo e, finalmente, Zé Cabelo. Nascido José Augusto Pereira Neto, em 9 de janeiro de 1963, Zé Cabelo fez do surfe seu meio de vida e da sua marca uma das mais conhecidas e respeitadas no Brasil.
O pai, Amaury Pereira, nasceu na interiorana Bebedouro, das águas procuradas por ropeiros e boiadeiros, mas foi em outras águas, a dos mares de Santos (SP), que ele se estabeleceu pelo Banco do Brasil e conheceu Rosely Arcos, esposa e mãe de seus filhos José Augusto, José Luís Gué e Amaury Piu Pereira.
Nascido e criado em Santos, Zé Cabelo frequentou a praia desde pequeno. Em Itanhaém, ele visitava a tia Abigail e em Ubatuba, no litoral norte paulista, se divertiu com seus pais e irmãos mais novos. Aos nove anos ele ganhou sua primeira pranchinha de isopor, da Planonda.
Ele e os irmãos se entusiasmaram com os campeonatos de surfe no Havaí transmitidos pelo programa Esporte Espetacular nas tardes de sábado. Foi a inspiração para construírem as primeiras quilhas de madeira e acrílico e colarem na pranchinha de isopor. Foi o primo, Milton Pereira, o Alemão, quem deu uma prancha antiga e pesada para eles surfarem em Santos.
Da turma do canal 5, Zé Cabelo e o amigo Eduardo Prandi começaram a surfar nas praias mais distantes, às vezes no Itararé, onde encontravam Luis Neguinho e outras fera do surfe. Em 1976, aos 13 anos, comprou sua primeira prancha, uma monoquilha Johnny Rice 7’, que ele mesmo foi buscar na fábrica da praia do Tombo. Outra prancha marcante foi uma HIC, modelo Hans Hedemann, shapeada por Cino Magalhães, comprada na Surf Expo, na Flórida (EUA).
As surftrips começaram aos 16 anos de idade. Ele aproveitava o inverno acampando na Praia Vermelha, em Ubatuba (SP), e os verões nas praias do Sul do Brasil, como as de São Francisco do Sul, Florianópolis, Guarda do Embaú, Garopaba e Laguna, quase sempre acompanhado dos amigos Rinaldo, o Galinha, Fico, Miltão, Caetano, Douglas, Celso e o Cisco Araña.
No Nordeste brasileiro, na companhia de Fico e Rinaldo Galinha, Zé Cabelo conheceu os picos das praias da Regência, do Francês, Pipa, Paracuru, Itacaré, Titanzinho, entre outros. Nas viagens internacionais, os destinos foram a Califórnia, Flórida, México, Havaí, Austrália,
Portugal, Bali e Costa Rica.
Nessa vida dedicada ao surfe, apareceram as oportunidades de negócios. Nos tempos do curso de engenharia da Faculdade Santa Cecília, o amigo Rinaldo Galinha começou a vender produtos da Ocean Pacific e carteiras da marca Fico que ele pegava em São Paulo. A partir daí tiveram a ideia de fabricar mochilas e jaquetas anorak em tecido emborrachado, com a ajuda de dona Rosely que costurou as primeiras delas. Foi um sucesso.
Em 1983, com o impulso das mochilas, Zé Cabelo e Rinaldo Galinha iniciaram a Natural Art.
Em seguida vieram as bermudas e as camisetas com estampas pintadas à mão com pincel. Ele nunca mais parou. Zé Cabelo projetou expandir Natural Art no mundo inteiro e para isso se aproximou de Pete Dooley, fabricante das pranchas Natural Art nos Estados Unidos. Sua proposta era se associar e vender a linha surfwear no mercado internacional. A sociedade com Rinaldo durou até 1987, depois Zé Cabelo teve Paulo Pé como parceiro nos negócios até 1995.
Em 2015, Zé comprou a marca Natural Art de Pete Dooley, unificou a empresa entorno do
mundo do surfe, preparando e patrocinando surfistas e campeonatos amadores e profissionais. O Natural Art Top Dog em Barbados treinava jovens surfistas para as competições mundiais. Em 1997 e 1998, o Natural Art Pro surgiu como uma etapa do Circuito Mundial Profissional do WQS (World Qualifying Series), com premiação de US$ 60 mil (cerca de R$ 350 mil nos dias atuais), na paradisíaca Praia do Francês, em Alagoas.
Por 10 anos (1987 a 1996) o Circuito Natural Art de Surf Amador do Estado de São Paulo
preparou muitos surfistas que se destacariam nas competições profissionais nacionais e internacionais, entre eles o próprio irmão de Zé, Amaury Piu Pereira, um dos pioneiros no
Circuito Mundial, juntamente com Fábio Gouveia e Teco Padaratz.
Os atletas de maior destaque da equipe Natural Art foram Todd Holland, Scott McCranels,
Richard Cram, Pete Mendia, Todd Morcom, Danny Melhado, Piu Pereira, Fe Correa, Paulo
Moura, Joca Junior, Tanio Barreto, Jefferson Silva, Alex Ribeiro, Deivid Silva, Diego Santos,
Aaron Gold e Moacir Freitas. Entre todos, Scott McCranels chegou a Top Five no World Tour.
Em 2005, aos 18 anos de idade, o atleta Natural Art, Jefferson Silva, conquistou o título do Mundial Junior da ISA, em Huntington Beach, Califórnia (EUA). Em 2014, Alex Ribeiro foi coroado campeão do QS da América do Sul e, no ano seguinte, ganhou a etapa do QS em Saquarema (RJ), classificando-se entre os 10 para o CT de 2016.
Zé Cabelo, casado com Regiane e pai de Kauê e Nicoli, continua surfando com o mesmo sonho de antes, comercializando os produtos da Natural Art no Brasil e nos Estados Unidos.
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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.