A viagem ao Rio de Janeiro, em 1970, rendeu a Reinaldo Andraus sua sonhada prancha
São Conrado e o apelido que o tornaria conhecido no mundo do surfe.
A trajetória do nome começou com um desenho de leão, signo que lhe rege. Ele e sua mãe vasculharam a Enciclopédia Britânica e encontraram numa página dupla, os brasões da realeza do Reino Unido.
Dona Marina usou um pantógrafo para contornar o leão rampante, ampliou para o papel
vegetal e pintou com tinta nanquim. O desenho foi entregue para o Coronel Parreiras
estampar a nova prancha. Com a Surfboards São Conrado e a forma estilizada do
desenho, Reinaldo virou Dragão.
Ele é o segundo dos três filhos do casal, os primos de primeiro grau Marina Petrella e
René Andraus. Nascido em 24 de julho de 1956, Reinaldo Dragão descende de italianos
e libaneses, povos antigos que dominaram a navegação no mediterrâneo.
Sua aproximação com o mar paulista vem da forte ligação da família paterna com as
cidades da Baixada Santista. Os irmãos Andraus, René, Roberto e Raul, fundaram a
Ocian (Organização Construtora e Incorporadora Andraus), responsável pela
canalização de água e iluminação elétrica na Cidade Ocian, região distante da Praia
Grande, ainda pertencente à cidade de São Vicente, nos fins dos anos 1950.
O pioneirismo levou o tio Roberto Andraus a concorrer e vencer a disputa à prefeitura
de São Vicente, enquanto a Ocian erguia prédios na orla da praia de Santos, utilizando o
sistema de sapatas.
Foi num desses prédios, o Edifício Santa Therezinha, na praia do Embaré, que a família
escolheu seu apartamento e passava os finais de semana e feriados. Reinaldo teve seu
primeiro contato com a praia, aprendeu a pegar onda de peito e ganhou a intimidade
com o mar.
Na capital, Reinaldo estudava no Colégio Santo Américo, instituição de ensino dirigida
por padres húngaros, no Morumbi. Ele formou nas seleções de basquete e vôlei do
colégio, mas sua alma já era de surfista. Nas aulas, Reinaldo desenhava ondas e se
projetava para fora da sala com o surfe em pensamento.
Em 1967 os pais venderam o apê no Edifício Santa Therezinha e compraram no Vila
Rica, em frente a Ilha Pombeva, na praia de Pitangueiras, Guarujá. Ali, os surfistas e
competições saltavam aos olhos, despontando os primeiros campeonatos de surfe do
estado de São Paulo, organizados pelo Clube da Orla.
Nessa época foi lançado o filme Alegria de Verão (Endless Summer) no Conjunto
Nacional da Avenida Paulista e sua vida mudou. Aos onze anos e três sessões de cinema
depois, descobriu que o surfe faria parte da sua vida para sempre. Ele acompanhou com
as exibições no Cine Praiano, em Guarujá, e Roxy, em Santos.
Reinaldo ganhou sua primeira prancha, uma Glaspac MK3, comprada na Fiberglass
Center em 1969, mas foi a São Conrado do Dragão sua prancha mais marcante, seguida
pela monoquilha Lightning Bolt, shapeada por Tom Parrish e laminada pelo brasileiro
Paulão Uchoa, em Sunset. Com ela, Reinaldo saiu numa icônica foto de Klaus
Mitteldorf, em página dupla na histórica reportagem da Brasil Surf, intitulada Paulistas
no Havaí, em 1978.
Do Guarujá, Reinaldo desbravou as praias do Litoral Norte, atravessando as pontes de
madeira, estradas de terra e pelas areias das praias de Bertioga, São Lourenço, Itaguaré,
Guaratuba e Boracéia. A descoberta de Maresias foi um sonho. Sozinho ou com os
amigos Egas Atanazio, Alex Dumont, Thyola, Madinho Chiarella, Dany Boi e Sidão, as
surftrips marcaram uma época de aventuras.
Em 1974 conheceu Imbituba e Saquarema, picos de ondas grandes no Brasil. Foi um
prelúdio para as viagens internacionais: Peru, em 1975, com Marcelo Magoo e Sérgio
Richer; North Shore, Havaí, com Paolo Zanotto e Sidão Tenucci; Indonésia, em 1980,
no segundo grupo de brasileiros que surfaram Nias.
Reinaldo competiu no Festival Luau Lightning Bolt, no Guarujá e no primeiro Festival
Brasileiro, em Ubatuba, 1972. Anos mais tarde passou a disputar as categorias Master e
Longboard, alcançando a sétima posição na Abrasa e sempre entre as 20 melhores na
Abrasp.
Em 1994 venceu as categorias Sênior e Master do Festival Toads, na Praia do
Pernambuco. Porém a contribuição de Dragão vai além do que ele fez no mar. Ele é
hoje um dos maiores historiadores de surfe do Brasil e talvez do mundo.
Em 1985, começou no jornalismo de surfe da TV Band, foi editor nas revistas Fluir de
1986 a 1990 e Hardcore até 2002; colaborador na Alma Surf, Venice Mag, Tracks, The
Surfer’s Journal e TSJ Brasil. Especialista em Marketing e Finanças pela Fundação
Getúlio Vargas, Reinaldo ainda trabalhou como coordenador de marketing na
Quiksilver (1996-98) e na HD (2010-12).
Seu maior legado para o mundo do surfe está em andamento. O primeiro livro da
coleção Grande História do Surf Brasileiro já foi lançado. A obra será o maior registro
da história do surfe nacional, com fotos, entrevistas e histórias, muitas histórias.
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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal