Museu do Surfe

Odalto de Castro, lenda cearense

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, apresenta história do cearense Odalto de Castro, que também é engenheiro mecânico e responsável por abrir portas para surfe nordestino no país.

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Antônio Odalto Smith Rodrigues de Castro, o tamanho do nome condiz com a extensão da
trajetória desse cearense, nascido em 28 de maio de 1960. O avô materno, médico da
aeronáutica no Rio de Janeiro, foi servir no Recife. O pai, Valzenir Rodriques de Castro, foi
estudar medicina na capital pernambucana e assim encontrou a colega Leda Maria Smith
Rodrigues. Os dois cursaram a faculdade juntos, se casaram e tiveram três filhos.

Odalto era o filho do meio entre duas irmãs, Lissie e Thereza. Leda Maria era neta de Albert James Smith, um inglês que veio ao Brasil para implantação da imprensa oficial. Ele casou com uma carioca oriunda da família Duque Estrada, Antonieta Otília Duque Estrada Meyer de Barros Smith. Dos antepassados da família materna originou-se o bairro do Méier, uma imensa fazenda produtora de açúcar, no século XVIII.

Em 1966, os Castro foram morar na Praia de Iracema, em Fortaleza, e nos anos seguintes Odalto começou a pegar suas primeiras ondas numa pranchinha de isopor da Planondas. O menino estudava no Santo Inácio, instituição católica da capital cearense.

Muito ligado ao esporte e extremamente competitivo, Odalto de Castro começou no judô aos três anos, inspirado pelo pai, faixa preta nos tatames. Odalto também jogou futebol de salão pelo Sumov, time seis vezes campeão brasileiro, considerado a maior força desse esporte no país na época.

Em 1973, Valzenir precisou fazer um tratamento médico em São Paulo e no retorno a família passou pelo Rio para visitar os parentes da mãe. Odalto acabou ganhando sua primeira prancha de surfe, uma Hati vermelha, comprada na loja Sears do bairro de Botafogo. Uma época marcada pela raridade do surfe no Ceará, restrito a uma turma que fazia intercâmbio nos Estados Unidos e traziam de lá suas pranchas. Odalto começou a pegar onda com essa turma, ao lado do primo mais velho, Juninho, no Oi da Pedra, Praia do Náutico, um pico conhecido como Jaqueline.

Aos 15, André Greiser, Odalto e seu primo Juninho, que se tornaria muito conhecido no mundo da música popular como Neo Pi Neo, começaram a fabricar pranchas, orientado pelos surfistas e shapers cariocas, Carlos Mudinho e Duda Ovo Quente, que visitavam o Ceará constantemente levados pela perfeição que os fundos de pedra proporcionavam.

No ano seguinte, ele montou na casa do pai sua própria fábrica de pranchas, a Nortão
Surfboards. Faziam parte da equipe o Zorrinho, Ronaldo Jorge “Negão” e o Pena.

A Nortão é uma das pioneiras na fabricação de prancha do estado do Ceará e formou uma equipe de destaque com Raimundo Cavalcante, Adriano Fonseca, Bene Rodrigues, César Picureia e Joca Júnior.

A Radical Surfboards de Ronaldo Barreto também se destaca pelo pioneirismo na
fabricação de pranchas e no desenvolvimento regional do surfe. Nessa época, Odalto
aproveitava o meio do ano (verão no Ceará) para viajar até Saquarema, onde ficava na casa do Mudinho.

Em 1978 foi um dos primeiros a surfar Fernando de Noronha. Mesmo sem nenhum relato sobre picos de surfe na ilha, Odalto, Fedoca (fotógrafo dos seus melhores momentos e grande parceiro no futebol e no surfe) e Franklin pegaram um grande swell nas praias do Boldró, Conceição e descobriram no meio, Abrás, um pico com fundo de pedra. No ano seguinte, Odalto aproveitou o conhecimento de Perdigão pelos picos mexicanos e fez uma surftrip pela América do Norte e Central.

Em 1980, Odalto trancou a matrícula de engenharia mecânica na Unifor e foi para Oahu.
Roberto Lima (de Floripa) esperava o jovem Odalto e juntos fizeram uma temporada muito proveitosa, que rendeu uma icônica foto de capa na Surfing, a primeira de um surfista brasileiro numa revista estrangeira, publicada em janeiro de 1982.

Na volta, Odalto de Castro fundou a Associação de Surf do Ceará, que passou a realizar os
campeonatos em Fortaleza. Nos primeiros eventos, promovidos pelo Jornal O Povo, Odalto
conquistou o Setembro Surf (1981) e a vice colocação no Summer Time Surf, ganhando uma passagem para o Havaí, sua segunda temporada.

No arquipélago havaiano, o brasileiro também fez fama no futebol, o que rendeu um fato
pitoresco. Ele formou no time da Lightining Bolt, que treinava na Sunset School. O manager da marca, Fat Paul, sabendo da habilidade dos brasileiros, escalava Odalto e Fred Ansley, entre outros.

Fredão, um cara grande, se engraçou com uma havaiana linda e não queria mais voltar
pro Rio. O pai, o Coronel Onaldo, um paraibano que fez a vida como oficial no Rio de Janeiro, foi busca-lo. A viagem trouxe outro resultado. O coronel parrudo acabou escalado na quarta zaga do time e estendeu ainda mais a temporada havaiana do filho.

Odalto resolveu respirar outros ares e se profissionalizou fora da água. Ele se formou em
engenharia mecânica e se especializou em engenharia de irrigação. Depois comprou terras no sul do Piauí, lugar com muita água e clima propício para produção de frutas tropicais.

Afastado do surfe, durante 15 anos ele se dedicou ao setor agrícola e formou sua família.

Ao voltar ao Ceará, retomou ao mar, viajou para o Peru e Indonésia, fundou a Associação de Surf Master do Ceará, quando organizou o Circuito Master abrangendo surfistas da região Nordeste.

Em 2012 Odalto de Castro foi campeão do Circuito Brasileiro de Surf Master, conquistando a vaga para o Grand Kahuna, o Mundial Master da ISA na Nicarágua, onde terminou em quinto lugar e em terceiro por equipe, ao lado de Júnior Maciel, Jojó de Olivença, Cardoso Júnior, Sérgio Noronha e Gabriel Macedo.

Odalto de Castro, surfista que abriu as portas para o surfe nordestino no Brasil e no mundo, vive hoje no Ceará com sua esposa, Renata Lima de Castro. Seu filho André seguiu os passos dos avós e é oftalmologista. Já Eduardo, o mais novo, é procurador do Estado do Paraná. Os dois são grandes judocas, faixas pretas multicampeões nacionais e internacionais.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal