Museu do Surfe

A lenda de Zeca de Guaratiba

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, apresenta história Zeca de Guaratiba, shaper e desbravador das praias mais distantes do Rio de Janeiro (RJ) na década de 60.

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Em 1950, Lourenço Martino natural do interior do estado de São Paulo encontrou na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, a jovem Leda Silva, e assim começaram um relacionamento.

Filho único do casal, José Eduardo da Silva Martino nasceria em 8 de abril de 1952. Quando era pequeno, José Eduardo ouvia atentamente as aventuras vividas pelo pai, um jovem marinheiro que atravessou o oceano até a Itália em plena Segunda Guerra Mundial. Essas histórias provocaram a sua curiosidade e o encantamento com o mar. Logo aos seis anos, morando em Copacabana, começou a pegar onda de peito com uma pranchinha de madeira da Oceania.

Por volta da 1963, o surfe avançou no Arpoador. José Eduardo, o Zeca, via a galera pegando onda de pé e achou aquilo fantástico. Sem dinheiro para uma prancha moderna, importada, ele comprou uma prancha de madeira de jatobá, feita na avenida Francisco Octaviano. Dois anos depois ele conquistaria a sua sonhada Surfboards São Conrado.

Naquele início, Zeca desbravou as praias mais distantes do Rio, como a Restinga da Marambaia e a Praia da Macumba, onde costumava acampar com os amigos Boca, Bira, Riba, Zelão e Sérgio Monstro. Morando em Guaratiba, Zeca percebeu a sincronia entre as praias da Marambaia, do Grumari e do canal de Guaratiba: pelo movimento da maré e da entrada da ondulação, sempre um dos três picos estava bom para o surfe.

Envolvido cada vez mais com o mundo do surfe, Zeca abandonou a escola e passou a alternar seus dias entre o surfe e a fabricação de pranchas. José Eduardo Martino assinou suas primeiras pranchas como Zeca Guaratiba, em razão do lugar que passou a morar, e assim se tornou conhecido no universo do surfe.

Nessa época, a galera do Rio descobriu novos picos pelo Brasil. Zeca chegou a trocar seu Fusca zero com a Kombi do Tito Rosemberg, preparada por ele para correr as Américas. Com ela, Zeca ia para o Sul, surfava e vendia suas pranchas, criando um intercâmbio cultural e comercial.

Em 1974 a Kombi se transformou no capital necessário para empreender sua viagem ao Havaí. Na volta Zeca se espelhou no amigo que tinha dado uma volta ao mundo num barco a vela. Ele começou a batalha para ter seu próprio barco e, a partir de 1986, começou a velejar. Com o barco, Zeca subiu toda a costa do Brasil, foi para o Caribe, onde passou um tempo. Depois conheceu o Atol das Rocas. Atraído pelo lugar, fundou sua empresa há 35 anos e realizou mais de 700 viagens para o Atol, por meio da parceria com o ICMBio.

Zeca nunca gostou de competir. Para ele a sua essência estava no surfe livre. Hoje, aos 73 anos, se afastou do surfe, mas o mar continua presente no coração e o corpo está sempre molhado de água salgada. Zeca é casado com Lúcia há mais de 40 anos, e pai de Nicholas e de Thiago Mariano, também surfista e shaper.

Obs: O surfe perdeu um dos seus pioneiros. Bento Xavier, ícone dos primórdios do surfe carioca e um dos primeiros desbravadores das ondas de Imbituba (SC), partiu na última semana para surfar as ondas no céu.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.