Museu do Surfe

Silvério e os 700 campeonatos

Coluna Museu do Surfe presta homenagem ao dirigente Silvio da Silva, mais conhecido como Silvério, responsável pela organização de mais de 700 campeonatos em sua trajetória.

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Praia da Divisa, 1975, um dos 700 campeonatos com participação de Silvio da Silva, o Silvério.

Silvério desenvolveu a habilidade manual e a sensibilidade estética ao imitar as letras e os números que o pai escrevia nos jogos do bicho. Filho de Suzete e do bicheiro José Pereira da Silva, Silvério nasceu Silvio da Silva, no dia 22 de dezembro de 1957, na Casa de Saúde de Santos.

A família morava no Canal 6, na avenida Joaquim Montenegro 348, mas foi na mudança para a Carvalho de Mendonça que a sua vida se transformou. Em 1968, aos 11 anos, Silvério conheceu Maurício Babão e Décio Dias Lima, vizinhos de bairro. Foi Décio quem vendeu sua primeira prancha, uma madeirite da Procópio, e, na companhia de Maurício, Silvério caminhava até a praia para pegar suas primeiras ondas.

Na famosa Vilinha, na Particular Alfredo Ximenez, novo endereço e mais amigos surfistas. Em 1970, ele comprou uma prancha oca do Homero, quando conheceu Marcelo Fukuda e Cisco Araña.

Naquele início de década, Silvério tinha como inspiração os surfistas Victor Catatau, Luiz Zé, Julinho Mazzei, Hélio Marques e Toninho Cabeleira.

Em 1972, Silvério, conhecido na época como Formiga, produziu pranchas em parceria com Jorge Limoeiro, na casa da avó de Limoeiro. A marca Condor Surfboards não prosperou. No ano de 1976, ele volta para seu bairro de origem, a Ponta da Praia.

Dirigente Silvério, último da direita, em Juqueí, São Sebastião (SP).

Vizinho de Pestana e de Décio, Silvério formaria na turma de jovens surfistas que se reunia na casa-oficina da Valdolândia, frequentada pelo Valdo e seu irmão Rosinha, Juarez, Carlão Raposa, Black do Canal 6, entre outros.

Durante a década de 1970, Silvério atravessava de bike a orla da praia até o Canal 1 para pegar onda, enquanto os motoristas, revoltados, gritavam “vai trabalhar, vagabundo”, reação típica de uma época marcada pelo preconceito e intolerância.

O tal “vagabundo” se tornaria em algumas décadas o maior promotor de eventos ligados ao esporte, superando a marca de 700 campeonatos de surfe na carreira.

Em 1982, despertou o talento de Silvério na organização de eventos. Ele ajudou na soma dos pontos e no espelho das baterias dos dois Campeonatos de Surf Universitário promovidos pela ASS, nas Praia do Pernambuco e Pitangueiras, no Guarujá. Começava ali uma trajetória marcada pelo sucesso.

Silvério participou da fundação da ASBS (Associação de Surf da Baixada Santista) em 1984, criada com o objetivo de promover eventos de surfe amador, numa época em que prevalecia apenas as associações profissionais. A primeira diretoria foi formada por Bukão, Silvério, Bill, Gersão Carife e Flavinho, responsáveis pelo Circuito Estadual de Surf Amador com patrocínio da Natural Art.

Em 1987 Luiz Sala, o Feio, apresentou Silvério ao Alfio Lagnado e a partir daí, Silvério assumiu a organização da etapa do Campeonato Mundial, o Hang Loose Pro Contest, além do Circuito Estadual Amador, o Hang Loose Surf Attack (até hoje).

Em 2010 Silvério foi eleito presidente da Federação Paulista de Surf, entidade que dirigiu até 2020. Ele também participou da fundação da Confederação Brasileira de Surf em 1998, da organização do ISA Games no Brasil em 2010, em Maracaipe, Pernambuco, e na edição de 2015, em Maresias, litoral de São Paulo.

A presença nos campeonatos permitiu acompanhar e admirar grandes nomes do surfe mundial. Os melhores surfistas que ele viu surfar em suas devidas épocas foram: Tinguinha Lima, Picuruta Salazar, Joca Jr, Renato Wanderley, Danilo Costa, Peterson Rosa, Gabriel Medina e Filipe Toledo.

Silvério sempre se destacou e influenciou de forma direta e decisiva para a evolução do surfe no Brasil. Sua capacidade de gerenciar eventos é reconhecida pelos surfistas e companheiros, entre eles Geraldinho Cavalcante, presidente da Federação Pernambucana de Surf. A excelência na condução dos eventos conquistou a credibilidade e o apoio de empresários e patrocinadores.

Parte das conquistas paulistas nos campeonatos nacionais e internacionais é mérito da persistência e da coragem de Silvério, um dos maiores organizadores de eventos de surfe em todo o mundo, legítimo representante do Brasil, país líder em tecnologia da informação aplicada ao surfe e no fomento de um corpo técnico altamente capacitado para conduzir os principais campeonatos mundiais da modalidade.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal