No dia 29 de abril, uma quinta-feira pela manhã, o mega empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann recebeu a equipe do Museu do Surfe de Santos para um bate-papo exclusivo numa plataforma digital. Dentre outros temas, ele nos contou um pouco sobre a sua trajetória no universo das ondas, principalmente na década de 1950. Confira a seguir um resumo da nossa conversa, que preparamos especialmente para os leitores do Waves, com os temas relacionados ao surfe.
O brasileiro, filho de suíços, que vive em Genebra e continua fazendo história no mundo dos negócios, foi um dos pioneiros do surfe no país e um dos melhores tenistas de sua geração.
Jorge Paulo Lemann, o Jorge Americano, nasceu em 1939, ano em que a Segunda Guerra Mundial foi deflagrada. Ao final do maior conflito da história, a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, viveu um período de forte transformação cultural.
O clima das praias cariocas era convidativo e os viajantes uma atração. Certa vez um piloto da PanAm desfilou com uma prancha importada sob os olhares encantados das pessoas.
O surfe era desconhecido e o mistério estava mesmo no fundo do oceano. A pesca submarina e o mergulho eram os passatempos preferidos dos locais. Foi nesse cenário de euforia e otimismo que Jorge Paulo, filho de pais suíços, passou a infância e a juventude.
Na década de 1950, a diversão na praia era pegar jacaré. Os garotos se lançavam sobre as ondas de peito ou com tabuinhas para surfar deitado. A ousadia era descer de joelhos sobre a prancha e o desafio era ver quem conseguia girar o corpo mais vezes numa mesma onda.
Foi num dia de ondas grandes que o Arpoador viu pela primeira vez um surfista pegar onda de pé. Era o Paulo Preguiça. Sua tábua, um pouco maior e sem quilha, foi apelidada de Porta de Igreja. Preguiça desceu reto, de braços abertos e pés juntos. Parecia o reflexo da imagem da estátua do Cristo Redentor deslizando sobre as águas do mar.
A vontade de surfar daquele jeito perseguiu os cariocas. Os amigos Jorge Lemann e Gilberto Laport começaram a ver filmes do Havaí, mas não tinham acesso às pranchas modernas. A inovação foi fazer uma curvatura no bico e aprender a ficar de pé. Nas mãos de Luís Bisão, as tábuas de compensado ganharam forma e quilha.
Para entrar na onda só com pé de pato. O impulso era maior e dava pra pegar no lugar certo. As ondas seguiam sempre para a esquerda das pedras do Arpoador e o objetivo era chegar mais longe. A competição usava os prédios da orla como referência. Eventualmente os surfistas iam para a Praia do Diabo. Lemann, Laport, Paulo Bebiano e Arduíno se destacaram no surfe e tornaram-se os reis do Pontão do Arpoador. O lugar também tinha suas musas, como Iracema Etz, e as primeiras rainhas do surfe, Maria Helena, Fernanda Guerra e Heliana Oliveira.
Nos dias de ressaca eles iam para o meio de Copacabana, mas lá na praia famosa as ondas eram maiores, mais velozes e sempre quebravam sobre um banco de areia. Era uma luta pela sobrevivência. O risco e a imprevisibilidade do surfe iriam se mostrar promissores na futura carreira de Jorge Paulo Lemann.
O menino do Rio surfou dos 14 aos 18 anos. Tenista de competição, Jorge foi estudar no exterior e disputou grandes torneios internacionais. Quando voltou, o surfe já tinha avançado muito e as quedas na água foram ficando cada vez mais raras.
O sucesso no mundo dos negócios não afastou Jorge da paixão pelo mar. Afinal foi da vida livre e da cultura de praia que nasceu um dos mais notáveis empresários do Brasil e do mundo.