Museu do Surfe

Taiu na onda do espírito

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, celebra Taiu Bueno, grande nome do surfe brasileiro e inspiração para legião de surfistas.

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O apelido que eternizaria o surfista partiu do irmão mais velho, o Totó, que tinha dificuldade em pronunciar o rebuscado nome Octaviano Augusto Campos Bueno. Surgiu Taiu, um chamado curto para um gigante do mar.

Nascido em 1 de dezembro de 1962, Taiu tinha tudo para ser um menino com hábitos da terra. Seu pai, criado no interior do estado, tinha uma fazenda e jogava pólo. Vivendo em São Paulo, os irmãos acompanhavam o pai nos jogos da Hípica Santo Amaro. Dessa experiência, o jovem espectador aprendeu a força, a destreza e a imensa competitividade dos jogos com cavalos.

Em 1972 o pai resolveu vender a fazenda e levou os meninos pra praia. O avô, Sylvio de Campos Filho, tinha um apartamento no Guarujá, onde os primos Dario e Guto já pegavam onda. Dois anos antes, Taiu tinha visto o surfe pela primeira vez nas revistas dos primos e já se imaginava pegando um tubo. Guto foi quem mais lhe influenciou e o avô o seu maior incentivador no surfe. Foi ele quem presenteou Taiu com as passagens aéreas para viajar o mundo em busca das melhores ondas.

Taiu começou a dropar suas primeiras ondas com uma pranchinha de isopor da marca Guarujá. Na temporada de verão seguinte, entre 1974 e 1975 ele encomendou sua primeira prancha, uma Miçairi, da logomarca de uma meia lua com uma estrela, mas Taiu queria o desenho de um raio.

A prancha acabou saindo com o raio estilizado e a estrela no meio, na mesma época em que a Lightning Bolt e seu raio flamejante despontava no Guarujá. Quando Taiu chegou ao outside pela primeira vez, ficou deslumbrando com o ambiente. Ele admirava os surfistas da época, como Paulo Zanoto, Paulo Tendas, entre outros. Ele sabia que aquele era o seu lugar e logo sua estrela começou a brilhar. Taiu tornaria-se um dos principais big riders do mundo nas décadas seguintes, e chegou a ocupar o sétimo lugar no Pro Class Trials, em 1983, no Havaí. Em 1984 sagrou-se campeão do brasileiro profissional de Ubatuba, litoral norte de São Paulo.

Em 1991, num grave acidente sofrido na Praia de Paúba, litoral norte paulista, Taiu lesionou a medula espinhal. Após um período hospitalizado e um longo processo de reabilitação, Taiu, na condição de tetraplégico, continuou ligado ao esporte, atuando como locutor e comentarista em eventos de surfe. O surfista que acumulou grandes patrocinadores ao longo de sua carreira, como a Stanley, Star Point, Shine e Summer Birds, ganhou o apoio e o patrocínio da Hang Loose após o acidente.

Fundador e presidente da ONG SMF (Sociedade Mais Forte), Taiu criou, em 2010, a ONG Sociedade Mais Forte, que promove a inclusão social de pessoas com deficiência por meio do surfe adaptado, no Guarujá, cidade que escolheu viver ao lado da esposa Diana e das filhas gêmeas Mariana e Isabela.

Taiu faleceu no último domingo (8), aos 62 anos recém completados. Sua resiliência e amor pelo surfe tornaram-se inspiração para uma legião de surfistas. Para Taiu o surfe foi sua fonte de vida.

O livro autobiográfico Taiu na Onda do Espírito foi publicado pela Editora Gaia, em 2015, e
conta sua trajetória de vida. Boas ondas ao Surfista Guerreiro!

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.