Neste mês de dezembro Italo Ferreira foi campeão do Championship Tour em uma final histórica contra Gabriel Medina em Pipeline, a Meca do surfe mundial. Esta noticia colocou qualquer surfista brasileiro, e simpatizantes, em êxtase!
Mas outra constatação, menos divulgada, e que este texto serve pra mostrar, é que por trás deste sucesso existe um trabalho que remonta há duas décadas.
O ano era 1998, e a medicina esportiva era basicamente direcionada ao futebol, enquanto surfistas e técnicos tinham em mente que, para surfar bem, os atletas tinham que estar no mar surfando – e nada mais.
Neste momento, eu e nomes como Dr. Joel Steinman, Dr. David Szpilman e Dra. Maria Lucia Contreras passamos a introduzir conceitos desta medicina à comunidade do surfe, o que passamos a chamar de Medicina do Surfe.
A Medicina do Surfe era basicamente um acompanhamento médico periódico, com orientações personalizadas aos atletas nas áreas de Saúde Geral, Nutrição, Treinamento físico e Aspectos Psicológicos. Insistimos que se o atleta quisesse atingir o seu topo no surfe, ele precisaria muito mais que somente surfar.
Foram diversos simpósios, cursos, encontros, trabalhos científicos que marcaram a forma de divulgação dos conceitos, e que influenciaram muitos outros profissionais de saúde como Prof. Alexandre Zeni, Dr. Franz Burini, Dr. Guilherme Vieira Lima, Hygor Siqueira, Allan Menache, Eduardo Takeuchi, os profissionais da Aktion Paz no Sul e os amigos do nordeste que hoje se dedicam cuidar de surfistas.
Houve muita resistência no início, mas muitos entenderam que, para se superarem, teriam que adotar diferentes hábitos para melhorar. E assim foi… O primeiro resultado foi um honroso terceiro lugar, com direito a 10 unânime de Renan Rocha em Pipeline. O feito foi seguido de diversos outros, como a onda “Giant Killer” de Danilo Costa em Teahupoo, e muitos mais.
Essa geração mostrou que sim, a Medicina do Surfe tinha muito a colaborar para o surfe brasileiro. E isso influenciou uma geração inteira, inclusive seus técnicos, sendo a personificação de todos esses conceitos Adriano de Souza, o Mineirinho, que por sua vez influenciou um número ainda maior de garotos e garotas.
Até que o fenômeno Gabriel Medina, que aliado aos conceitos e muita técnica, ultrapassa a barreira e se torna campeão mundial de surfe, e depois bicampeão.
Hoje é um dia que posso dizer que a Medicina do Surfe, genuinamente brasileira, também está em êxtase. São quatro campeonatos mundiais com três diferentes pacientes, três Pipe Masters e em 2020 serão seis atletas dos 11 brasileiros no CT, acompanhados por nós, além das Olimpíadas, claro.
Parabéns aos muitos médicos, nutricionistas, psicólogos e treinadores ligados ao surfe que hoje devem se sentir honrados e felizes por proporcionar tamanha alegria aos brasileiros. A Medicina do Surfe, do Brasil, é campeã mundial.
PS: Dando continuidade a essa história em 2020 teremos o VI Simpósio de Medicina do Surfe, além do Prêmio SID, voltado aos trabalhos acadêmicos na área.
Dr. Marcelo Baboghluian é diretor clínico do Instituto Marazul, especialista em medicina esportiva, co-fundador do aplicativo SID e colaborador do Waves há muitos anos.
